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Crítica - Cafarnaum: Pequeno grande homem

Divulgação -
Zain Al Rafeea, o coração e a força de Cafarnaum
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A flor Nadine Labaki nasceu, enfim. Depois de dois longas-metragens superficiais ao tratar seu entorno, a cineasta libanesa foi parar na competição principal de Cannes com um longa que atesta um claro amadurecimento de linguagem, proposta e construção imagética. Não há mais o fascínio pelo exotismo local, nem um olhar externalizado sobre os seres em cena. Finalmente Nadine vai além de vender sua cultura pra gringo e abraça seus personagens sem paternalismo, o contrário disso até; há uma puxada para si nas ações que o protagonista Zain encabeça, sem se submeter ou melindrar. Zain é o senhor da ação e controla o fluxo dos acontecimentos.

Macaque in the trees
Zain Al Rafeea, o coração e a força de Cafarnaum (Foto: Divulgação)

Tudo estaria dentro da normalidade, não tivesse o protagonista 12 anos e vivesse à margem da delinquência, em estado de pobreza extrema, numa casa com inúmeros irmãos menores e um casal de malandros como pais. Zain é o pilar de sustentação de um grupo prestes a ruir pela “venda” de uma das filhas, que o fará quebrar a corrente da exploração, em busca de subsídios para salvar a irmã e ser livre daquela espiral de horror. Zain não é um pequeno adulto, mas uma criança carregada e imbuída de obrigações que a transmutaram, mas não a fizeram perder a inocência, mesmo com tanta revolta.

Ágil na maior parte de sua duração, o ponto contra do projeto é uma tentativa (ainda que válida) de abordar o tanto de temas que a narrativa fornece, em tempo recorde. Trabalho infantil, miséria institucional, imigração, pedofilia, tudo isso e muito mais desembocam num surpreendente ambiente tribunal que provoca com seus questionamentos. Intenso, pungente, tecnicamente impecável e capaz de fugir da apelação mais óbvia, “Cafarnaum” é um belo filme de renascimento de uma diretora, conduzido pela força da interpretação do pequeno grande Zain Al Rafeea, daqueles destinados a serem lembrados no futuro. 

Bom - ***