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Antologia para Orides Fontela

Livro homenageia poeta, cuja morte completa 20 anos

Reprodução -
Nascida em São João da Boa Vista (SP), Fontela se formou em Filosofia pela USP, além de se dedicar à poesia
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Em homenagem a Orides Fontela, cuja morte completou 20 anos agora em 2018, os professores de letras e poetas Patricia Lavelle e Paulo Henriques Britto organizaram uma antologia contendo poemas de 23 vates contemporâneos.

O livro, intitulado “O nervo do poema” e publicado pela Relicário Edições, foi lançado ontem na casa de cultura Cabriola, na Glória, com apresentação feita pelos organizadores, leitura de poemas dos participantes da seleção e da própria Fontela, que se formou em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP).

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Nascida em São João da Boa Vista (SP), Fontela se formou em Filosofia pela USP, além de se dedicar à poesia (Foto: Reprodução)

Foram selecionados para comporem a antologia os seguintes poetas: Ana Martins Marques, Paula Glenadel, Josely Vianna Baptista, Lu Menezes, Patrícia Lavelle, Leila Danziger, Marcos Siscar, Masé Lemos, Marília Garcia, Laura Erber, Edimilson de Almeida Pereira, Prisca Agustoni, Alice Sant’ana, Heitor Ferraz Mello, Tarso de Melo, Katia Maciel, Simone Brantes, Ricardo Domeneck, Mônica de Aquino, Claudia Roquette-Pinto, Paulo Henriques Britto, Ricardo Aleixo e Age de Carvalho.

Orides Fontela nasceu em 21 de abril de 1940, na cidad

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O nervo do poema (Foto: Reprodução)
e paulista de São João da Boa Vista, e morreu em Campos de Jordão, também no estado de São Paulo, em novembro de 1998.

Ela foi considerada uma das mais importantes poetas contemporâneas, apreciada por Antônio Candido, Davi Arrigucci Jr. e Alberto Pucheu. De acordo com Paulo Henriques, ela teve uma vida muito sofrida, era alcoólatra e faleceu na miséria na Casa do Estudante em São Paulo.

Em um curso que deu na Pontifícia Universidade Católica (PUC), Paulo Henriques falou aos estudantes sobre a obra de Orides Fontela. Uma das ouvintes era Patricia Lavelle, que atualmente também é professora da PUC. Foi ela quem teve a ideia de organizar um evento em homenagem a poeta, primeiro na própria PUC, quando durante dois dias, no início de novembro, os departamentos de Letras, História e Filosofia discutiram as relações entre Poesia e Filosofia, com vários mestres tendo abordado a obra de Orides Fontela. Durante o evento, foi exibido um documentário sobre sua vida.

Quando Patricia Lavelle verificou que havia muito pouca divulgação da obra de Fontela, apesar de em 2015 a editora Hedra ter publicado uma antologia e uma biografia de Gustavo de Castro, resolveu pedir a vários criadores da palavra que se inspirassem em seus versos e no tema Poesia e Filosofia para homenageá-la pela passagem dos 20 anos de sua morte.

“Patricia foi a locomotiva do projeto, que resultou no livro da Relicário Edições, uma obra bonita com 140 páginas. Nele estão as contribuições dos poetas. A antologia foi lançada na Cabriola, com leitura de poemas. Orides tem uma obra pequena, de ótima qualidade. Um dos poemas do qual mais gosto e sobre qual escrevi um artigo se chama ‘Alba’, destaca Paulo Henriques Britto.

Em seu poema chamado “Fala”, Orides Fontela afirma o seguinte:

“Tudo/será difícil de dizer:/a palavra real/nunca é suave.//Tudo será duro:/luz impiedosa/excessiva vivência/consciência demais do ser.//Tudo será/ capaz de ferir. Será/agressivamente real./Tão real que/ nos despedaça.//Não há piedade nos signos/e nem no amor: o ser/é excessivamente lúcido/e a palavra é densa e nos fere.//(Toda palavra é crueldade)”.

Eis o poema “Parcas”: “As Parcas/fiam/nada/tecendo/ tecendo/o/nada/ em lento fio/ branco? Nem branco:/apenas pura/perda, sussurro/de lento canto/que autoesvazia-se/ e – inútil –/tomba/evanescendo-se/na transparência.//Apenas/isto:/Parcas vigilam./Cintila o mar.”

Já “Alba” é assim: “I Entra furtivamente/a luz/surpreende o sonho inda imerso/na carne.//II Abrir os olhos./Abri-los/como da primeira vez/– e a primeira vez/é sempre.//III Toque/ de um raio breve/e a violência das imagens/no tempo.//IV Branco/sinal oferto/e a resposta do/sangue:/AGORA!”

A poeta paulista ganhou o prêmio Jabuti de Poesia em 1983, em função de seu livro “Alba”; o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) em 1995, pelo livro “Teia”, e, em 2007, o Ministério da Cultura a homenageou com a Ordem do Mérito Cultural, categoria Grão-Cruz, recebida por sua prima Maria Helena Teixeira de Oliveira.

*Jornalista e escritora

Reprodução - O nervo do poema