Durante anos, Hirokazu Kore-Eda foi tratado como “cidadão de segunda classe” no cinema. Parecia ser convidado a Cannes a cada novo trabalho apenas para completar o número de seleção e seus filmes passavam sem suscitar qualquer debate. No último festival, “Assunto de família” fez a diferença desde a primeira sessão. Findo Cannes, tava lá uma Palma de Ouro indo para o Japão. É assistir o filme para entender o grande feito do cineasta, ao ganhar uma das melhores seleções recentes da competição na França.
Kore-Eda está se sofisticando como realizador e exibe um frescor narrativo impressionante, como se fora uma jovem revelação. Continua fiel a suas escolhas temáticas que abordam a desestruturação familiar e suas novas configurações de afeto, aqui representado por um grupo unido também pelos laços da contravenção. Com um roteiro que propõe leituras inúmeras sobre seus personagens centrais, retirando a cada nova cena uma densa camada de estudo e os envolvendo nas relações que eles estabelecem entre si.
De mise-en-scène rebuscada, que reflete e sobrepõe imagens por entre vidros para tanto esconder quanto revelar a respeito daquela família desfuncional, a trama contribuiu para surpreender o público de maneira inimaginável. Aliado ao trabalho excepcional do diretor, temos um elenco primoroso, com destaque para “os pais” vividos por Sakura Ando e Lilly Franky. Parece cedo, mas o circuito já nos fornece a primeira obra-prima do ano.
___________
COTAÇÃO
* * * * (MUITO BOM)
__________
* Membro da ACCRJ