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Crítica - 'Temporada': Muito além do afeto

Divulgação -
Juliana, Russão e Hélio: gente como a gente em "Temporada", que é dirigido por André Novais Oliveira
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De repente, Minas Gerais virou um polo expressivo do cinema nacional. Por três anos consecutivos, eles saíram com o prêmio máximo do Festival de Brasília, sendo que o terceiro é o belíssimo filme que estreia hoje, dirigido por André Novais Oliveira (os anteriores foram os igualmente incríveis “A cidade onde envelheço”, de Marília Rocha, e “Arábia”, de Affonso Uchoa e João Dumans). André é um dos sócios da Filmes de Plástico, produtora local que busca uma expressiva naturalidade corporal e narrativa e propor um espaço diferenciado de investigação de vozes não antes reverberadas. Só das mãos de André já haviam brotado anteriormente as pepitas “Pouco mais de um mês”, “Quintal” e “Ela volta na quinta”. Além disso, a produtora não perde o foco de contar suas histórias na duração que for, investindo com igual afinco em curtas e longas e elevando o nível em ambos.

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Juliana, Russão e Hélio: gente como a gente em "Temporada", que é dirigido por André Novais Oliveira (Foto: Divulgação)

André pela primeira vez trabalha com um elemento fora do conforto de sua família e amigos, recebendo Grace Passô de braços abertos, e mergulha a premiada atriz, diretora e dramaturga no seu arsenal de memorabilia afetiva. Grace é Juliana, jovem mulher em deslocamento territorial, que se vê obrigada, em determinado momento, a reconstruir seu emocional despedaçado. Então, o que parecia momentâneo pode talvez se transformar em definitivo, se Juliana estiver aberta ao novo que vem de todas as partes.

Engraçado é que André surge e cresce em um momento onde se cobram direções a seguir por uma determinada fatia do nosso cinema, em busca de afeto, que o diretor nunca precisou sublinhar em seus trabalhos, sempre esteve ali; talvez por André não se debruçar exclusivamente nessa questão e apresentar também cinema, e dos melhores. Agora, além do descomunal talento de Grace (uma atriz que aproveita todo milímetro de tela, inundando cada fotograma com entendimento e humanidade), André encontra na lente de Wilssa Esser uma coleção de acertos espaciais e na trilha de Pedro Santiago uma das mais refinadas composições do cinema recente. A cereja do bolo atende pelo nome de Russo APR, ou apenas Russão, um manancial de talento, carisma, simpatia e simplicidade. No placar de André, “Temporada” é a nova goleada que seu time campeão conquistou.

Muito bom - ****

*Membro da Associação de Críticos de Cinema do Rio