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Intocáveis, seja em que língua for

Oito anos após vender 19 milhões de ingressos na França, comédia com Omar Sy ganha remake de sucesso nos EUA e diretores recebem honraria na Europa

Divulgação -
Kevin Hart e Bryan Cranston protagonizam "The upside", versão americana do francês "Intocáveis", de Olivier Nakache e Éric Toledano
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Parece até coincidência o fato de a refilmagem americana de “Intocáveis” (2011) ter virado o atual líder das bilheterias dos Estados Unidos, ao arrecadar US$ 20 milhões de sexta a sábado por lá, justamente às vésperas de uma homenagem para a dupla de realizadores do filme original, Olivier Nakache e Éric Toledano, nesta quinta, no Rendez-vous Avec Le Cinéma Français, em Paris. O evento em questão é um misto de festival e fórum de negócios em que a Unifrance, órgão que promove o audiovisual da França, revela seus títulos de maior peso (comercial e autoral) do ano. Em meio a esse encontro de talentos, o Ministério da Cultura francês vai entregar uma honraria aos dois diretores pela oxigenação que eles trouxeram para a saúde financeira dos exibidores de sua pátria. Como? Bom, há oito anos, a história deles sobre um milionário tetraplégico que redescobre o sabor de sorrir ao contratar um malandrão como seu cuidador contabilizou 19 milhões de ingressos vendidos só em sua nação de origem, arrecadando mundialmente US$ 426 milhões.

“Tudo o que a gente buscava ali era fazer uma crônica de costumes sobre as coisas simples da vida, como a solidariedade e o respeito ao próximo. Temos uma predileção por histórias que busquem humor na troca de culturas e de experiências de vida”, disse Toledano ao JORNAL DO BRASIL, no Festival de San Sebastián, em setembro, na Espanha. “Nem a gente esperava que um filme sobre amigos pudesse viajar o mundo como ‘Intocáveis’ viajou. Mas a amizade é um bem universal”.

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Kevin Hart e Bryan Cranston protagonizam "The upside", versão americana do francês "Intocáveis", de Olivier Nakache e Éric Toledano (Foto: Divulgação)

Nakache e Toledano estão finalizando uma comédia nova - “Hors norme”, com Vincent Cassel e Reda Kateb vivendo educadores dedicados a crianças com autismo -, para lançar em outubro. Mas arrumaram uma brecha na agenda para o tributo organizado pelo Rendez-vous Avec Le Cinéma Français, onde devem esbarrar com cerca de 420 distribuidores internacionais. Em paralelo, os dois colhem os frutos do remake de seu maior sucesso nos Estados Unidos, batizado por lá como “The upside”.

Aqui, a produção de US$ 37,5 milhões pilotada por Neil Burger estreia nesta quinta, com o título de “Amigos para sempre”, tendo Kevin Hart e Bryan Cranston (o eterno Walter White da série “Breaking bad”) nos papéis que foram de Omar Sy e François Cluzet, respectivamente.

“É difícil construir um grande personagem... alguém que fique, como Walter White ficou. Aqui temos uma história que bate nas pessoas”, disse Cranston ao JB, na abertura do Festival de Berlim de 2018, quando lançava a animação “Ilha dos Cachorros” (na qual é dublador), em paralelo à carreira de “Amigos para sempre” por mostras dos EUA, em Denver e na Filadélfia. “Fazer arte dá trabalho, envolve desafiar clichês e tabus, mas, traz como compensação uma série de lições sobre o nosso tempo, entre elas a percepção de que vivemos dias difíceis, de muita intolerância, o que demanda histórias de esperança, fábulas”.

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"Intocáveis", de Olivier Nakache e Éric Toledano (Foto: Divulgação)

Há uma dimensão quase fabular no encontro de um aristocrata amargurado e um pobretão cheio de vida, capaz de fazer seu patrão, um cadeirante desencantado, recuperar a vontade de viver. Essa centelha de perseverança fez com que “Intocáveis” ganhasse uma série de versões em outros países. No Brasil, o filme foi transformado em peça de teatro, com Ailton Graça e Marcelo Airoldi, em 2015. Um ano depois, os argentinos adaptaram a trama da França para a América do Sul, com Oscar Martínez e Rodrigo De La Serna – o filme foi traduzido por aqui como “Inseparáveis”. Agora, é a vez de Kevin Hart (o quase apresentador do Oscar deste ano, afastado por boicotes a declarações passadas do ator, consideradas politicamente incorretas) usar seu histrionismo para desafiar a sisudez do personagem de Cranston.

“O maior desafio em torno do legado de ‘Intocáveis’ é encarar o preconceito contra a dimensão artística, autoral, da comédia como gênero”, disse Nakache ao B. “Nós fizemos uma mistura de drama e humor que deu certo e buscamos fugir da repetição de fórmulas, em um flerte com outras formas de fazer rir, como os longas ‘Samba’ e ‘Assim é a vida’. Mas é bonito ver que a história que concebemos quase uma década atrás, sem nenhuma expectativa, siga viajando e entrando em circuitos de arte tomados por filmes mais intelectualizados. É a vitória do riso e da simplicidade”.

Até o dia 21, a Unifrance espera receber cerca de 100 artistas, entre atrizes, atores e diretores, em seu Rendez-vous, onde serão badalados potenciais êxitos de público em um escopo global como “High life”, de Claire Denis; “L’empereur de Paris”, de Jean-François Richet; e “Grâce à Dieu”, de François Ozon.

*Roteirista e crítico de cinema

Divulgação - "Intocáveis", de Olivier Nakache e Éric Toledano
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cinema | filme | remake