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Bárbara disposição

Mathieu Amalric exibe na Maison de France filme que dirigiu sobre estrela da voz

Divulgação -
O diretor Mathieu Amalric, no set de gravações de Barbara, com a atriz Jeanne Balibar, que faz o papel principal no longa-metragem, interpretando uma mítica cantora
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Vilão de James Bond há dez anos, quando enfrentou o agente secreto de Sua Majestade em “007: Quantum of Solace”, Mathieu Amalric tem uma agenda cheia, de dar inveja a qualquer astro de Hollywood, onde ele, um francês – aliás, um francês filho de uma especialista na literatura do baiano Jorge Amado – tem passe livre, sendo requisitado por lá com frequência. Seu rosto está em um dos potenciais candidatos ao Oscar 2019, “No portal da Eternidade”, a cinebiografia experimental de Van Gogh, no qual ele é vive o lendário médico Paul Gachet, que tratou do pintor (vivido por Willem Dafoe). O filme de Julian Schnabel sobre o artista plástico faz parte de um pacotão de trabalhos do ator: este ano, ele atuou em três longas e duas séries. Todo ano é assim, sem contar projetos que ele dirige, como “Barbara”, premiado drama que o Cinemaison exibe nesta segunda, às 15h, na Maison de France.

“Minha mãe gosta muito da prosa latino-americana e conhece a Fundação Casa de Jorge Amado. Tenho até uma camisa de lá”, disse Amalric ao JORNAL DO BRASIL, no Festival de Cannes, onde ele vai quase anualmente, sempre com uma penca de filmes. “Trabalhar te dá a chance de conhecer pontos de vista autorais que mudam a nossa percepção do real”.

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O diretor Mathieu Amalric, no set de gravações de Barbara, com a atriz Jeanne Balibar, que faz o papel principal no longa-metragem, interpretando uma mítica cantora (Foto: Divulgação)

Ele acaba de ser convidado para o elenco estelar (com talentos do quilate de Natalie Portman, Tilda Swinton e Bill Murray) do novo filme de Wes Anderson, “The french dispatch”. Wes deu um papel a ele não apenas por conhecer seu talento, mas por saber da disciplina à francesa com que surpreendeu os produtores hollywoodianos quando encarou Bond a tiros. Por isso, Amalric vem colecionando experiências com os mais renomados realizadores da História, entre eles Steven Spielberg (“Munique”), Kiyoshi Kurosawa (“O segredo da câmera escura”) e Roman Polanski (“A pele de Vênus”). Este último é quem anda explorando o carisma do ator francês de 53 anos neste momento: Amalric integra o novo longa-metragem do realizador de “O bebê de Rosemary” (1968), o thriller judicial “J’accuse”, sobre um lendário caso jurídico de (suposta) traição ligado ao militar Alfred Dreyfus.

“Existem universos muito distintos no cinema e cada um deles não apenas amplifica o seu ferramental dramático como te dá a possibilidade de conversar com diferentes públicos”, diz Amalric, que ganhou o devido reconhecimento como um artista inquieto ao receber das mãos de Tim Burton – então presidente do júri da Palma de Ouro de 2010 – um prêmio de melhor direção por seu trabalho atrás (e à frente) das câmeras em “Turnê”. “A experiência de atuar me leva a querer contar histórias em outras funções”.

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Aos 53 anos, Mathieu Amalric é um dos mais prolíficos atores e cineastas da França na atualidade (Foto: Divulgação)

Em paralelo ao trabalho com Polanski, Amalric vê seu rosto lotar as salas de cinema da França à frente de um dos maiores sucessos de bilheteria do ano, “Le grand bain”, uma comédia que vendeu 3,9 milhões de ingressos. A popularidade que ele sedimenta em longas comerciais são essenciais na hora em que ele busca financiamento para os projetos mais intimistas que idealiza para ele mesmo dirigir, como “Barbara”.

Estrelado por Jeanne Balibar e premiado em Cannes com a láurea da seção Un Certain Regard em 2017, o longa sobre uma mítica cantora francesa (Monique Andrée Serf) tem mais uma sessão além da exibição no Cinemaison: ele será projetado nesta terça, às 21h, no Reserva Cultural, em Niterói, na mostra Vive Le Cinéma Français. A produção explora a relação de Monique ( 1930-1997), artisticamente conhecida como Barbara, com a fama e o assédio do público, enquanto a indústria do cinema tenta convocá-la para atuar e virar um mito também nas telas.

“Este é um estudo de caso sobre o prestígio, sobre a mitificação e sobre perda de identidade. Até que ponto a subjetividade de um artista está nas mãos de seus fãs?”, questionou Amalric, lembrando que a direção é um exercício que vem das lições dadas a ele por cineastas com quem trabalha frequentemente, como o francês Arnaud Desplechin (“Os fantasmas de Ismael” e “Reis e rainha”). “Cineastas como Desplechin já se tornaram amigos, não apenas por toda a nossa convivência, mas pela troca contínua e harmônica. Só espero ser um diretor com a mesma disciplina que tento ter quando atuo”.

* Roteirista e crítico de cinema

Divulgação - Aos 53 anos, Mathieu Amalric é um dos mais prolíficos atores e cineastas da França na atualidade
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Amalric | cinema | filme