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Queimando lentamente

Em Chamas

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ee Chang-Dong, um dos melhores e mais intensos cineastas coreanos, infelizmente não filma tanto quanto deveria. Com apenas seis filmes em 20 anos, o diretor não é tão prestigiado quanto seus contemporâneos e isso é outro problema. Em 2018, fomos agraciados com um novo e espetacular filme seu, adaptado de um conto de Haruki Murakami, que se comunica com o isolamento emocional que Chang-Dong continua filmar.
Um jovem entregador reencontra uma amiga de infância, que lhe pede para alimentar seu gato enquanto viaja. Ao voltar envolvida com um homem de classe social elevada à deles, Jong-su se desestabiliza, ao mesmo tempo em que cria um improvável vínculo com Ben, iniciando com eles um triângulo de desenvolvimento desconcertante. Aos poucos, o diretor começa a explorar a história de obsessão de seu protagonista, que costura livremente uma relação de possessão muda, pela vida de Hae-mi e pelos relatos de Ben.
Através de um habilidoso jogo entre as imagens captadas (nas lentes de Kyung-Pyo Hong) e as ideias fornecidas, o diretor cria um caleidoscópio entre o que captar e o que descartar da memória, com um suspense psicológico crescente e sutil, que não se faz quase perceber até explodir. O talento do trio protagonista é realçado por um diretor que não esconde estar tratando sobre o poder implosivo da solidão, abrindo labirintos mentais prontos a nos fazer reféns. O que fica é um embate entre a razão e o que se imagina ser a razão, um caminho escuro e sem volta onde se esconde a dúvida, nesse filme obrigatório em qualquer lista do ano.

Frank Carbone/Especial para o JB

* Membro da ACCRJ