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Bellocchio em conexão Rio-Itália via máfia

Divulgação -
Bellocchio filma sobre delação de Tommaso Buscetta
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Estima-se que lá pelo dia 22 de dezembro, um dos maiores mestres do cinema italiano de 1965 pra cá, Marco Bellocchio (realizador de cults como “Vincere” e “Bom dia, noite”) vá fincar sua câmera nas areias de Copacabana para arrematar os derradeiros takes de seu novo filme: “Il traditore”. O título, “O traidor” em português, refere-se ao momento da vida de uma lenda do mundo dos gânsters de carne e osso, Tommaso Buscetta (1928-2000), em que ele delatou a prática criminal cotidiana da máfia. Pierfrancesco Favino interpreta o temido criminoso no projeto, iniciado em setembro, quando o diretor convidou a atriz Maria Fernanda Cândido para viver uma das mulheres mais importantes da vida de Buscetta. Além da Sicília, terra de Buscetta, as filmagens vão incluir locações em Roma e em Londres. É o projeto mais ambicioso da carreira recente do cineasta, que lançou um curta, “La Lotta”, este ano em Cannes, em projeção especial.

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Bellocchio filma sobre delação de Tommaso Buscetta (Foto: Divulgação)

“Máfias são sequelas do fascismo, sobretudo do fascismo velado pelo Estado”, disse Bellocchio ao JB em Cannes, em maio, quando o projeto de “Il traditore” começou a ser delineado. “Eu nasci numa Itália fascista, em uma família de nove irmãos. Recebemos uma carta de congratulações de Mussolini, o ditador do nosso país, parabenizando meus pais por terem tidos tantos filhos, dando à Itália braços para trabalhar. E fora esse jogo do fascismo, havia a Igreja que cerceava tudo, que patrulhava as relações, em especial no momento em que o Comunismo surgiu como uma luz para a minha geração. A Itália de hoje não é mais aquela, mas ainda sofre com contradições do jugo fascista”.

Em 2016, o diretor passou pelo Brasil, participando da Mostra de São Paulo, onde teve acesso diretor às novas formas de se produzir no Brasil. “Eu tenho uma relação antiga com o cinema brasileiro que vem dos anos 1960, quando estudei com Gustavo Dahl e Paulo Cézar Saraceni, dois amigos que já se foram e deixaram muitas saudades em meu coração”, disse Bellocchio. “O futebol é uma arte que nos unia, em anos em que éramos mais moços. Mas tínhamos os filmes como paixão maior do que a bola. A amizade é a principal recordação que eu tenho, sobretudo pela falta que sinto de Paulo e do também cineasta Gustavo, meus dois grandes companheiros de liceu no Centro Sperimentale di Cinematografia, em Roma. Aquele tempo de estudo, que deu no Cinema Novo de vocês, era um momento de juventude, no qual desfrutávamos com plenitude da euforia da criação e da revolução estética, com sonhos de usar a Arte como um instrumento de transformação”.

*Roteirista e crítico de cinema