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Renato e Seus Blue Caps: O primeiro guitar hero do Brasil

Jorginho Maravilha/Divulgação -
Ao lado de Cid Chaves, desde 1965 na banda, Renato, 75, sola em sua guitarra durante show recente em São Paulo
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“Se um médico abrisse meu abdômen, sairia um monte de sapo”, brinca Renato Barros, ao responder qual é o segredo para manter a banda de rock conhecida como a mais antiga do mundo em atividade ininterrupta. Aos 75 anos, o guitarrista e cantor que dá nome ao grupo é também o único membro original de Renato e Seus Blue Caps, que, no próximo ano, completam seis décadas de existência, contadas desde sua fundação, lá em 1959.

“É muito aborrecimento… cara que entra uma hora na banda; depois sai e dá um trabalho para arrumar outro”, explica Renato, bem-humorado, entretanto, e sem se lembrar quantos músicos passaram pelos Blue Caps, que já tiveram como integrantes Michael Sullivan e Erasmo Carlos, além dos irmãos dele – o cantor Ed Wilson (1945-2010) e o baixista Paulo César Barros, fora da banda desde 1989.

Além de Renato, o Blue Cap mais antigo é o também cantor e compositor Cid Chaves, desde 1965 com ele. Darci Velasco (teclados em geral, há 26 anos na banda), Amadeu Signorelli (baixo, há 24) e Gelsinho Morais (bateria, filho de Gelson Morais, ex-baterista do grupo) completam a formação que toca hoje à noite na Barra.

Identificado com a Jovem Guarda, o grupo “soa mais pesado ao vivo”, garante o guitarrista, sem perder o humor. “Tem distorção. Hoje vai cara que pegou o rock dos anos 1980, um público mais jovem... Quando eu falo ‘jovem’, eu falo de 50 anos”, interrompe, rindo.

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Ao lado de Cid Chaves, desde 1965 na banda, Renato, 75, sola em sua guitarra durante show recente em São Paulo (Foto: Jorginho Maravilha/Divulgação)

O blues é outra influência para Renato Barros, citado no livro “Heróis da guitarra brasileira”, lançado em 2015 pelos jornalistas Leandro Souto Maior e Ricardo Schott.

Buddy Guy e Eric Clapton estão entre os guitarristas preferidos dele, mais associado aos Beatles devido a versões como “Menina linda” (“I’ve should have known better”) e “Meu primeiro amor” (“You’re lose that girl”), entre outras. “Respeito muito o George Harrison, mas meu estilo é diferente, tocava muito, em casa mesmo, com o Celso Blues Boy (1956-2012), que era meu amigo”, diz o músico, que afirma estar “ainda aprendendo” – prática vinda da infância em família no bairro da Piedade. “Meu pai, também Renato, foi ator e minha mãe cantora, compunha tocava violão… A gente vivia em uma família musical, que fazia música de brincadeira todo sábado à noite, e pegamos isso”, lembra. “Até que veio o rock’n’roll, com Bill Haley and his Comets tocaram no Maracanãzinho… Não fui ver, mas lembro que me marcou – e marcou minha passagem da música brasileira para o rock”.

Em um giro dessa direção, Renato e Seus Blue Caps incluem hoje, em parte do show, uma homenagem a Tom Jobim – “maior músico brasileiro”, como atesta seu band leader –, com músicas como “Corcovado” e “Garota de Ipanema”, ao lado sucessos pop-rock, como “Pequena lágrima” e “Você não soube amar”.

É uma curiosidade para a banda, que, em 1966, participou do longa metragem “Rio, amor e verão” como representante do rock, cuja rivalidade com a bossa nova pontuava a história do filme. “A gente, a Jovem Guarda… éramos vistos como coisa ‘do outro lado do túnel’, mas nunca entrei nessa briga. Pelo contrário, sempre gostei muito de bossa nova, do desafio de tirar suas harmonias”, conta Renato, ao descrever sua prática contínua. “Sempre pego o violão na sala e tiro músicas de Nat King Cole, standards de jazz, de que gosto muito e que também entre os meus preferidos, quanto aos guitarristas”, afirma, citando virtuosos como Joe Pass e George Benson.

Se treina diariamente, o guitarrista diz que nunca se preocupou em oficializar a banda como a mais antiga no Guiness Book, por ter “muita burocracia” e que nem pensava nisso. Ele atribui a descoberta ao jornalista gaúcho Cunha Junior, hoje apresentador do Metrópolis, na TV Cultura, de São Paulo “Me contou, durante uma entrevista nossa à RBS. Aí, eu falei dos Rolling Stones, mas ele lembrou que eles começaram depois, em 1962”, lembra Renato, além de tudo responsável pelas primeiras gravações das clássicas “Negro gato” e “Gatinha manhosa” e coautor da balada de despedida “Devolva-me”.

Mais conhecida recentemente na voz de Adriana Calcanhotto, esta balada foi composta por ele com Lilian Knapp, da dupla Leno e Lilian, com que namorou, e acabou servindo como uma canção de separação deles. “‘Negro gato’ é do Getúlio Côrtes, que trabalhava com a gente [como roadie], gravamos antes do Roberto Carlos. ‘Gatinha manhosa’ o Erasmo [que a assina em parceria com Roberto] deixou para nós, quando saiu da banda”, lembra Renato. “É pena que não tenham feito sucesso com a gente, porque ‘Menina linda’ estava muito estourada e não deixou espaço”, lamenta – sem perder o ímpeto. “Tem gente que pode parar de tocar. Eu não, vivo disso”, se orgulha.

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SERVIÇO

RENATO E SEUS BLUE CAPS Teatro Bradesco Rio. Av. das Américas, 3900, loja 160 - Barra. Hoje, às 21h30. Ingressos de R$ 40 a R$ 160.