ASSINE
search button

Heranças e desafios do teatro: Unirio sedia encontro internacional, com entrada franca, espetáculos, oficinas e mesas redondas

Helena Cooper/Divulgação -
O brasileiro Jeff Fagundes dirige e encena o espetáculo "Iroko", que reflete sobre o lugar do negro nas artes
Compartilhar

O teatro e as artes performativas são manifestações milenares de cultura. Sempre existiram e sempre existirão, mas seus realizadores se debruçam constantemente sobre um dilema, que é o fato de novos públicos não estarem se formando. A herança recebida pela atual geração de artes cênicas e o legado a ser transferido para os que virão depois é o tema central da primeira etapa do Neap Fest, o primeiro festival de intercâmbio teatral internacional do Instituto Internacional de Teatro da Unesco, que vai de hoje a domingo no campus da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).

Organizado pelo Coletivo Egrégora, único grupo brasileiro a ocupar o comitê Jovens Artistas Promissores (Network of Emerging Artists and Professionals -Neap), o evento é totalmente gratuito e conta com sete espetáculos e performances nacionais e internacionais, dez oficinas, oito mesas de debates e duas mostras de cenas curtas de artistas nacionais.

O ITI é uma instituição criada e mantida pela Unesco desde 1948. Tendo mais de 90 países como membros, trabalha no desenvolvimento de plataformas de intercâmbio internacional e pontes educacionais para profissionais das artes performativas (teatro, dança e música). A instituição é responsável por um congresso bienal que visa discutir o cenário teatral na esfera global.

Macaque in the trees
O brasileiro Jeff Fagundes dirige e encena o espetáculo "Iroko", que reflete sobre o lugar do negro nas artes (Foto: Helena Cooper/Divulgação)

E o tema “Heranças” é o fio condutor através do qual o Egrégora e os grupos estrangeiros farão uma imersão coletiva de trocas de experiências, discutindo o que herdamos das tradições culturais, como transformá-las e que legado deixar. “O número de jovens que vai ao teatro ainda é muito baixo. É preciso pensar em como reformular a presença do jovem na arte. Falo tanto do jovem artista quanto da formação de plateias”, alerta o artista Jeff Fagundes, único representante da América Latina do comitê. “Herança não é só o que deixamos para o outro, mas o que recebemos de alguém. É importante que o mais velho incentive o mais jovem a fazer e pensar arte e, da mesma forma, celebre e prestigie os feitos dos mais jovens, para que estes prossigam. A união de diferentes gerações da classe artística pode nos salvar da crise moral que enfrentamos no país”, acredita.

Ao longo dos cinco dias de festival, a programação se dividirá entre os espetáculos sediados no campus da Praia Vermelha, mesas de debate e oficinas, além da montagem de “Iroko”, do Coletivo Egrégora, encenado pela primeira vez no Congresso Internacional de Teatro, realizado no ano passado na cidade espanhola de Segóvia. Dirigido e encenado por Jeff Fagundes, o espetáculo aborda a história da criação do universo, migração e escravatura negra na América do Sul e as memórias de familiares do ator criador. Utiliza textos e reflexões geradas por performances de rua, análise da mudança de Estado, crises existenciais e a presença do negro nas artes.

Outra encenação de destaque do evento é “54 Silhouettes”, texto de Afrika Ukoh e direção de Willliam Obasi, que conta o dilema do ator nigeriano Victor Chimezie, que tem a chance de fazer sucesso em Hollywood, mas o papel oferecido a ele é algo que vai contra seus princípios. Dividido entre a ambição e seus ideais, ele precisa decidir se quer ou não fazer o filme.

“Quando fui convidado para organizar o festival com o Jeff, fiquei apreensivo. Não havia nenhum patrocínio e era um projeto imenso. Mas vi ali também uma oportunidade de trazer para a universidade uma discussão sobre os saberes acadêmicos e não acadêmicos, as tradições e os cruzamentos desses lugares, os pontos de encontro. Acredito que isso enriquece o nosso trabalho, especialmente pensando no intercâmbio que o Neap Fest propõe entre países, estados, cidades e pessoas”, analisa Jorge Oliveira, codiretor-geral do evento.

Para compor as mesas de debate e as oficinas teatrais, o Egrégora e as coordenadoras Tatiana Motta Limae e Nara Keiserman selecionaram alguns profissionais das artes performativas brasileiras e estrangeiras a fim de gerar maior diversidade e troca de práticas e ideias. Entre os convidados estão Charles Eutubiebi, dos Emissários Internacionais da Nigéria; Sunaina Panthy, pesquisadora de Butoh na cura dos traumas causados pelo terremoto no Nepal em 2015; a especialista em Stanislavski e Meyerhold, Maria Thais (USP/Cia Balagan) e o especialista em teatro brasileiro Fernando Mencarelli (UFMG) e o Pesquisador do Teatro Negro Marcos Antônio Alexandre (UFMG). Coletivos teatrais cariocas como Arame Farpado, Cia Multifoco, Teatro de Afeto e Cia Placenta também trarão discussões, entrelaçando o discurso acadêmico com os dos artistas independentes.

A segunda etapa do festival está prevista para o segundo semestre do próximo ano com o mesmo formato, mas itinerante por alguns dos países que compõem o Neap – ITI/Unesco, como a Espanha, o Canadá, Filipinas, Egito, Índia, Nepal, Suécia, Irã, Nigéria, Argélia e África do Sul. Neles, o coletivo irá propor ações, articulando residências em teatros e universidades.

-----

SERVIÇO

NEAP FEST- Unirio Campus Praia Vermelha (Av. Pasteur, 296 – Urca; Tel.: 2542-4306) De hoje a domingo.

Entrada franca