“Livre para todos os públicos”, de acordo com a classificação indicativa, chega hoje às lojas a gravação ao vivo da turnê “Caravanas”, de Chico Buarque, em CD duplo e DVD. O roteiro do primoroso show, que marca o retorno do artista aos palcos depois de cinco anos – e que ele dedica ao saudoso Wilson das Neves – é um sopro de leveza e lirismo, capaz de abafar o som dos que vociferam. Um alento, que dura 1h40m.
Assistido por mais de 200 mil pessoas no Brasil e em Portugal, entre dezembro do ano passado e setembro deste ano, “Caravanas ao vivo” traz 31 músicas de diversas fases da carreira de Chico, desde os anos 1960, como “Sabiá”, parceria com Tom Jobim, que venceu o III Festival Internacional da Canção (em 1968, sob vaias de parte do público do Maracanãzinho), à crueza da faixa-título do novo álbum (Biscoito Fino, 2017), que fala da discriminação da “gente ordeira” do asfalto contra “os suburbanos tipo muçulmanos”, que se cruzam sob o sol de Copacabana (“Tem que bater, tem que matar, engrossa a gritaria/ Filha do medo, a raiva é mãe da covardia/ Ou doido sou eu que escuto vozes/Não há gente tão insana/Nem caravana do Arará”).
Sob a direção musical do maestro Luiz Cláudio Ramos (violão e guitarra) e acompanhado de sua irrepreensível banda, Chico começa o espetáculo pelo samba, abrindo com “Minha embaixada chegou”, de Assis Valente (“Minha embaixada chegou/ Deixa o meu povo passar/ Meu povo pede licença/ Pra na batucada desacatar”) e “Mambembe”.
Nesse bloco inicial, um divertido Chico brinca com o seu “Partido alto”. Vai daí para uma outra praia, cantando com Bia Paes Leme (teclados/vocais) a versão que fez para o sucesso do cubano Pablo Milanés, “Yolanda”, a que se segue o bolero “Casualmente”(com melodia do contrabaixista Jorge Helder) e “A moça do sonho”, que assina com um de seus mais importantes parceiros, Edu Lobo, e cai matando com outra pérola assinada pelo Maestro Soberano, “Retrato em branco e preto” (1974). O show prossegue com “Desaforos”, “Injuriado” e “Dueto”, que gravou inicialmente com Nara Leão, na década de 1970 e, no mais recente álbum de estúdio, com a neta Clara.
O autor carioca, então, pinça uma música de sua “Ópera do Malandro”, montada em 1978 sob a direção de Luís Antônio Martinez Corrêa, e – mexendo com os corações da plateia – interpreta “Palavra de mulher” e “As vitrines”, esta da década de 1980. O público delira e o espetáculo, com cenário de Helio Eichbauer e luz de Maneco Quinderé, vai tomando inesperados caminhos a cada trecho.
Toda a grandeza da obra de Chico está refletida em “Caravanas ao vivo”. E o cantor e compositor mantém esse ritmo, misturando as músicas que fez para o balé “O Grande Circo Místico” com o tema central da peça “Gota d’água” (dele e Paulo Pontes) e as belíssimas canções com Cristóvão Bastos (“Todo sentimento” e “Tua cantiga”), além da primeira com o mais jovem parceiro, o neto Chico Brown, lançada no ano passado, “Massarandupió”. A homenagem à Estação Primeira de Mangueira certamente não poderia faltar, como a inclusão de “Futuros amantes” e “Paratodos”, que a plateia acompanha com entusiasmo. Apenas uma observação: o encarte não traz as letras das músicas do show.
Enfim, o novo trabalho que Chico Buarque entrega ao mercado hoje é, seguramente, um dos melhores e mais bem produzidos de sua trajetória e – a esta altura do ano – uma interessante sugestão de presente de Natal. Para complementar, só faltava mesmo o show de lançamento para o caloroso público dos Arcos da Lapa, porém a assessoria do cantor informa que não há qualquer apresentação do artista prevista este ano, pelo menos no momento. Torçamos para que aconteça até o verão.
O projeto “Caravanas ao vivo” foi gravado em São Paulo, no Tom Brasil, nos dias 13 e 14 de abril, e foi utilizado um estúdio móvel, pilotado por Gabriel Pinheiro, que permite ouvir com clareza as manifestações da plateia, em coros de “Lula livre!” e “Fora, Temer!” A direção do DVD é de Joana Mazzucchelli.
A banda que acompanha Chico Buarque nesse show é formada por, além dos já citados Luiz Cláudio Ramos, Bia Paes Leme e Jorge Helder, João Rebouças (piano), Jurim Moreira (bateria), Marcelo Bernardes (sopro) e Chico Batera (percussão). O CD de estúdio está concorrendo à categoria “álbum do ano” no Grammy Latino, melhor álbum de MPB e a faixa-título à “melhor canção em língua portuguesa”.
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SERVIÇO
CARAVANAS AO VIVO
Lançamento do CD duplo e DVD do recente show da turnê de Chico Buarque.
Preços sugeridos: R$ 59,90 (CD) e R$ 54,90 (DVD). Biscoito Fino, 2018