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Sou totalmente favorável a legalizarem, diz Fernando Meirelles em entrevista

Cineasta opinou sobre a maconha, sobre o atual momento conservador na política e sobre o que se deve esperar do futuro do audiovisual brasileiro no governo de Jair Bolsonaro.

divulgação -
Mesmo sem fumar, o cineasta coloca-se a favor da legalização da maconha. Segundo ele, o comércio ilegal "é uma espécie de cadeia alimentar do crime"
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No ano que vem, estreia na HBO a série “Pico da Neblina”, que imagina um Brasil em que a maconha foi legalizada. Em entrevista, por e-mail, para falar sobre a série, o cineasta Fernando Meirelles, que divide a direção geral da produção com o filho, Quico, opinou sobre a temática da legalização, sobre o atual momento conservador na política e sobre o que se deve esperar do futuro do audiovisual brasileiro no governo de Jair Bolsonaro.

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Mesmo sem fumar, o cineasta coloca-se a favor da legalização da maconha. Segundo ele, o comércio ilegal "é uma espécie de cadeia alimentar do crime" (Foto: divulgação)

A história se passa num Brasil em que a maconha foi legalizada. Na vida real, porém, vemos uma grande onda conservadora na política em todo o País. Acredita que a série, até a estreia, estará ainda mais longe da realidade do que quando foi inicialmente idealizada?

FERNANDO MEIRELLES - Ainda não dá para saber como vai funcionar este novo Congresso, mas pelo tamanho das bancadas conservadoras creio que ainda não será nesta gestão que o tema será pautado. Muitos países ao redor do mundo já legalizaram ou toleram o consumo, que é menos prejudicial do que o álcool. A descriminalização e posterior legalização está a caminho, só entrou numa rota mais longa e obstruída mas é como as mudanças do clima, inexorável.

Acredita que o atual momento conservador pode influenciar a recepção da série? Alguns grupos conservadores são conhecidos por fazer mobilizações online. Há alguma preocupação com protestos ou boicotes?

O fato de haver gente conservadora no poder não fará desaparecer interessados no assunto. Quanto a mobilizações online e protestos, que Deus te ouça e faça acontecer. Ser relevante a este ponto é tudo que queremos.

A série apresenta cenários possíveis sobre a legalização da maconha no Brasil. Você, pessoalmente, é a favor da legalização?

A série começa quando a lei passou no Congresso, então não discute muito os prós e contras da legalização. Eu não fumo mas sou totalmente favorável a legalizarem. Até onde sei, o dinheiro da venda ilegal de maconha é uma espécie de base na cadeia alimentar do crime. É como o krill no mar, aquela proteína sempre disponível que não deixa as baleias morrerem de fome. O dinheiro pingadinho e certo é o que mantém a máquina funcionando Cortar este recurso ao legalizar a comercialização comprometeria muito outras operações criminosas. Outro argumento é que hoje ninguém deixa de fumar por ser ilegal. Ou seja, já que legalizar não aumentará consumo, que ao menos o governo ganhe o imposto desta enorme indústria e proteja os cidadãos com um produto de qualidade controlada.

Retomando a questão do momento conservador no País, acha que isso pode, de alguma forma, influenciar o cenário audiovisual no Brasil?

Não concordo e nem gosto de muitas coisas que o presidente eleito diz, mas, até agora, não há pista do que acontecerá, então estou dando o benefício da dúvida e aguardando. Segundo a ex-presidente da Ancine, Débora Ivanov, o audiovisual emprega 98 mil pessoas no Brasil e fatura 25 bilhões, isso é 0,48% do PIB, mais do que a indústria farmacêutica. Por mais que não haja interesse do futuro presidente nos programas e filmes que são produzidos, creio que o novo governo não penalizará o setor, eles sabem que ninguém mexe em 25 bilhões impunemente.