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Legado argelino na arte de atuar

Reda Kateb, parisiense descendente de escritores da Argélia, firma seu nome entre os astros da França

Divulgação -
Reda Kateb no thriller policial 'Frères ennemis' - a herança argelina num dos mais disputados atores da França
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PARIS - Pátria de galãs como Alain Delon e Jean-Paul Belmond, terra de mitos da interpretação como Gérard Depardieu e Jean-Louis Trintignant, a França tem hoje, entre seus astros com maior prestígio, seja no gosto do público ou na aprovação da crítica, um rosto marcado pela herança cultural argelina: Reda Kateb. Há cerca de uma década, desde que chamou atenção como coadjuvante em “O profeta” (2009), de Jacques Audiard, este parisiense de 42 anos, parente de dois grandes escritores da Argélia (Kateb Yacine e Mustapha Kateb), vem se estabelecendo como um dos atores mais prolíficos do cinema em seu país. Acaba de rodar o que promete ser o sucesso do ano no país: “Hors norme”, de Olivier Nakache e Éric Toledano (a dupla por trás do fenômeno “Intocáveis”, 2011), no papel de um professor de crianças autistas. Mas há um outro longa-metragem, elogiadíssimo no último Festival de Veneza e ainda inédito no Brasil, pelo qual Reda anda arrancando elogios em toda a Europa: “Frères ennemies”. É para ajudar este thriller policial a ganhar o mundo que ele aceitou dar uma pausa em sua concorrida agenda de filmagem, e dar um pulo no Hotel Le Collectionneur, onde acontece, desde quinta, a 21ª edição do Rendez-vous Avec Le Cinéma Français.

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Reda Kateb no thriller policial 'Frères ennemis' - a herança argelina num dos mais disputados atores da França (Foto: Divulgação)

“Não acredito que vivemos um tempo com carência de heróis. Nossa carência é outra, é de humanidade, na fraqueza e no risco, o que marca esse filme”, diz Kateb, um dos nomes mais concorridos entre os quase cem artistas convidados para o evento anual da Unifrance, a instituição responsável pela promoção internacional do audiovisual francês.

Há 75 filmes no Rendez-vous e “Le frères ennemies” é o que melhor representa a tradição da França nas veredas da narrativa investigativa de polícia e bandido. A direção é de David Oelhoffen, que, quatro anos depois do sucesso “Longe dos homens”, reafirma sua natureza autoral: sua obra se debruça sobre a a lealdade em situações de conflito. Na trama, Kateb é um policial de origem árabe obrigado a interceptar as ações de um amigo de juventude que se desvirtuou diante da sedução do crime: um papel confiado ao belga Matthias Schoenaerts. As cenas de perseguição são dignas de um “Velozes & furiosos”.

“Não me interesso por virtuosismos e sim por figuras que representam alguma centelha de resistência, moral ou física. Aqui, temos uma história de quase irmãos que resistem aos ímpetos do afeto em nome do dever”, disse Reda, que arrancou aplausos no Festival de Berlim, há dois anos, à frente de “Django”, a cinebiografia do guitarrista franco-belga de raízes ciganas Django Reinhardt (1910-1953), até hoje inédita em circuito comercial brasileiro. “Esse foi um filme transformador, ao reviver a jornada de um artista cheio de egoísmos que aprende a se imolar pelo próximo em prol da liberdade.

Em uma aposta radical na diversidade, o Rendez-Vous Avec Le Cinéma Français abriu as portas até para um campeão de bilheteria de décadas passadas, que ajudou a fazer do cinema de ação dos anos 1980 e 90 um fetiche na TV, no VHS e nas mais variadas mídias: Jean-Claude Van Damme. Sucesso no Brasil, onde esteve várias vezes, tendo participado do programa de Gugu Liberato no SBT e paquerado a Xuxa nos tempos em que esta era apresentadora na Globo, o grande dragão belga revitalizou sua imagem, há cerca de dois anos, pelas vias dos canais de streaming da internet, com a série “Jean-Claude Van Johnson”. Mas, agora, ele quer recuperar seu prestígio no circuito exibidor, com um drama que explora suas habilidades de kickboxer: “Lukas”, ou, em inglês, “The bouncer”. É a saga de um segurança de boate, que apela para a força bruta para sustentar sua filha. Uma noite, a polícia exige que ele empenhe ajude em uma investigação, infiltrando-se no submundo. “Passei anos nas mãos de produtores classe B que destruíram a minha imagem. É hora de melhorar”, diz Van Damme.

O Rendez-vous Avec Le Cinéma Français segue até segunda-feira, mobiliando estrelas como Juliette Binoche (representada aqui com a ficção científica “High life”), Omar Sy (astro do fenômeno popular “Intocáveis”, de volta aqui com “Le flic de Belleville”) e Vincent Cassel (protagonista do sucesso francês do momento: “L’empereur de Paris”). Neste sábado a Unifrance promove um concerto de trilhas sonoras lendárias, selecionadas pelo diretor Bertrand Tavernier (“Por volta da meia-noite”) e executadas pela Orquestra Nacional, no Auditório da Radio France.

*Roteirista e crítico de cinema

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