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Sob o confete da gargalhada

Tudo acaba em festa

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Tempos de crise econômica costumam, historicamente, provocar uma baixa na comédia, como filão de mercado, dando mais vazão a gêneros sombrios como o terror e o noir, como se viu no crack da Bolsa de 1929 (Frank Capra e Ernest Lubitsch salvaram a pátria ali) e como se vê nos dias de hoje, frente aos desacertos financeiros mundiais: desde “Ted” (2012) um veículo para o riso não se firma como fenômeno. O Brasil vem gozando do combustível da neochanchada desde 2005, quando “Se eu fosse você” (2005) inaugurou essa frente, sem se preocupar com o esgotamento dos recursos naturais do humor nacional – mas a erosão deste solo fértil já se faz notar, com as más bilheterias de bons filmes cômicos neste segundo semestre. Eis que, neste finzinho de anos, um diretor numa linha evolutiva estética ascendente, André Pellenz (“Minha mãe é uma peça”) pode fazer diferença, ao trazer a melhor comédia do ano (de longe): “Tudo acaba em festa”. O enredo se resume a uma peripécia: um funcionário de RH de uma empresa de cosméticos, o fracassado Vlad (Marcos Veras), precisa fazer uma festança de fim de ano pra agradar seus colegas e elevar o prestígio de seu chefe (o sempre impecável Nelson Freitas). Usando um esquema de “171zação”, Vlad puxa, estica, solta e enrola na firma a fim de botar sua micareta na rua. Apoiado na montagem sempre arejada do editor Marcelo Moraes (de “Meu nome não é Johnny”), Pellenz faz da preparação um desfile de confusões, buscando uma estrutura narrativa à moda hollywoodiana: lembra “A última festa de solteiro”, com Veras pagando de Tom Hanks. O acerto maior é o time de coadjuvantes, em a cantora vivida por Priscila Assum e os figurantes fissurados em teoria dramática encarnados por Pablo Sanábio e Elisa Pinheiro (cantando o axé “Poeira” de maneira memorável). (R.F.)