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White album recebe edição de luxo remixada em estéreo e 5.1 surround

Divulgação -
George, Paul. John e Ringo em sessão de fotos no dia 28 de julho de 1968, em Londres. O antológico disco começou a ser gravado em maio daquele ano e foi concluído em outubro
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No dia 22 de novembro de 1968, lojas de discos de todo o planeta receberam dois LPs de capa totalmente branca e com o título em relevo da mesma tonalidade, que pouca gente parecia perceber e ali estava escrito “The Beatles”. Nono disco da banda de Liverpool e mais conhecido como “White album”, esta foi a mais ousada e desconcertante viagem sonora de Paul, John, George e Ringo. Em seu aniversário de 50 anos, o trabalho recebe uma edição comemorativa que reflete toda (ou quase toda) experimentação musical do quarteto que mudou para sempre a história da música: um box com seis CDs e Blu-ray contendo 107 músicas, ou seja, 5 horas e 27 minutos de faixas originais remasterizadas por Giles Martin – filho do produtor George Martin -, extras de gravação, ensaios e jam sessions. Infelizmente, o box chega ao Brasil pela metade, apenas com os CDs 1, 2 e 3.

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George, Paul. John e Ringo em sessão de fotos no dia 28 de julho de 1968, em Londres. O antológico disco começou a ser gravado em maio daquele ano e foi concluído em outubro (Foto: Divulgação)

As 30 canções do álbum original foram remixadas por Giles Martin e pelo engenheiro musical Sam Okell, em som estéreo e 5.1 surround, acompanhadas por 27 versões acústicas e 50 sessões de gravação, um mergulho profundo e irreversível na fase mais caótica da banda que dava seus primeiros indícios de estar perto do fim. Após o choque conceitual de “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts’ Band”, os Beatles se enfurnaram para intermináveis sessões de gravação em Abbey Road. “Tínhamos deixado a Banda de Sgt. Pepper’s para tocar no Champs-Élysées e então seguimos para novas direções sem rumo”, disse Paul McCartney, em sua introdução escrita para o lançamento do “White album”.

Sem rumo, sem a coerência temática do álbum anterior, mas repleto de faixas que entraram para a história. A sequência inicial é arrebatadora nas três primeiras faixas: a sarcástica “Back In The U.S.S.R.”, uma paródia bem-humorada do surf rock dos Beach Boys que tomavam os Estados Unidos de assalto; a balada “Dear prudence” em que John sugere que todos olhem para o que temos em volta; e a funkeada “Glass onion”, com uma linha de baixo insinuante. E espalhadas ao longo do duplo ainda estão a sabedoria filosófica de George em “While my guitar gently weeps”, ao cantar o verso “with every mistake we must surely be learning” (com cada erro devemos aprender, com certeza), e oferecer um dos mais belos solos de guitarra já executados desde que o rock é rock. “Don’t pass me by”, escrita e interpretada por Ringo, mostra uma faceta até então desconhecida do baterista.

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Beatles (Foto: Divulgação)

Boa parte das composição do “White album” surgiu em Rishikesh, na Índia, entre fevereiro e abril de 1968, quando Paul, John, George e Ringo Starr e suas mulheres iniciaram uma espécie de curso/estágio ou rituais na Academia Maharishi de Meditação Transcendental. Em um cartão-postal para Ringo, que havia retornado a Londres antes dos companheiros, John escreveu: “Temos algo como dois discos prontos agora. Pegue a sua bateria”.

Durante a última semana de maio, os Beatles se reuniram na casa de George, em Esher, Surrey, onde tocaram 27 músicas em versão acústica - conhecida depois como Esher Demos (CD 3). As sessões de estúdio começaram em 30 de maio de 1968, no Abbey Road Studios. Por 20 semanas, o quarteto dedicou a maior parte do tempo em sessões no estúdio. A técnica de gravação foi radicalmente oposta à usada em “Sgt. Pepper’s”. Em vez de acrescentar as partes separadamente em uma fita de várias faixas, as sessões foram gravadas em grupo com um vocal principal em fitas de quatro ou oito faixas. Normalmente, os Beatles gravavam tomada após tomada para uma música, como fica claro na tomada de número 102 de “Not guilty”, uma faixa que sequer foi para o disco original. Este formato de gravação ao vivo resultou em uma estrutura nervosa, por vezes fora de controle, uma senha para novas sonoridades como o punk indie rock.

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White album (Foto: Divulgação)

A sessão final aconteceu no dia 16 de outubro. Foi uma maratona de 24 horas com George Martin para escolher a sequência de músicas dos lados A e B dos discos 1 e 2 e para completar a edição das transições entre as faixas. O processo revelou-se estafante para o produtor, que acumulava outros trabalhos, entre os quais a trilha orquestrada para a animação “Yellow submarine”, lançada um pouco depois. Martin tirou três semanas de férias do estúdio, confiando sua estimada sala de controle ao assistente Chris Thomas. Em 22 de agosto, Ringo também deixara as sessões por 11 dias. Ao retornar, deparou-se com a bateria coberta de flores, um gesto de afeto mesmo quando tudo levava a crer que os laços que uniam os Fab4 estavam prestes a se romper.

E foi justamente no álbum, em que os estilos dos quatro Beatles podiam ser percebidos, que as diferenças começariam a sobrepor as afinidades.

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O lendário produtor George Martin se reúne em estúdio com os Beatles em 1968 (Foto: Divulgação)

A diversidade e ecletismo das composições do “White album” proporcionaram momentos como “Happiness is a warm gun”; “Martha my dear”, quase um eco da sonoridade do “Sgt. Pepper”; “Revolution”, a resposta de Lennon aos radicais da contracultura que cobravam um maior engajamento político dos Beatles no efervescente ano de 1968 foram os versos “But when you talk about destruction / Don’t you know that you can count me out” (“Mas quando você fala de destruição / Sabe que não pode contar comigo”). Também proporcionou as líricas “Julia” e “Blackbird”; a bomba sexual nos blues elétrico “Why don’t we do it in the road”; o groove da instrumental “Everybody’s got something to hide except me and my monkey e as protopunk “Birthday” e “Helter skelter”.

Para criar os sons estéreo e 5.1 surround para o “White album”, Giles Martin e Sam Okell trabalharam com um time de engenheiros especialistas e restauradores de som. A nova versão inclui o mix estéreo de George Martin, tirado diretamente das fitas de quatro e oito faixas, que guiou todo o trabalho. “Ao remixar o “White album”, tentamos trazê-lo o mais próximo possível dos Beatles em estúdio”, explica Giles. “Descascamos as camadas da ‘cebola de vidro’ com a esperança de inserir velhos e novos fãs em um dos mais diversos e inspiradores discos já feitos”, disse, numa referência a “Glass onion”.

A arte minimalista do “White album” foi criada pelo artista Richard Hamilton, uma das principais figuras britânicas envolvidas no conceito da pop art que teve na Inglaterra seu centro mais pulsante. O exterior todo branco traz as palavras “The Beatles” em alto-relevo na frente e o número de catálogo do disco, na lateral. As primeiras edições também foram numeradas na frente, o que foi feito igualmente para a versão Super Deluxe da edição remasterizada.

A versão com seis CDs e Blu-ray vem em um pacote que contém um livro de 164 páginas, que reproduzem a cor brilhante do disco original com fotos de John, Paul, George e Ringo, além do pôster com uma colagem de fotos em um lado e as letras das músicas escritas à mão do outro, fotos nunca publicadas, partituras e caixas de fitas, além de reproduções dos anúncios originais do álbum.

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Filho de George Martin, Giles Martin, foi o responsável pela edição comemorativa dos 50 anos do "White album" (Foto: Divulgação)

As partes escritas do livro trazem depoimentos de Paul e Giles Martin, que explicam detalhes das faixas e das sessões e informações sobre os preparativos do lançamento mundial. Especialistas em Beatles, o historiador Kevin Howlett e o jornalista John Harris escrevem artigos sobre o legado do álbum duplo.

O “White album” foi o primeiro disco dos Beatles a ser lançado por sua própria gravadora, a Apple. Lançado em estéreo e mono no Reino Unido e em estéreo nos Estados Unidos, o disco duplo imediatamente se tornou um fenômeno de vendas, entrando no chart britânico em 1º lugar e ficando lá durante oito das 22 semanas em que apareceu na parada. Também estreou em primeiro lugar nos Estados Unidos e manteve a posição em nove de 65 semanas.

Em crítica à revista “Rolling Stone”, o cofundador da publicação Jann Wenner foi direto ao ponto: “É o melhor disco que eles já lançaram, e somente os Beatles são capazes de fazer algo ainda melhor”. Nos Estados Unidos, o álbum recebeu o certificado de platina 19 vezes. Em 2000, foi colocado no Hall da Fama do Grammy, por suas “gravações de qualidade interminável e significância histórica”. Ao mesmo tempo que foi a banda mais bem-sucedida da história do rock, foi a que mais se arriscou musicalmente e isto não passou em branco.

Serviço

White Album edição DeLuxe remasterizado (três CDs)

Gravadora: Universal

Preço: R$ 124,90

Divulgação - Beatles
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Divulgação - O lendário produtor George Martin se reúne em estúdio com os Beatles em 1968
Divulgação - Filho de George Martin, Giles Martin, foi o responsável pela edição comemorativa dos 50 anos do "White album"