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Um canteiro de ousadia

Animação Tito e os pássaros integra a relação dos 25 filmes inscritos para obter indicação do Oscar. Lista será afunilada em janeiro

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om um protagonista negro, "Homem-Aranha no Aranhaverso" é a aposta da Marvel contra a Pixel
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Chegamos à “Oscar season”, o apelido dado à temporada em que a indústria cinematográfica em peso volta suas atenções às premiações que circundam a estatueta da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood e, este ano, fala-se já em prêmios para Spike Lee (por seu “Infiltrado na Klan”, que estreia semana que vem por aqui), para Gleen Close (por “The wife”) e para “Green book”, com Viggo Mortensen e Mahershala Ali. Isso sem contar toda a torcida organizada em torno de “Nasce uma estrela”, de Bradley Cooper, e para “Bohemian Rhapsody”.

Porém, a categoria que mais (e melhor) está prometendo surpresas para a cerimônia de 2019 não envolve grandes estrelas, nem diretores combativos: é o prêmio de melhor longa-metragem de animação de que mais se espera diversidade e inteligência. É onde o Brasil pode fazer a festa, graças à produção “Tito e os pássaros”, uma reflexão sobre o medo, dos diretores Gabriel Bitar, André Catoto e Gustavo Steinberg.

A produção brasileira inclui a lista de 25 filmes inscritos para brigar por uma vaga na disputa pelo prêmio animado da Academia, que será entregue em 24 de fevereiro: o rol de potenciais concorrentes foi anunciado pelo site Awards Daily, especializado nas láureas das telas. Desses 25, ficam só cinco, a serem anunciados no dia 22 de janeiro. Mas a julgar pelas inscrições, vai ser um evento diferente, desafiando a hegemonia da Pixar/Disney. Até a Marvel vai entrar no páreo, sobretudo agora que Stan Lee (1922-2018), o patriarca da empresa, morreu.

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om um protagonista negro, "Homem-Aranha no Aranhaverso" é a aposta da Marvel contra a Pixel (Foto: reprodução)

Uma das grifes mais poderosas da indústria do entretenimento, por sua linha de super-heróis, a Marvel quer ter um Oscar pra chamar de seu e vai tentar, via Sony Pictures, emplacar uma aventura animada já anunciada nas cenas pós-créditos do sucesso “Venom”: “Homem-Aranha no Aranhaverso”, de Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodney Rothman. Seu protagonista é o jovem negro Miles Morales, o novo Aranha, que se une a Peter Parker para deter uma ameaça que envolve universos paralelos. Nicolas Cage integra o elenco de dubladores nos Estados Unidos.

A julgar pelas primeiras imagens, a Marvel tem fortes chances de ganhar, isso se conseguir debelar a força de “WiFi Ralph: Quebrando a internet”, a sequência de “Detona Ralph” (2012), a nova atração do império de Mickey Mouse. Fora que o marido da Minnie Mouse tem ainda em seu arsenal o fenômeno “Os Incríveis 2”, que tem apelo no coração da Academia pela força de seus personagens. Mas, este ano, a Disney vai ter adversários mais alternativos em sua estrada de glória.

Se do lado das superproduções, “WiFi Ralph” vai brigar com o novíssimo Homem-Aranha, no campo das produções independentes ele vai enfrentar o cultuado Wes Anderson com “Ilha de Cachorros”. Esta distópica fábula rendeu ao cineasta o Urso de Prata de melhor direção no Festival de Berlim. Nessa produção, Wes narra a saga de um garoto que busca seu cão de estimação em um depósito de material reciclável em um Japão futurista.

“Esta é uma mistura de Miyazaki com Kurosawa, para misturar épico e fabulação”, disse Wes ao JORNAL DO BRASIL, na Berlinale, em fevereiro. “Tenho uma filhinha pequena, cujo tempo de vida é o tempo que eu gastei fazendo este filme”.

Falando das terras japonesas, espera-se delas um trio de candidatos ao Oscar de Animação: a sensação de Cannes “Mirai”, de Mamoru Hosoda; “Fireworks”, que Akiyuki Shinbo e Nobuyuki Takeuchi exibiram no Festival de San Sebastián; e “Lu está livre”, que rendeu a Masaaki Yuasa o prêmio de melhor filme em Annecy, em 2017. O primeiro desses títulos fala de um menininho de 4 anos que viaja no tempo após ser tomado de ciúmes frente à chegada de sua irmãzinha. O segundo acompanha os dilemas de uma adolescente que sonha em fugir de casa, mas que é prejudicada por uma aparição sobrenatural em sua aldeia. Já “Lu...” trata de uma sereia que quer bater papo com humanos.

“A animação ganha muito com o colorido regional, com as influências culturais que cada diretor traz de sua nação”, diz Hosoda ao JB em Cannes, em maio.

Há chances de a China concorrer na seara animada com “Have a nice day”, uma comédia criminal de Liu Jian sobre uma maleta disputada pelo submundo do crime. De terras latinas, além do nosso “Tito e os pássaros”, há um mexicano com fôlego para troféus: “Ana y Bruno”, de Carlos Carrera, cineasta que assolou as bilheterias de seu país em 2002 com “O crime do padre Amaro”, com Gael García Bernal. Em três meses, saberemos quem será selecionado.

Rodrigo Foneca/Especial JB

*Roteirista e crítico de cinema