Dois anos longe da estrada, mas não parada. De volta à ativa, a cantora Pitty apresenta ao público carioca hoje, na Fundição Progresso, sua primeira turnê nacional desde o afastamento provisório dos palcos devido ao nascimento de sua filha, Madalena. Durante o período sabático, a baiana mais roqueira do Brasil não parou. Gravou documentário sobre maternidade e preparou um trabalho novo que será lançado ao fim do ano.
Sempre desafiando padrões, dessa vez resolveu inverter: em vez de mostrar o álbum e preparar a turnê, vem soltando novidades nos shows que tem dado pelo país. Forma inventiva de dar água na boca e apimentar ainda mais a curiosidade dos fãs. “É um novo ciclo, uma nova forma de trabalhar as músicas”, explica Pitty. “Os tempos são outros e é uma ótima oportunidade para experimentar novos formatos”, justifica.
A estrela percebe que o cenário fonográfico não é o mesmo e busca acompanhar tal evolução. “As pessoas, às vezes, reclamam que o mercado mudou, mas vejo isso como uma coisa boa, uma janela para experimentar o futuro. Se pararmos para ver, esse momento contemporâneo tira o gesso dessa máquina, nos obriga a sermos mais criativos. Tem sido uma delícia misturar músicas inéditas, sem aviso, na turnê. Os fãs adoram, cada show é uma expectativa diferente”.
As surpresas não param por aí. Na turnê, chamada Matriz, o palco é montado de forma não convencional; e o cenário, composto por desenhos exclusivos da artista Eva Uviedo. “A ideia é descobrir coisas que estão na matriz sonora, estética e musical, e como isso se comporta nos dias atuais.” O conceito, simples, se baseia na experiência com sua própria música. “Após uma turnê bastante tecnológica, optei por algo mais intimista, mais humano.”
Com o mesmo sangue nos olhos, a antiga menina de personalidade forte e voz potente hoje é uma mulher que sabe o que quer. Prova disso é ter colocado o marido, Daniel Weksler, pai de Madalena, como baterista da banda, ao lado do guitarrista Martin, do baixista Gui Almeida e do tecladista Paulo Kishimoto. Sem receio de decepcionar antigos fãs, traz referências a seu primeiro disco, Admirável Chip Novo, e arregimenta cada vez mais novos admiradores. “Eu vou seguindo o flow dos tempos”, diz Pitty. “Observo as coisas ao redor e vou me adaptando. Ao mesmo tempo, procuro momentos de isolamento para resgatar minha essência longe de influências externas.”
Num momento sociopolítico conturbado, a diva vive uma fase sem preconceitos. “Tenho tentado descobrir o que é mais puro, o que é matriz para mim enquanto compositora, e isso implica não ter medo de dar vazão a um dub, por exemplo, quando ele aparece”, sorri.
O show expressa bem sua personalidade. Com linguagem contemporânea, o repertório traz singles recentes como “Na Pele”, lançado com participação de Elza Soares, “Contramão”, com Emmily Barreto, do grupo Far From Alaska – que, por sinal, faz o show de abertura hoje – e Tássia Reis, outra que dará canja durante a apresentação da estrela baiana. A canção “Te conecta” é excelente exemplo da nova fase da cantora. Nesse pop reggae a letra sugere: “Para pra pensar se é o teu lugar”. A resposta a ser dada pelo público tende a ser positiva. Afinal, o lugar de Pitty está firme, onde sempre esteve. Não só nos palcos do país como na história do novo e moderno rock brasileiro.
*Jornalista e escritor
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SERVIÇO
PITTY
Fundição Progresso (Rua dos Arcos, 24 – Lapa.
Tel: 3212-0800) Hoje às 22h - R$ 70