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Lisboa, Florença e São Francisco abrigam estudos e poesias para vestir

Agência OsDois/Divulgação -
A modelo Tainá Brixner com a Beatriz, uma das shopping bags de Marzio Petrucci
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Depois da geração que levou Francisco Carlos para Oscar de la Renta, Francisco Costa para a Calvin Klein, a Daniella Helayel abriu a Issa London e a Paula Hermanny, a Vix, na Califórnia, surge uma turma de criadores que surpreende pela energia e originalidade do trabalho.

Estudos e cursos

Rômulo Maduro saiu do Brasil depois de brilhar com um projeto sobre o uso feminino da roupa masculina, no final do curso no Senai Cetiqt. Com intenção de morar fora do Brasil, tentou escolas de Milão e Florença. “Mas eram opções que não se encaixavam no meu orçamento. Acabei descobrindo o Iade (Universidade Europeia) e a parceria deles com a Universidade Beira Interior, em Portugal. Fui aprovado com excelente classificação. Mas, na hora de apresentar os documentos, descobri de onde herdamos a burocracia da papelada...”, comenta bem-humorado.

Rômulo faz mestrado em Fashion Branding na Beira Interior, depois de um curso na Unidade de Covilhã, no Norte de Portugal. “Moro no Centro de Lisboa: eram quatro horas de trem para ir e quatro para voltar, seis horas de aula. E lá estava eu, de quinze em quinze dias, todas as sextas-feiras, de março a julho. Dos 30 que começaram na turma, apenas três alunos concluíram o curso, tamanhas as dificuldades e os custos. O que me deu força foi perceber que a Universidade também persistiu e concluiu conosco todas as etapas.”

A etapa final do curso de Branding do Rômulo consistiu em criar uma marca envolvendo processos de slow production, identidade visual, orçamentos e planejamento de capital. “Uma roupa leve, com jeito carioca e possibilidades de ser vestida por homem ou mulher, em tecidos naturais e com acompanhamento da procedência da matéria-prima”, conclui, sem negar as origens cariocas. Mas, por enquanto, feliz com as opções de trabalhos como stylist e figurinista de TV em Lisboa.

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Rômulo Maduro no final da apresentação do curso de branding, ao lado da modelo com look de jeans e mangas de malha (Foto: Octavio Alcântara Iade UE/Divulgação)

Na Itália, como os italianos

Assim como Rômulo Maduro, Marzio Petrucci investiu em aprendizados. Desde as verdadeiras aulas práticas trabalhando com a tia, Mara McDowell, até o curso de Antropologia e História do Design de Moda. Não contente, cursou design de acessórios na Saint Martin, em Londres. Dali foi para Itália. “Falo italiano, o que facilitou a pós no IED de Florença, onde fiz um plano de marketing para uma marca. Depois, conheci um representante de uma fábrica que produz para a Prada, Miumiu e Ferragamo. Lá tudo tem que ser dito e anotado, como gosta um capricorniano como eu.”

Curso feito, trabalho entregue, Marzio criou três modelos de bolsas em três cores. A etapa seguinte, achar lugar para vender: Marzio encontrou lugares bacanas, mas com contratos muito longos, de seis a doze anos. “A solução foi o espaço temporário, mas fixo, com vitrine. Não dá para ficar em uma galeria de arte, nem viver de cenografia. Encontrei um espaço multimarcas em um Palazzo de 1300, com conceito de cores igual ao meu, referências minimalistas como as minhas.” Na bela multimarcas e no site bazzah.com.br estão as bolsas do Marzio Petrucci em couro italiano, feitas à mão, divididas em famílias de coleções, em vários tamanhos, em azul denim, vermelho cereja e preto, poucos metais e preços desde R$ 2.990.

Teatro da moda

Nos anos 1990, um jovem desconhecido entrou na redação deste jornal para mostrar vestidos feitos com materiais inusitados _ clipes, prendedores e pecinhas coloridas _ com um efeito encantador. Mais tarde, confirmou o talento para a moda lançando coleções no Atelier Real, em Botafogo. O Facebook serviu de contato para registrar a partida do Jerry Fernando para a Califórnia. Além de belas imagens das paisagens de São Francisco, começaram a aparecer fotos de lindos vestidos, em preto e branco. O que era isto, onde vende, quanto custa? O criador respondeu:

“Desde que mudei para cá acompanho o trabalho na pequena fábrica que mantenho com minha irmã no Rio. Ao mesmo tempo, pessoas do condomínio americano onde moro começaram a me procurar para criar roupas para festas. Apesar de saber costurar, nunca investi no sob medida. Diante desta falta de segurança, passei, como fazia a Madeleine Vionnet, a cortar as peças em miniatura, para facilitar a escolha das clientes e a minha produção. Pois houve quem quisesse comprar a roupa e a respectiva miniatura! Assim, inspirado também pelo Petit Théâtre do Dior, inventei esta Pequena Fábrica de Poemas de O Costureiro. São miniaturas confeccionadas com sobras de tecidos e antigas peças de roupas. Feitas à mão, sem qualquer ajuda de máquina de costura, como poesias com agulha e linha. Às vezes não sei se sou um artista-estilista ou um estilista-artista”.

Enquanto costura, Jerry pensa sobre o destino de roupas e restos de tecidos e sobre as ações predatórias na cadeia produtiva da moda, além de refletir sobre tragédias como o desabamento em Bangladesh ou as condições de trabalho na índia ou na China. “Minha intenção é fazer uma exposição aqui na Califórnia, para que as pessoas percebam os pontos, imaginem o tempo de execução, entendam esta minha paixão. Sempre apreciei artistas cujas obras inseriam algum tipo de costura ou bordado, como o Leonilson (Geração 80) ou o Arthur Bispo do Rosario.”

A moda do Jerry Fernando continua encantando. Suas peças são pequenas poesias que refletem os novos caminhos da moda: a produção, o consumo e o descarte dos produtos. Reduzir, reusar, reciclar, as tendências do Futuro, sem abandonar a criatividade.