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Indicada ao Globo de Ouro, atriz Nadine Labaki se firma como a cineasta de maior prestígio em seu país graças a Cafarnaum, que vai fecha o Festival de Marrakech hoje

Divulgação -
Nadine Labaki nos sets em Beirute
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Única mulher cineasta com chance de levar um Globo de Ouro para casa por seu estilo autoral de dirigir, Nadine Labaki, atriz e realizadora de 44 anos que anda levando a poética audiovisual de seu país, o Líbano, para os rincões mais pop da indústria do cinema, colocará o ponto final na 17ª edição do Festival de Marrakech, neste sábado. Iniciado no dia 30 , com direito a homenagens a medalhões como a diretora Agnès Varda e o astro Robert De Niro, o evento marroquino termina hoje com a cerimônia de entrega do troféu Estrela de Ouro e com a projeção do longa-metragem que abriu as portas de Hollywood para Nadine: “Cafarnaum”. Indicado ao Globo dourado de melhor filme estrangeiro (a entrega será no dia 6 de janeiro, em Los Angeles), este melodrama sobre um menino que processa os próprio pais ganhou o Prêmio Especial do Júri em Cannes, em maio, contabilizando mais 16 láureas.

“Filmar com crianças é um processo que depende de uma química de olhar. Você pode testar cem, mil crianças. Mas vai ter uma só que carrega nos olhos a fúria de que você precisa. É dali que virá a verdade”, disse Nadine ao JORNAL DO BRASIL, em Cannes, em maio, pouco antes de ser premiada. “A ideia de ‘Cafarnaum’ é retratar nossa incerteza em relação ao futuro a partir de um personagem que faz de tudo para perseverar num mundo de imigrantes, de gente pobre, de desvalidos”.

Macaque in the trees
Nadine Labaki nos sets em Beirute (Foto: Divulgação)

Um dos maiores sucessos do Festival do Rio, em outubro, “Cafarnaum” foi rodado nas ruas de Beirute ao custo de US$ 4 milhões. Estreia no próximo dia 14 nos EUA, para trilhar uma rota rumo ao Oscar. O prestígio de Nadine entre os europeus pode ajudar. Respeitada na Europa por cults como “E agora onde vamos” (2011) e “Caramelo” (2007), a diretora combina (com harmonia) diferentes gêneros e sentimentos em seu novo longa-metragem, tendo o pequeno Zain Al Rafeea como protagonista, vivendo um personagem com seu nome. A trama estrelada pelo garoto começa como thriller de tribunal, vira folhetim, muda para a aventura, cai no trágico e dá uma guinada para uma reflexão social de tônus geololítico. No enredo, Zain é um menino com cerca de 12 anos (ele não sabe sua idade com precisão), preso por esfaquear alguém (quem é? só saberemos lá pelo fim). Ele leva seus pais (relapsos e violentos) à Justiça. O motivo: ele quer processar o casal por ter dado a vida a ele e não ter se esforçado em zelar por seu bem e amá-lo. Abusado, corajoso, enraivecido, Zain sai de casa, tenta a sorte em todas formas de trabalho e acaba tendo que cuidar de um bebê etíope. O neném e ele juntos arrancam risos, suspiros e choro onde quer que o filme passa.

“Não é fácil filmar ficção no Líbano, o que exige muita responsabilidade de quem consegue um set para dirigir. Eu aposto na sinceridade para travar uma relação direta com minha plateia, que, neste filme, está diante de uma narrativa sobre alienação parental”, disse a cineasta. “Eu trabalhei com meu diretor de fotografia a partir de um critério de total atenção à liberdade do meu elenco mirim. Não podia confinar as crianças à minha necessidade. Eles tinham que estar livres. Minha câmera ia atrás”.

Macaque in the trees
Nadine Labaki nos sets em Beirute (Foto: Divulgação)

Após a sessão de “Cafarnaum”, o Festival de Marrakech realiza sua cerimônia de premiação, a partir das deliberações do júri chefiado pelo diretor americano James Gray (de “Z – A Cidade perdida”). Os dois títulos mais cotados a prêmios são “Diane”, de Kent Jones - drama no qual a veterana estrela de TV americana Mary Kay Place encarna viúva em reciclagem afetiva - e “Joy”, da diretora austríaca (de origem iraniana) Sudabeh Mortezai, uma radiografia da prostituição de imigrantes africanas em solo europeu.

* Roteirista e crítico de cinema

Divulgação - Nadine Labaki nos sets em Beirute