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Exposição no CCBB celebra o centenário de Athos Bulcão

Artista uniu arte e arquitetura com mais de 300 obras

Divulgação -
Óleo sobre tela sem título de 1962. Série "Carnaval" remete aos desfiles do corso do Rio Antigo
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Uma arte que transcende os espaços formais das galerias e transborda para a cidade, torna-se acessível para qualquer pessoa, mas é carregada de complexidade e nos desafia a pensar. Assim é o trabalho de Athos Bulcão, cuja obra estabeleceu por décadas uma relação profunda com a arquitetura. Mais conhecido pelos azulejos que ornaram diversas realizações do gênio Oscar Niemeyer, o artista dominou várias técnicas de expressão como desenho, pinturas, fotomontagens, cenários e figurinos. Diverso e múltiplo. De hoje a 25 de janeiro o Centro Cultural Banco do Brasil promove a exposição “100 Anos de Athos Bulcão”.

Com curadoria de Marília Panitz e André Severo, a exposição reúne trabalhos produzidos entre 1940 e 2005, muitos deles inéditos, e ainda algumas obras de artistas de gerações seguintes influenciados pelo “professor”, como gostava de ser chamado. A mostra é dividida em oito núcleos que destacam desde a pintura figurativa realizada nas décadas de 1940 e 1950 até produções gráficas, tudo obedecendo uma poética coerente. “A série dos carnavais é extraordinária. O carnaval de Athos remete à sua infância, aos desfiles do corso no Rio de Janeiro. Seu irmão mais velho, Jaime, era amigo de Noel Rosa, e o introduziu nesse mundo”, comenta Marília Panitz, ao revelar que Athos utilizou a mesma estrutura de composição, que flerta com a Renascença, para obras sacras e profanas. Um exemplo concreto é “A Vida de Nossa Senhora”, que está na Catedral do Distrito Federal.

Embora tenha se radicado na cidade que ajudou a projetar com suas formas e cores, Athos Bulcão, nascido em 1918, passou a juventude no Catete. Na cidade natal, deixou um acervo que pode ser contemplado a céu aberto, tais como os painéis de azulejos no Sambódromo, cuja montagem foi finalizada livremente pelos operários que podiam formar as imagens que quisessem com as peças desde que não formassem círculos. A Fundação Getúlio Vargas, o Hospital da Lagoa e fachadas como a de um prédio residencial na Rua Cupertino Durão (Leblon) e dos hotéis Hilton e Rio Atlântica, ambos em Copacabana, são exemplos vivos desta obra.

Os croquis feitos para o grupo teatral Tablado, os figurinos das óperas “Ahmal” e “Os visitantes da noite”, de Menotti, trabalhos gráficos e os lenços que desenhou quando viveu em Paris podem ser vistos pelo público que pode se deliciar com um aplicativo criado especialmente para a mostra: o público pode apropriar-se de projetos do artista, escolhendo padrões e cores para aplicá-los em fotos de locais públicos como os Arcos da Lapa ou a Catedral da Pampulha, por exemplo.

As gravuras produzidas nos últimos anos de vida do artista - parou de criar em 2005, devido aos sintomas do Mal de Parkinson - mostram traços coesos e espessos. “Athos procurava não afastar as mãos do papel, para evitar os tremores”, conta Marília Panitz.

Um interessante núcleo da exposição é Devaneios em preto e branco, com experimentações em fotomontagens lenas de um surrealismo pouco conhecido na trajetória do artista que se dedicou a esta técnica entre 1952 e 1955. Ao voltar da Europa, onde foi bolsista, Athos se deu conta de que não conseguiria viver de pintura. A decoração de interiores nã o interessava. Dedicou-se ilustrar capas de livros, de discos e artigos em jornais e revistas, mas foi tomado por impulso, digamos, bauhasiano. “Me deu vontade de fazer uma coisa que não fosse fotografia, nem teatro e nem cinema. Comecei a recortar figuras e e colocar uma ao lado da outra. É um exercício de enquadramento. Aquilo é uma coisa que talvez esteja ligada a cinema na minha cabeça, ao movimento. Eu imaginava filmezinhos em torno daquilo”, diz o artista em dos paínéis da exposição em que ele define cada etapa de seu processo criativo, conduzindo-nos a mergulhar em sua essência.

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SERVIÇO

100 ANOS DE ATHOS BULCÃO

Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro (Rua Primeiro de Março, 66 - Tel: 3808-2020)

Hoje a 25/01 – qua. a seg., das 9h às 21h - Entrada franca