ASSINE
search button

Designer Marcos Scorzelli conclui em chapas de aço esculturas de animais feitas em papel por seu pai

Bella Scorzelli /Divulgação -
Marcos e algumas de suas criações: zoológico de cores e lembranças
Compartilhar

Há 20 anos, o designer Marcos Scorzelli descobriu nos guardados do pai, o artista plástico Roberto Socorzelli (1938/2012), um envelope com esculturas de papel de animais que começaram a ser feitas por ocasião do nascimento de sua irmã, Isabella. Os bichinhos em dobradura eram espalhados pela casa para o deleite dos pequenos. Após muitas tentativas de explorar esse tesouro afetivo, Marcos expõe, a partir de hoje, 40 esculturas na Galeria Evandro Carneiro Arte, na Gávea. Além disso, o público terá acesso a 16 telas do artista em acrílico.

Ao redescobrir os bichos, Marcos percebeu seu potencial. “Arrumando coisas, encontrei um envelope e, dentro dele, havia uma meia dúzia de bichos. Olhei para aquilo e me maravilhei com aquele design lindo”. E Marcos acabou estabelecendo com o pai um novo tipo de relação. “A gente tinha uma espécie de desafio, que fazíamos um ao outro. ‘Não tem um touro’, me dizia ele. Podia levar uma semana ou ano, mas em algum momento iria aparecer um. E aí trabalhávamos juntos aquele bicho, lapidando suas formas”, diz Marcos. Nos horários de folga no escritório de arquitetura do qual eram sócios, pai e filho trabalharam juntos por 14 anos criando mais modelos que, mais tarde, seriam digitalizados no AutoCAD (software de desenho industrial). A ideia era transformar tudo em esculturas ou peças gráficas, tais como cartões, folhetos ou livros.

Macaque in the trees
Marcos e algumas de suas criações: zoológico de cores e lembranças (Foto: Bella Scorzelli /Divulgação)

“O primordial era não perder o conceito, não haver perda de material, ou seja, não recortar ou soldar o objeto”, explica. Apesar das similaridades com o origami, Marcos destaca as diferenças entre os processos. “O origami tem uma complexidade de formas que essas esculturas não têm. Elas são mais minimalistas. Na verdade, são matrizes geométricas que partem sempre de um círculo ou retângulo. O melhor dessa brincadeira era partir de uma forma bidimensional e, em poucos movimentos, conseguir ter um objeto com certa complexidade que se torna tridimensional”, compara.

A morte de Roberto Scorzelli, em 2012, frustrou os planos de Marcos que deu uma pausa no projeto. Mas, em julho do ano passado, o designer descobriu uma tecnologia a laser capaz de dar forma à chapa de aço, material maleável, que se permite moldar e dobrar, sem perdas ou remendos. E, assim, as dobras duras daqueles animais tão queridos foram formando este zoológico de memórias tão felizes. “Me dava uma aflição grande ver a essa bicharada presa numa caixa. Chegou a hora de soltar os bichos”, brinca.

A primeira matriz das esculturas de papel tinha nove. “Ao longo dos anos, desenvolvemos juntos outros tantos, talvez uns 20 ou mais. Depois que ele faleceu, continuei criando um bicho aqui, outro ali, usando a mesma linguagem”, revela.

Paraibano de João Pessoa, Roberto Scorzelli chegou ao Rio na infância. Nos anos 1950, cursou a Escola Nacional de Belas Artes e também formou-se em Arquitetura. Na década seguinte, expôs os primeiros trabalhos, dando início a uma obra marcada pelo rigor geométrico. Em 1976, criou a série “Bestiário”, desenhos litográficos de diversos animais que captavam a graça e a majestade de certas espécies. Nos anos 1980, aprofunda-se na pintura a óleo, buscando na paisagem a observação das transparências naturais. Nos anos 1990, retorna às composições geométricas, usando a tinta acrílica.

“Meu pai tinha uma piração com os bichos. Ele tinha leitura do mundo, de uma geometria muito particular. Ele via geometria um tudo. Tanto que a exposição, por sugestão do Evandro (Carneiro, dono da galeria e curador da exposição), era fazer uma conexão entre as telas dele e esses bichos”, destaca Marcos Scorzelli.

-----

SERVIÇO

EXPOSIÇÃO SCORZELLI

Galeria Evandro Carneiro Arte (R. Marquês de São Vicente, 124/108 – Tel: 2227-6984) – Seg. a sáb., das 10h às 19h – até 16/2 – Entrada franca