A cantora e compositora Wanda Sá sobe hoje ao palco para executar, pela primeira vez, em 54 anos de carreira, o álbum “Wanda vagamente”, seu disco de estreia - gravado em 1964. O show faz parte da série “Discos históricos da MPB”, que leva à Sala Municipal Baden Powell trabalhos relevantes da música brasileira. Cartão de visitas da chamada segunda geração da Bossa Nova, “Wanda vagamente” inclui a primeira gravação de canções como “Inútil paisagem” (Tom Jobim e Aloysio de Oliveira) e composições de Vinicius de Moraes, Carlos Lyra, Francis Hime, Marcos Valle, Edu Lobo e Geraldo Vandré, entre outros.
O então produtor Roberto Menescal, que também assina duas faixas no disco, reuniu uma seleção de músicos para gravar com a jovem cantora, como os pianistas Eumir Deodato, Tenório Jr e Luis Carlos Vinhas; na bateria, Édson Machado, João Palma e Dom Um; os baixistas Sérgio Barroso, Manoel Gusmão e Otávio Bailly e Ugo Marotta, cujo vibrafone é uma das marcas registradas do álbum.
“Ouvi esse disco pela primeira vez aos 12 anos. Não é só um álbum de cantora. Não conheço outro disco de Bossa Nova com três pianistas desse nível se revezando nas gravações. Eumir, um gênio, estava assinando seus primeiros arranjos. Há coisas belíssimas com órgão. Só faltou o Sérgio Mendes, que viria a ser parceiro da Wanda em sua carreira nos Estados Unidos”, afirma o jornalista e produtor Arnaldo DeSouteiro, curador e idealizador da série de álbuns históricos.
Umas das curiosidades do álbum aconteceu durante a gravação de “Inútil paisagem”, um presente de Tom Jobim para a jovem cantora. “O Menescal me buscou em casa no seu Fusca. Éramos nós, o Sérgio Barroso e um técnico de gravação. Fomos para o estúdio, perto da Central do Brasil. As ruas estavam vazias. Não havia ninguém lá, nem a orquestra tinha ido. Enquanto esperávamos, passamos o som, com baixo, guitarra e voz. Na volta, percebemos as ruas ainda desertas e os militares. Era 1º de abril, o dia do golpe!”, relembra. E foi com esta versão que a música entrou para o disco.
Além da canção que se tornaria um dos clássicos de Tom (em parceria com Aloysio de Oliveira), “Wanda vagamente” inclui a primeira feita por Francis Hime “Sem mais adeus” (parceria com Vinicius) e a histórica “Tristeza de nós dois” (Durval Ferreira, Bebeto Castilho e Mauricio Einhorn). Há ainda uma canção da própria Wanda, “Encontro” (com letra de Nelson Motta). Além de assinar a produção do disco, Menescal contribuiu com a faixa-título “Vagamente” (em parceria com Ronaldo Bôscoli) e a jazzística “Adriana” (com letra de Lula Freire). “‘Adriana é a faixa que abre o álbum e foi composta no compasso de cinco por quatro, que era uma inovação na época. Era claramente inspirada no hit jazzístico “Take five” (Dave Brubeck e Paul Desmond)”, destaca DeSouteiro.
Cantora de voz suave que marcou presença no chamado Sambajazz ou Bossa’n’jazz, Wanda nunca chegou a fazer um show de lançamento de “Vagamente”, uma vez que, depois da gravação, embarcou em turnê pelos Estados Unidos, iniciando sua carreira internacional – gravaria por lá dois álbuns antes de dar uma pausa de 27 anos na carreira, só retomada em 1992.
DeSouteiro lembra que, apesar de sua importância para a história da MPB, “Wanda vagamente” não era um trabalho muito badalado no Brasil. “Para ser ter uma ideia, o disco só foi relançado em CD por aqui em 2001, cinco anos depois de seu lançamento no Japão”, comenta o produtor.
No show de hoje, Wanda será acompanhada pela banda formada por Adriano Souza (piano), Adriano Giffoni (baixo) e João Cortez (bateria). E terá a participações especiais de Menescal na guitarra, Sérgio Barroso no baixo e Ugo Marotta no vibrafone. “Será uma grande alegria reviver aquela atmosfera”, diz a cantora.
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SERVIÇO
SHOW “WANDA VAGAMENTE”
(SÉRIE DISCOS HISTÓRICOS DA MPB)
Participações especiais: Ugo Marotta, Sérgio Barroso e Roberto Menescal
Sala Municipal Baden Powell (Av. Nª. Sª. de Copacabana, 360; Tel.: 2547-9147)
Hoje, às 20h. Ingressos a R$ 60 e R$ 30