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Lars e o mundo real: confira a crítica de 'A casa que Jack construiu'

Divulgação -
Uma Thurman contracena com Matt Dillon em A casa que Jack construiu, novo longa-metragem dirigido pelo cineasta dinamarquês Lars Von Trier
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Nestes tempos em que a troca de ideias, o debate dialético, a conversa foram substituídas por linchamentos virtuais em redes sociais, a (ainda) imensurável reflexão filosófica, fantasiada de niilismo, oferecida por Lars von Trier em cada um de seus filmes passou a ser reduzida a mero sensacionalismo e sadismo. Consciente do vazio que passou a reinar nos espaços críticos, por conta do preconceito com as discussões intelectuais, o diretor dinamarquês, que sacudiu as convenções de representação do cinema em “Dogville” (2003) e “Dançando no escuro” (Palma de Ouro em 2000), resolveu reagir, depois do seminal “Melancolia” (2011), com egocentrismo. Ele hoje só fala de si. Essa reação, contudo, não desabilita aquilo que faz dele um titã da imagem: o requinte plástico. Um requinte aplicado à observação da desmesura moral e mental da Humanidade. Assim sendo, o febril “A casa que Jack construiu” é um deboche. A repetição de planos, a brutalidade transbordante, a sensualidade pueril... tudo isso está nesta narrativa, sobre 12 anos de crimes na vida de um psicopata, como sintoma do despropósito ético que varreu nosso mundo. A esse sintoma soma-se uma autoanálise: o cineasta retoma cenas de seus sucessos, que entram sem conexão direta à saga do assassino Jack (Matt Dillon, em um deslumbre de atuação), a fim de gerar o desenho psicanalítico de uma cabeça que se rejeita as tolices do real, e se imola para nós em delírios criativos.

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Uma Thurman contracena com Matt Dillon em A casa que Jack construiu, novo longa-metragem dirigido pelo cineasta dinamarquês Lars Von Trier (Foto: Divulgação)

* Roteirista e crítico de cinema

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A CASA QUE JACK CONSTRUIU: **** (Muito Bom)

Cotações: o Péssimo; * Ruim; ** Regular; *** Bom; **** Muito Bom