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BFI: Três estandartes do empoderamento feminino

Divulgação -
Melissa McCarthy é uma escritora fracassada que falsifica cartas de celebridades
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Três filmes dirigidos por mulheres, encarados como emblemas estéticos para o pleito do empoderamento feminino na indústria do cinema, abrirão debates acalorados no BFI – London Film Festival, já em sua reta final. Dois deles serão vistos no Brasil a partir da semana que vem na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo: “Poderia me perdoar?” (“Can you ever forgive me?”), de Marielle Heller; e “Cafarnaum”, que deu à libanesa Nadine Labaki o Prêmio Especial do Júri em Cannes. Junta-se a eles o tocante “Le filles du soleil”, pilotado pela atriz Eva Husson: um dos longas-metragens mais polêmicos da seleção de Cannes, deste ano, na briga pela Palma de Ouro, este drama de guerra se apoia no talento da iraniana Golshifteh Farahani.

Atriz de “Paterson” (2016) e “À procura de Elly” (2009), “Le filles du soleil” recria a luta de um esquadrão de mulheres curdas para encarar os campos de batalha. Cabe a uma repórter francesa (Emmanuelle Bercot) tornar a luta delas conhecida mundialmente, a partir dos relatos da líder do grupo, vivida por Golshifteh. “Estamos num momento de múltiplas afirmações no mundo, não apenas nas batalhas femininas. E é preciso saber prestigiar as histórias que festejam a união, pois só conectados nas causas solidárias poderemos fazer alguma diferença neste mundo”, diz Golshifteh.

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Melissa McCarthy é uma escritora fracassada que falsifica cartas de celebridades (Foto: Divulgação)

Com sessão na Mostra de SP marcada para o dia 23, “Poderia me perdoar?” é um potencial candidato ao Oscar em 2019, nas categorias de melhor maquiagem e atriz, tendo a radical transformação da comediante Melissa McCarthy. Mais bem-sucedida estrela de humor em Hollywood na atualidade, Melissa passa por Londres hoje, para levar ao festival seu retrato para uma psiquê fraturada. Baseado em fatos reais, o drama em tons de suspense, com direção de Marielle Heller, acompanha a decadência da autora de biografias Lee Israel que, em dificuldades financeiras, passa a falsificar cartas de celebridades. O desempenho de Melissa vem arrebatando elogios.

Respeitada na Europa por cults como “Caramelo” (2007), Nadine Labaki hoje vê sua carreira decolar diante da procura internacional a seu “Cafarnaum”, que será exibido no próximo dia 26 na Mostra de SP. Aplaudido de pé em sessão para a crítica em Cannes, o filme se ampara numa montagem capaz de administrar traços sentimentais distintos em seus atos: começa como thriller de tribunal, vira folhetim, muda para a aventura, cai no trágico e dá uma guinada para uma reflexão social de tônus geopolítico. Na trama, um menino com cerca de 12 anos (ele não sabe), preso por esfaquear alguém (só saberemos lá pelo fim), leva seus pais (relapsos e violentos) à Justiça. O motivo: ele quer processar o casal por ter dado a vida a ele e não ter se esforçado em zelar por seu bem e amá-lo. O guri, Zein, é vivido por uma força da natureza de cerca de um metro de altura, chamado Zain Alrafeea. Abusado, corajoso, enraivecido, ele sai de casa, tenta a sorte em todas as formas de trabalho e acaba tendo de cuidar de um bebê etíope. O neném e ele juntos arrancavam risos, suspiros e choro do público de Cannes. Em seu olhar para cortiços e conjuntos habitacionais, a fotografia do longa de Nadine, assinada por Christopher Aoun, evoca “Cidade de Deus” (2002) em uma lógica de favela movie.

“A indústria de cinema do Líbano é muito acidentada. Por isso, quem pode filmar, precisa aproveitar a deixa para contar histórias que provoquem reflexão em âmbito global. E isso depende do tipo de sintonia e do grau de sinceridade com que você se reporta aos jovens, tendo como questão principal a incerteza que todos carregamos em relação ao futuro”, disse Nadine ao JORNAL DO BRASIL.

Também hoje, o festival recebe o longa que pode desbancar os favoritismos para melhor filme. Com “Shadow” – aventura de guerreiros que protegem os nobres em meio a uma guerra na Ásia –, o chinês Zhang Yimou pode mudar o jogo. Até aqui, as apostas vêm sendo no policial “Destroyer”, da nipo-americana Karyn Kusama; e no drama chileno “Tarde para morir joven”, de Dominga Sotomayor, produzido pelo brasileiro Rodrigo Teixeira.

Iniciado no dia 10 com a sessão de “As viúvas”, de Steve McQueen, o 62º Festival de Londres termina neste domingo, com a projeção de “Stan & Ollie”, de Jon S. Baird, sobre os feitos da dupla O Gordo e O Magro, interpretada por John C. Reilly (como Oliver Hardy) e Steve Coogan (como Stan Laurel).

*Roteirista e crítico de cinema