Vencedor do Grammy Latino do ano passado na categoria melhor álbum de MPB, “Dos navegantes”, que reuniu Edu Lobo, Romero Lubambo e Mauro Senise, acaba de ganhar uma versão ao vivo em CD e DVD. Trata-se do registro do show dos três em 13 de maio na Sala Cecília Meireles. No palco, uma formação instrumental dá tratamento privilegiado a canções como “A história de Lily Braun”, “Choro bandido”, “Beatriz”, “Na carreira”, todas parcerias com Chico Buarque, e “Pra dizer adeus”, com Torquato Neto.
Ao contrário do CD de estúdio, que era uma espécie de lado B da obra de Edu, o DVD ao vivo mescla as canções menos conhecidas com alguns temas mais populares do compositor.
Reunir Edu, Romero e Senise numa mesma tripulação é um desdobramento natural do CD “Todo sentimento”, trabalho dos dois últimos no qual Edu participou de duas faixas como convidado. A sinergia do estúdio funcionou tanto que ficou decidido que os três gravariam um trabalho focado na obra do compositor. “O Edu nos mandou por e-mail uma lista com 32 joias. Aí começou o sofrimento de escolher 11 músicas entre tantas belezas. Foram sete dias de gravação, sete dias de alegria, que passaram voando, mas ficarão para sempre na nossa memória”, comemora Senise.
Em conversa por telefone com o JORNAL DO BRASIL, Lubambo, que vive na cidade de Ringwood, em Nova Jersey, destaca que o lançamento do DVD do espetáculo compensa, de alguma forma, a dificuldade de conciliar a agenda dos três artistas, sempre envolvidos em vários projetos, em vários portos.
Sobre a sensação de navegar ao lado de Edu, o guitarrista transborda de emoção. “A música dele me acompanha e me inspira desde muito cedo, mas nunca tínhamos nos encontrado antes. Foi só alegria, carinho e amor que colore cada nota gravada”, revela o músico. “Nosso critério de seleção foi apresentar um lado B da obra do Edu, não apenas na escolha de canções menos conhecidas, mas também na simplicidade dos arranjos, algo minimalista. Normalmente, Edu faz shows com naipes de cordas e metais”, completa.
Lubambo explica que o ponto de partida da viagem musical foram os arranjos originais de Edu, uma espécie de carta de navegação. “Eu e Mauro mudamos um pouco para adicionar alguns solos, poucos. Também sugerimos a ele algumas mudanças de acorde, tudo num clima de muita amizade, bem relax e à vontade”.
A escolha da Cecília Meirelles e sua acústica ímpar não poderia ser mais apropriada. A formação de palco com voz, violão, sopros e contrabaixo, acrescida de piano e percussão ocasionais, cria uma atmosfera intimista que dá o devido destaque à performance de Edu Lobo cuja voz é uma grife da MPB. Lubambo traz acordes leves e vívidos em dedilhados elegantes sem cair na tentação dos solos. Igual surpresa é ver Mauro Senise tocando mais flautas do que saxofone. Não poucas as vezes, os sopros fazem duo com o cantor como na lírica “Valsa dos clowns” (Edu Lobo / Chico Buarque), que faz parte da trilha composta para o musical “O Grande Circo Místico”.
Em dez das 11 faixas, Bruno Aguilar completa a atmosfera com seu contrabaixo, emoldurando o recital. Em “Gingado dobrado”, o percussionista Mingo Araújo faz sua única participação no espetáculo, que tembém tem a participação do pianista e arranjador Cristóvão Bastos entre os convidados especiais.
Mas nada no espetáculo soa falso como os versos de “Choro bandido” (Edu Lobo / Chico Buarque) na voz de Edu que insinua “Mesmo que os cantores sejam falsos como eu / Serão bonitas, não importa / São bonitas as canções / Mesmo miseráveis os poetas / Os seus versos serão bons”. Edu é um intérprete legítimo de suas bonitas canções e foi lindamente realçado por virtuoses dotados de humildade e espírito de equipe. O barco dos três navegantes experimentados singra por mares esplêndidos.