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Flavio Marinho estreia comédia dedicada a irmão e conflitos da relação

Beti Niemeyer/Divulgação -
Leonardo Franco vive ator e autor teatral interpelado pelo irmão comerciante (Marcos Breda, sentado), na hora de estrear peça dirigida por Muniz (Alice Borges)
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“Essa peça só vai acontecer por cima do meu cadáver!”. O grito do antagonista Raul, (Marcos Breda) parece contar a história de “Irmãozinho querido”, que Flavio Marinho estreia hoje no Teatro Sesc Ginástico, após cinco anos de tentativas e mudanças feitas pelo autor e diretor.

“Irmãozinho querido” também é o nome da peça que o ator, autor e produtor Leo Gurjão (Leonardo Franco) se prepara para estrear, sob direção de Muniz (Alice Borges), quando seu irmão Raul irrompe no palco para tentar impedi-lo – em sua montagem anterior, Leo expôs os pais de maneira jocosa e Raul tem pânico de ser tratado assim.

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Leonardo Franco vive ator e autor teatral interpelado pelo irmão comerciante (Marcos Breda, sentado), na hora de estrear peça dirigida por Muniz (Alice Borges) (Foto: Beti Niemeyer/Divulgação)

O texto começou a nascer em 2013, logo após a morte de Vitor, irmão nove anos mais velho de Flavio Marinho. “Comecei a escrever o texto dois dias depois da morte dele como um homenagem a ele, e uma forma de externar a nossa relação, muitas vezes, conflituosa, para além do ‘som do silêncio’ que tanto marcou nossa família”, afirma.

Desde então, recessão econômica e outros problemas adiaram a realização da peça e forçaram o autor a refazê-la, “para não perder a ideia”, chegando finalmente à montagem quando o crescimento da polarização política acabou dando ensejo a mais uma alteração do texto, atualizando seu contexto.

“Inicialmente, ela não tinha nenhum rivalidade política, até porque isso não fazia parte dos conflitos que eu tive com o meu irmão; nisso, éramos até bem afinados”, conta o diretor. “Mas, com a iminência da eleição levando ao crescimento de uma tensão política que eu nunca tinha visto em tal proporção, tantas pessoas rompendo relações, achei que não podia deixar de fora – inclusive por ser algo que leva a tantas brigas em família”, explica o dramaturgo, de 63 anos de idade e 31 de carreira, incluindo peças como “Abalou Bangu” e programas de TV como o humorístico “Sai de baixo”.

Com o tempo, o texto foi se alterando conforme suas reflexões sobres as relações fraternais. Concebido, em princípio, como um alter ego, Leo Gurjão perdeu essa característica, com Marinho buscando uma síntese mais dividida entre os opostos.

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Flavio Marinho (Foto: Beti Niemeyer/Divulgação)

“A cada vez que reescrevia, eu repensava aspectos sobre a rivalidade, os limites entre verdade a mentira naquilo que um conta do outro. Então, procurei explorar a graça dos defeitos de cada. Se o Raul só pensa em dinheiro, o Léo é vaidoso ao extremo”, resume o autor, um dos expoentes do teatro Besteirol a partir dos anos 1980, ao lado de Mauro Rasi e Miguel Falabella, entre outros.

Da mesma forma, Raul também não retrata Vitor, que era professor de educação física. Na peça, o irmão do dramaturgo é mais novo – e comerciante.

Os atores, porém, se identificaram na coincidência entre ficção e vida real. “O Léo Gurjão é dono do teatro, assim como eu”, ressalta Leonardo Franco, proprietário do Solar de Botafogo. “E, assim como o Flavio, com a dificuldade para montar a peça também venho sofrendo com essa questão financeira dos últimos tempos”, acrescenta.

Alice Borges faz observação semelhante. “A Muniz, que acaba sendo uma mediadora, dando um alívio cômico ao conflito dos irmãos, só quer montar a peça, porque depende dela para pagar as contas, tem filhos. Assim como eu, que vivo do teatro, essa necessidade é forte”, assume.

Marcos Breda, que já trabalhara com Marinho em montagens como a do musical “Como eliminar seu chefe”, vem acompanhando a saga do diretor. “Me comprometi com o Flavio de que estaria dentro. Quando ele me disse que havia conseguido o patrocínio, abri mão de outros trabalhos para os quais havia sido chamado e vim. Mais do que profissional, é uma questão afetiva”, define.

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SERVIÇO

IRMÃOZINHO QUERIDO

TEATRO SESC GINÁSTICO. Av, Graça Aranha, 187, Castelo. Tel.: 2279-4027. Quinta a sábado, às 19h. Domingo, às 18h. Até 18 de novembro. Entrada: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia). Capacidade: 513 lugares. Bilheteria: terça a domingo, das 13h às 20h. Duração: 90 minutos. Classificação etária: 12 anos.

Beti Niemeyer/Divulgação - Flavio Marinho