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Bete Balanço regado a vodca

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Cannes foi ao delírio na projeção de “Leto” - a palavra usada pelos russo para “Verão”, título brasileiro desta experiência pop do diretor Kirill Serebrennikov – quando percebeu que uma cinebiografia em P&B, de 126 minutos, de um roqueiro pouco conhecido fora das fronteiras eslavas, viraria um musical de alta rotação imagética. É um “Bete Balanço” da União Soviética, empenhado em resgatar um tempo em que o rock’n’roll era revolução, sendo nostálgico, mas nunca melancólico. Preso sob a acusação (falsa, segundo os artistas da Rússia) de malversação de verbas públicas, Kirill (cineasta respeitado por filmes como “O discípulo”) vem arrebatando corações com sua emotiva reconstituição dos anos 1980, apoiado em uma fotografia de um requinte plástico arrebatador, que se abre para vinhetas animadas, nos moldes da velha MTV, quando se cantarola de “Psycho killer”, dos Talking Heads, pelas ruas. Esse é um dos hits que embalam a história de sucesso do compositor e músico soviético de origem coreana Viktor Tsoi (1962-1990), cujas letras serviram de bandeira para uma geração que cresceu vendo a URSS se esfacelar. Suas cifras flertam com a liberdade, cantada com ecos punk à la Ramones por sua banda, Kino. Vivido por Teo Yoo, ator alemão com descendência familiar da Coreia, Viktor foi “o” poeta de Leningrado, o Leningrado do R-Rock, o roquenrol russo. Krill, que nasceu em 1969, ouviu Tsoi em sua juventude e levou os ideais do músico para seu cinema, que transpira irreverência. (R.F.)