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"Bohemian rhapsody": erros de cronologia

Reprodução -
Mercury no Rock in Rio, em 1985
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Queen foi uma banda inglesa, que surgiu em plena era do glam rock. Por isso, em seus primeiros anos, se valia um pouco deste estilo no visual. Logo, tentou escapar do modismo e cavou um tipo de som próprio, o rock de arena. Temas grandiosos e que raspavam até no progressivo. Mas, ao longo da carreira, flertou com tudo, nunca sendo realmente nem uma banda de hard rock, glam ou pop.

Em “Bohemian rhapsody’”, acompanhamos essa evolução. E, como acontece em cinebiografias, o filme tem vários furos na cronologia. Logo na primeira hora (dura 2h15m), dois anacronismos, incomodam: quando a banda começa a fazer as primeiras turnês internacionais, dá a entender que se apresentou no Brasil no final dos anos 1970 (mostram imagens do primeiro Rock in Rio), quando, na verdade, a primeira vinda da banda ao Brasil foi em 1981, para dois shows em São Paulo, no estádio do Morumbi). A banda só veio ao megafestival carioca em 1985, para outras duas grandes apresentações, poucos meses antes do “Live Aid”, que é o ápice do filme. Como a plateia do RiR1 foi a maior que a banda já teve, optaram por não tirar o impacto do evento principal. Compreensível.

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Mercury no Rock in Rio, em 1985 (Foto: Reprodução)

Embora a cena da plateia cantando “Love of my life” tenha sido muito emocionante no Rio, foi de uma das apresentações paulistas que saiu uma versão ao vivo, pirata, que, na época, tomou as rádios brasileiras de assalto. Também, no filme, eles dão a entender que a banda compôs o hino “We will rock you” nos anos 1980, para cativar as plateias de estádios; quando, na realidade, a música faz parte do álbum “News of the world” (aquele do robô), lançado em 1977.

Mas, como os próprios Brian May (guitarrista) e Roger Taylor (baterista) foram os consultores do filme, os “erros”, parece, foram consentidos, para ajudar o roteiro a fluir. Por isso, toda a fase entre 1980 e 85, está truncada. Inclusive, induz o espectador a achar que a banda deu uma parada neste período (para um momento solo de Mercury), quando, na verdade, gravou três álbuns de estúdio, e também, a trilha sonora do filme “Flash Gordon”. Mercury, por exemplo, só se descobriu doente de Aids depois de tudo isso. Mas, pela linha do tempo do filme, em 1984, ele já está debilitado pela doença. Tudo para não emperrar a narrativa, que culmina no “Live Aid”. Afinal, não é um documentário.

*Jornalista