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Roger Waters reverencia Marielle e repudia políticos de direita em apresentação exuberante

Affonso Nunes -
Palco e estrutura de cores, luzes e tecnologia da turnê "Us +Them" levam oito dias para serem montados
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A chuva não deu trégua para as milhares de pessoas que foram ao Maracanã assistir ao show da turnê “Us + Them”, de Roger Waters, na noite de quarta no Maracanã - marcado pela excepcional performance e a maestria do baixista e ex-líder do Pink Floyd, bem como por seu ativismo político. No entorno do estádio, ambulantes faziam a festa desde o final da tarde, vendendo capas de chuvas a R$ 5, enquanto sobravam cambistas sem a mesma sorte.

O bandeiraço dos militantes do PT começou na abertura dos portões e durou até o início do show, às 21h20. Muitos espectadores circulavam pela plateia com camisetas ou adesivos de Haddad e Bolsonaro, mas não foram poucas as mulheres de diferentes faixas etárias estampando a hashtag #EleNão nas roupas ou na própria pele.

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Palco e estrutura de cores, luzes e tecnologia da turnê "Us +Them" levam oito dias para serem montados (Foto: Affonso Nunes)

Preferências políticas à parte, todos entraram cedo para não perder cada minuto do primorosamente produzido e polêmico show, de duas horas e meia de duração, e seu espetáculo de som, luzes e efeitos cenográficos da turnê - Waters participa ativamente de todos os detalhes da produção. Só a estrutura do palco, com mais de 1.000m² e o telão de LED de 790m², junto a cem toneladas de equipamentos - transportada por 25 carretas - leva uma semana para ser montada e quatro dias para ser desinstalada.

Quando as luzes do palco se acenderam e a gravação de vozes femininas que entoavam um canto em playback aumentou, o público correu para seus lugares e aí começou, em alto e bom som, o coro do #EleNão por uma significativa parte das pessoas. Vaias também foram ouvidas, ao fundo. No entanto, o #Ele Não - para surpresa de alguns - não foi mostrado no telão na relação de políticos “Neofascistas em ascensão” (no lugar da citação ao candidato PSL, havia uma tarja com a inscrição “Ponto de vista político censurado”, abaixo de nomes como Trump (EUA), Le Pen (France), Orbán (Hungria), Kaczynski (Polônia) e Kurz (Áustria).

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Sob chuva, Waters regeu o afinado coro no Maracanã (Foto: Bruno Kaiuca)

Antes de cantar “Mother”, Roger Waters exibiu no telão um artigo publicado em Londres, e que partiu seu coração, sobre a vereadora Marielle Franco, assassinada no Estácio há mais de 220 dias, e chamou ao palco a viúva, Mônica Benício, a irmã, Anielle Franco, e a filha, Luyara Santos. Ganhou de Mônica uma camiseta preta com os dizeres “Lute como Marielle Franco”, que vestiu no mesmo instante e posou com as três, homenageando a vereadora e falando da necessidade de se defender os direitos humanos.

O tom do artista ao longo do extraordinário show não agradou aos que passaram a maior parte do tempo fazendo selfies, gravando lives para exibir aos amigos e desconheciam o perfil de Waters. Uma lástima, pois além de perderem alguns dos melhores momentos, incomodavam quem queria apenas curtir o espetáculo.

Bruno Kaiuca - Sob chuva, Waters regeu o afinado coro no Maracanã