O público sabe quando está diante de um artista completo. O cantor, compositor, pianista, guitarrista, cineasta e (ufa!) escritor Fito Páez é dessa estirpe e os brasileiros têm a obrigação moral de lotar qualquer casa de espetáculo em que ele se apresentar. Quem foi assitir ao show da turnê “Ciudad liberada” participou de uma experiência plena de (excelente) música.
Aos 55 anos, o roqueiro nascido em Rosario regeu banda e plateia com energia contagiante. É senhor de tudo o que acontece no palco, a ponto de fazer os fãs ficarem de pé por mais da metade da apresentação. Expressa cada verso cantado com voz e corpo. Sua capacidade de mesclar o lirismo das mais belas baladas com a energia pulsante do rock and roll é incontestável.
Ganhou a plateia de cara ao abrir os trabalhos com “Meu bem, meu mal”, de Caetano Veloso, num portunhol embolado mas repleto de carisma - como não amar? Alternou as canções do novo trabalho “Ciudad liberada”, em que resgata o viés roqueiro panfletário, com hits de uma trajetória de sucessos ao longo de quase 40 anos.
Além de caetanear, convidou o violonista Yamandu Costa e o violoncelista Jacques Morelenmbaum para uma sublime execução de “Yo vengo a ofrecer mi corazón”, que fez o público se levantar para aplaudir por vários minutos. O próprio Fito assimilou a solenidade do momento para ajoelhar-se diante da dupla.
Fito levantaria a plateia inúmeras outras vezes para fazer todo mundo dançar e cantar junto “Se termino”, “Circo beat”, “Cuidad de pobres corazones” e “A rodar”. Demorou a voltar para o bis, mas convocou Herbert Viana para dividir os vocais, embalados a piano e guitarra, da pop “Trac trac”, tornada sucesso por aqui via Paralamas. Emoção à flor da pele.
Houve tempo para exibir o virtuosismo visceral do guitarrista Juan Absatz nos solos arrebatadores em “Mariposa technicolor” e “El diablo en tu corazón”, encerrada à capela num uníssono de uma feliz e realizada plateia. Magistral.