ASSINE
search button

O tridente era a lei: confira a crítica de 'Aquaman'

Divulgação -
Domínio do cineasta James Wan sobre as narrativas da magia fez com que esta aventura solo do super-herói dos mares se tornasse bem saborosa
Compartilhar

Cria das trevas, responsável pelas duas franquias que melhor assombraram as duas últimas décadas na seara do terror (“Jogos mortais” e “Invocação do Mal”), James Wan foi contratado pela DC Comics/Warner para dirigir “Aquaman” não apenas por sua artesania sofisticada ou por sua forte comunicabilidade com multidões. A intimidade do realizador australiano (de DNA meio malaio, meio chinês) com a fantasia pesou. Era necessário alguém com o entendimento do que existe de subtexto fantástico... ou mais, de mágico... nas jornadas heroicas a fim de eliminar do Rei dos Mares toda a chacota em torno de sua figura. Chacota decorrente do desenho animado caricato estrelado por ele de 1967 a 1970 na rede CBS, com direito a cavalo marinho como montaria. É o domínio (crescente) de Wan sobre as narrativas da magia que torna esta aventura solo do super-herói criado em 1941 (por Paul Norris e Mort Weisinger, na edição número 73 do gibi “More Fun Comics”) uma das pipocas mais saborosas deste ano em que a Marvel reinou só, com “Pantera Negra” e “Vingadores: Guerra Infinita”.

Macaque in the trees
Domínio do cineasta James Wan sobre as narrativas da magia fez com que esta aventura solo do super-herói dos mares se tornasse bem saborosa (Foto: Divulgação)

Vigilante marvete algum pode se queixar da verve heroica (e debochada... e abusada... e sexy) de Jason Momoa como Arthur Curry, o alter ego do legítimo Rei da Atlântida. Momoa é um poço de carisma, alinhado à incorreção política, salpicando provocação a uma narrativa que lembra “Excalibur”, de John Booman. A trama, supervisionada pelo editor e quadrinista Geoff Johns (de “Gavião Negro”), é pautada pela guerra ao trono do Reino Submarino. E é temperada pela marca autoral de Wan: seus filmes sempre se estruturam sob a lógica de alguém que produz o Mal por algum ato negligente (como se vê aqui na gênese do humanizado vilão Manta Negra), sobre formas de orfandade (Curry é abandonado pela mãe, Atlanna, vivida por Nicole Kidman, quando guri) e sobre manifestações de amor um tanto fora de época, assumidamente cafonas, como se vê no cinema romântico da Ásia. Há uma breguice explícita no enamoramento entre Aquaman e a princesa Mera (Amber Heard), assim como nas tramas melodramáticas paralelas, ligadas ao fato de o inimigo nº1 do protagonista ser seu irmão invejoso, Orm, o Mestre do Oceano, vivido por Patrick Wilson, ator xodó de Wan. A explícita cafonice personaliza o filme como fábula, sem diluir a injeção de adrenalina que o diretor aplica no roteiro a cada virada, com sequências de ação de rigoroso apuro plástico (sobretudo a luta de Atlanna nos minutos iniciais). Repleto de bons atores, incluindo Willem Dafoe como Vulko (o Paulo Guedes da Atlântida), o longa-metragem ainda repagina o astro brucutu Dolph Lundgren, perfeito no papel do Rei Nereus.

Nas cópias em versão brasileira, um dos melhores dubladores do país na atualidade, Francisco Júnior, dá voz a Aquaman.

*Roteirista e crítico de cinema

______________________________

Aquaman: **** (Muito Bom)

Cotações: o Péssimo; * Ruim; ** Regular; *** Bom; **** Muito Bom