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Festival marroquino anuncia concorrentes e atrações paralelas, apostando no debate racial com a seleção de Green book, drama sobre intolerância cotado a Oscars

Divulgação -
Viggo Mortensen vive o preconceituoso e truculento motorista de Maherhasala Ali em "Green Book", de Peter Farrely, um dos filmes mais cotados para disputar a estatueta do Oscar 2019
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Antenado com o acirramento das discussões raciais no mundo, a partir da história da amizade entre um motorista preconceituoso interprertado por Viggo Moretensen e um pianista negro vivido por Mahershala Ali, “Green book”, um dos filmes mais cotados a disputar o Oscar 2019, tem uma parada já confirmada nas telonas da África, como destaque de um dos eventos de maior prestígio daquele continente: o Festival de Marrakech. É uma maratona cinéfila que vai de 30 de novembro a 8 de dezembro. Criado em 2001 para celebrar a integração da produção audiovisual africana com o resto do mundo, o evento marroquino vai dar a esta comédia dramática de Peter Farrelly com Viggo e Ali uma vitrine de gala, com direito a passagem de seu elenco pelo tapete vermelho.

Ainda inédita no Brasil, a produção entrou em um pacote de longas-metragens de forte apelo popular, com fortes chances de conquistar troféus nesta temporada pré-Oscar. Ao lado dele, em sessões hors-concours, estão “No portal da eternidade”, de Julian Schnabel (com Willem Dafoe vivendo Van Gogh); “Cafarnaum”, de Nadine Labaki (que deu o prêmio especial do júri de Cannes à diretora libanesa e “Roma”, o drama de Alfonso Cuarón, feito para a Netflix, que ganhou o Leão de Ouro em Veneza. Tem espaço para o Brasil na seleção paralela The 11th Continent: entramos ali com a coprodução portuguesa “Chuva é cantoria na aldeia dos mortos”, de Renée Nader Messora e João Salaviza, já laureada em Cannes (prêmio especial do júri na seção Un Certain Regard) e no Festival do Rio (troféu Redentor de melhor direção).

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Viggo Mortensen vive o preconceituoso e truculento motorista de Maherhasala Ali em "Green Book", de Peter Farrely, um dos filmes mais cotados para disputar a estatueta do Oscar 2019 (Foto: Divulgação)

Também tem competição em Marrakech: 14 produções concorrem à Estrela de Ouro e outros prêmios. O Brasil entra na equação de produtores do thriller argentino “Vermelho sol”, de Benjamin Naishtat, sensação do último Festival de San Sebastián: saiu de lá com troféus de melhor direção, ator (Dario Grandinetti) e fotografia, para o pernambucano Pedro Sotero, de “Aquarius” (2016). “A ideia era fazer um filme policial com referências dos anos 1970 mas que discutisse o avanço da ditadura na Argentina dos anos 1970, cujo avanço começou com uma onda de intolerância bem parecida com que vocês vivem agora aqui no Brasil”, disse Naishtat ao JB durante o Festival do Rio.

“Vermelho sol” concorre com “Las niñas bien”, de Alejandra Márquez Abella (México); “The load”, de Ognjen Glavonic (Sévia); “Diane”, de Kent Jones (EUA); “Red snow”, de Sayaka Kai (Japão), “Joy”, de Sudabeh Mortezai (Áustria); “Look at me”, de Nejib Belkhadi (Tunísia); “Vanishing days”, de Zhu Xin (China); “Une urgence ordinaire”, de Mohcine Besri (Marrocos); “Akasha”, de Hajooj Kuka (Sudão); “All good”, de Eva Trobish; e “La camarista”, de Lila Avilés (México). A essa programação em concurso soma-se uma seleção de títulos de peso em mostras internacionais mas que vão para Marrakech fora da disputa oficial, como o drama americano “Vida selvagem”, de Paul Dano, e a experiência narrativa colombiana “Pássaros de Verão”, de Ciro Guerra e Cristina Gallego.

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Cena de "Poupées de roseau", um dos filmes de Jillali Ferhat, homenageado pelo festival (Foto: Divulgação)

Quem vai julgar os concorrentes à Estrela de Ouro deste ano será um time formado por atrizes (Dakota Johnson, Ileana D’Cruz), artistas visuais (Joana Hadjithomas), cineastas (Lynne Ramsay, Laurent Cantet, Tala Hadid e Michel Franco) e o ator alemão Daniel Brühl. A presidência desse júri foi confiada ao cineasta James Gray, que está finalizando o thriller espacial sci-fi “Ad Astra”, com Brad Pitt (e produção do brasileiro Rodrigo Teixeira).

Este ano, o Festival de Marrakech presta um tributo à prata da casa, homenageando o diretor marroquino Jillali Ferhati, consagrado na Europa desde os anos 1980 com filmes premiados em Cannes como “Bamboo brides”. Serão homenageadas ainda a diretora Agnès Varda, a atriz Robin Wright e o ator Robert De Niro. Serão exibidas ainda versões restauradas de cults como “Os intocáveis” (1987), de Brian De Palma, e “Kundun” (1997), de Martin Scorsese, que passará por Marrakech para dar uma palestra sobre sua carreira

*Roteirista e crítico

Divulgação - Cena de "Poupées de roseau", um dos filmes de Jillali Ferhat, homenageado pelo festival