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Festival do Rio exibe cinebiografia de Simonal com olhar em sua vida pessoal

Agência Febre/Divulgação -
Simonal: A nova dimensão
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Por trás da ribalta, um homem em sua vida pessoal, a qual refletia o frisson da ascensão, o devaneio do ápice e a agonia na antessala da queda.

Mostrar “o pai, marido, empresário” foi o caminho escolhido por Leonardo Domingues para trilhar a cinebiografia de Wilson Simonal (1938-2000), que estreia hoje no Festival do Rio de Cinema, depois de passar pela Mostra de São Paulo, pelo Festival Internacional de Viña del Mar, no Chile, e por Gramado, onde faturou três prêmios Kikito, entre os quais os de melhor direção de arte, para Yurika Yamazaki, e de melhor fotografia, para Pablo Baião.

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Simonal: A nova dimensão (Foto: Agência Febre/Divulgação)

O terceiro Kikito, de melhor trilha musical, saiu para dois personagens de “Simonal”: os músicos Max de Castro e Wilson Simoninha, filhos do protagonista. “O filme acaba trazendo a vida dele em família, esse homem por trás da fama, do que já se conhecia”, resume Domingues, que estreia na direção, depois de trabalhar em edições, como a de “Onde a coruja dorme” (2012), e pós-produções, como as de “Herbert de perto” (2009), “Bruna Surfistinha” (2010) e “João Saldanha” (2010), além do documentário “Simonal – Ninguém sabe o duro que dei”, documentário sobre o cantor, produzido e dirigido por Calvito Leal, Claudio Manoel e Micael Langer, lançado em 2009.

Foi então que Leonardo Domingues travou contato mais profundo com a história do cantor. “Até então, conhecia ele dos boatos, da fama de dedo-duro. Trabalhando naquela pós-produção, há dez anos, assisti a muitos depoimentos na íntegra, antes do lançamento, e entendi como realmente ocorreu”, conta o diretor, que, além do documentário, baseou-se nas biografias “Nem vem que não tem - A vida e o veneno de Wilson Simonal” e “Simonal: Quem não tem swing morre com a boca cheia de formiga”, escritas por Ricardo Alexandre e Gustavo Alonso, respectivamente.

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Simonal (Fabricio Boliveira) corteja Tereza (Ísis Valverde) na boate Drinks, em Copacabana, onde era crooner (Foto: Agência Febre/Divulgação)

Wilson Simonal, de fato, conhecia agentes do Dops, os quais acionou para forçar Rafael Viviani, responsável por auditar sua contabilidade, a assinar uma confissão de que estaria roubando seu dinheiro. A alegação de que seria informante foi uma forma de reforçar a ameaça, em um tiro que saiu pela culatra: em 1974, o cantor acabaria sendo condenado, junto com dois agentes, pelo crime de extorsão. Além disso, como suposto delator, acabou “condenado” ao ostracismo pela classe artística.

O sucesso de “Simonal – Ninguém sabe o duro que dei” – escolhido como melhor longa-metragem documentário no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro de 2010, entre outras premiações – motivou Leonardo Domingues a fazer a cinebiografia. “Comecei a pensar nisso já em 2010 e falei com o Max e o Simoninha, ‘vamos fazer uma montagem, com atores, sobre a história dele’”, recorda o diretor, que deu um duro para “escrever roteiro [em parceria com Victor Atherino] e captar dinheiro” até conseguir realizar as filmagens, em 2016, e finalizar neste ano o filme – previsto para entrar no circuito comercial em 2019.

“Eu sou mais montador, às vezes codirijo, então, de vez em quando, pensava ‘vou ter que fazer um filme desse tamanho’... confesso que senti medo. Felizmente, cheguei lá, graças também à ajuda de muita gente, como o Sérgio Pena, que fez a preparação de elenco, o Felipe Habib, na preparação de vocal... ele, que já havia preparado a Andrea Horta no filme sobre a Elis [Regina]”, enumera.

Habib preparou a voz de Fabrício Boliveira, que interpreta o cantor e realmente cantou nas gravações, embora não tenha tido a voz aproveitada para a trilha sonora. “A voz que escutamos nas músicas é a do Wilson Simonal , mas foi muito importante, para dar mais veracidade que, na hora de gravar, o Fabricio cantasse mesmo, não apenas fingisse. O resultado é muito mais natural”, ressalta Domingues. Segundo ele, Sérgio pena foi essencial para preparar, especialmente, a relação vista na tela entre o cantor e sua primeira mulher, Tereza Pugliesi, encarnada por Ísis Valverde. “Ela já havia atuado com o Fabrício em ‘Faroeste caboclo’, o que ajuda o entrosamento”.

Na cinebiografia, o contador, vivido por Bruce Gomlevsky, tem o sobrenome levemente alterado por Taviani. Letícia Isnard vive a mulher dele – ela que, em 1971, ao estranhar seu desaparecimento, denunciou sequestro, dando início ao processo contra Simonal.

A opção por retratar “o homem por trás da fama” leva a uma linha do tempo descrita pela vida pessoal do cantor. Assim, sua ascensão profissional coincide com o encontro com Tereza, a quem conhece em 1962, quando era crooner da boate Drink, em Copacabana. O casamento também conta parte de sua queda, em que Tereza apoia o marido, mas também “o coloca contra a parede”, enquanto ele ainda acredita piamente que irá se reerguer, afundando mais a cada impulso que tenta nesse sentido, qual pisasse na areia movediça em que mergulhara.

“Nós mostramos o Simonal de 1960 [quando dá baixa do Exército e começa a cantar] até 1975, quando ele ainda não estava em toda a decadência à qual chegaria, de alcoolismo [que viria a matá-lo, por cirrose hepática], falta de dinheiro… Tereza ainda continua com ele por muito tempo. Até, inclusive, o Simoninha começar a trabalhar e pagar dívidas deles, depois de muitas mudanças para casas cada vez menores, porque não ganhava mais o suficiente para bancar as anteriores, maiores”, explica o diretor.

Wilson Simonal, que depois se casaria novamente com Sandra Cerqueira, com a qual viveu até sua morte, viria a ficar preso durante o segundo semestre de 1976, após apelar da primeira condenação e conseguir mudar sua tipificação para constrangimento ilegal.

Além de contemporâneos com os quais Simonal conviveu, como Elis Regina, Erasmo Carlos, Ronaldo Boscoli e Luis Carlos Miele, o filme ainda tem Leandro Hassum como Carlos Imperial – produtor e compositor de algum de seus maiores sucessos, como “Carango” e “Nem vem que não tem” –, Caco Ciocler como agente do Dops, Silvio Guindane e Fabricio Santiago como parceiros dos Dry Boys, seu primeiro grupo vocal, formado em 1960.

A trilha sonora se divide entre músicas do repertório de Wilson Simonal, versões instrumentais e trilha original. “O Max e o Simoninha compuseram algumas faixas incidentais para o filme, além de escolherem as gravações antigas do pai – das quais também produziram algumas sequências instrumentais, que pontuam partes do filme, como, por exemplo, com um sax fazendo a melodia na passagem de uma cena”, explica Domingues, sobre o recurso, também bastante utilizado em novelas e séries de TV.

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SERVIÇO

SIMONAL – FESTIVAL DO RIO

Odeon (Praça Floriano, 7, Cinelândia), hoje, às 19h. Kinoplex São Luiz 2 (Rua do Catete, 311, loja 203/204, Largo do Machado), amanhã, às 13h45. Roxy (Av. Nossa Senhora de Copacabana, 945-A), domingo, às 20h45. Ingressos: R$ 26 (inteira) / R$ 13 (meia). http://www.festivaldorio.com.br/br/mostras/premiere-brasil.

Agência Febre/Divulgação - Simonal (Fabricio Boliveira) corteja Tereza (Ísis Valverde) na boate Drinks, em Copacabana, onde era crooner