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Editor de livros se inspira no patrimônio cultural do Porto para criar cardápio

José Peres -
Raphael Vidal com as invenções que fazem sucesso
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Um banquete de sabores que passeiam pelo patrimônio artístico e cultural do Rio. O Largo de São Francisco da Prainha está posto à mesa, assim como a Praça Mauá, o Cais do Valongo e os armazéns do Brasil Colônia. Produtor cultural e editor de livros, Raphael Vidal aproveitou sua verve de cronista para elaborar, no cardápio da Casa Porto, sobrado histórico situado no coração da Zona Portuária, uma declaração de amor à cidade e seus personagens.

Após inaugurar o espaço como um centro cultural vocacionado a abrigar a produção independente carioca, em 2013, ele viu sua primeira empreitada naufragar durante a crise econômica do Estado, que interrompeu todos os patrocínios a partir de 2016. Após um tempo à deriva, a Casa Porto voltou este ano a içar velas na Região do Porto, com nova proposta, um bar com cardápio de invenções exclusivas, fiel ao espírito de vanguarda que marcou os primeiros anos do espaço.

Macaque in the trees
Raphael Vidal com as invenções que fazem sucesso (Foto: José Peres)

“Acabaram as Olimpíadas e veio a crise, fui perdendo patrocínios e comecei a me reinventar. Fizemos os Festejos Cariocas, que era uma forma de ocupar as ruas com manifestações da cultura popular. Mas a Casa Porto tinha ido à falência. Um dia, peguei uma receita de coxinha da minha família. Não queria galinha, comprei um pernil e adaptamos. Fiz um ketchup de goiabada, divulguei, a galera veio e, naquele dia, vendemos tudo”, conta Vidal, orgulhoso da capacidade de seguir novos ventos.

Diante de uma biblioteca com acervo de cinco mil volumes, o frequentador degusta delícias como o estivador, o mais encorpado bolinho da casa, com recheio de ovo de codorna de gema mole emoldurado pelo arroz (R$ 8). O Mauá é um quibe de tapioca com hamus, pasta de inspiração árabe, de tremoços, uma receita que agrada aos vegetarianos (R$5). A Prainha é uma patanisca de sardinha (R$ 5), com massa feita com a tradicional iguaria da culinária portuguesa e o bolinho de feijão tropeiro (R$ 5) remete aos caixeiros viajantes e armazéns locais.

“Eu não podia ter um cardápio normal de botequim. A Casa é um sobrado, eu preciso oferecer uma experiência diferente para a pessoa subir e conhecer, por isso me inspirei a criar os bolinhos”, explica Vidal.

As delícias caíram, literalmente, na rede e a Casa Porto hoje tem mais de 10 mil seguidores no Facebook. E continua fiel à sua vocação, abrigando saraus, lançamentos, debates políticos, shows e agora casamentos e outras festas particulares. Uma alegria para o editor e produtor, que pediu demissão de um confortável emprego no Museu de Arte do Rio.

“Eu idealizei o FIM (Fim de Semana do Livro no Porto), em 2012, em um sobrado no Morro da Conceição. Transformei em um botequim cenográfico e levamos grandes escritores como Sérgio Cabral, o pai, e Nei Lopes. Foi um negócio completamente diferente e aconteceu. Foi quando o MAR me convidou para trabalhar lá como produtor, fiz parte de todo o processo de inauguração, no entanto fiquei com aquela experiência na cabeça, as pessoas começaram a me cobrar que minha pegada era de centro cultural. Montei o projeto e com a rescisão, reformei e abri a Casa Porto”, relembra Vidal.

Macaque in the trees
A caipirinha de limão com hortelã sai por R$ 15 (Foto: José Peres)

Hoje, ele já tem fôlego para cruzadas mais longas, como abrir o restaurante diariamente para almoço. O cardápio é sempre anunciado pelo Facebook e mantém a proposta de oferecer uma experiência exclusiva e afetiva. Fiel à letra do samba que diz “quando penso no futuro não esqueço o meu passado”, Vidal recriou seu almoço nos tempos de estudante de Filosofia na UFRJ: a moela ganhou ares de vedete do cardápio, à milanesa (R$ 15, a porção) e com vários acompanhamentos, como a polenta cremosa (R$ 5).

“Eu almoçava moela com farofa por R$ 1, o prato mais barato que tinha na época. Nunca vou deixar de ter moela no cardápio. Fiz do tradicional PF a ideia de que o almoço pode ser uma refeição bacana, barata e fora do comum”, conta Vidal, já preparando novas aventuras gastronômicas.

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São Jorge abençoa o salão, com biblioteca, totó e fliperama grátis (Foto: José Peres)

CASA PORTO - Largo de São Francisco da Prainha 4, zona portuária, tel.: 99816-1948 (whatsapp). das 12h às 2h.

José Peres - A caipirinha de limão com hortelã sai por R$ 15
José Peres - São Jorge abençoa o salão, com biblioteca, totó e fliperama grátis