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Um levante contra a hipocrisia: confira a crítica de 'A última abolição'

Divulgação -
A filósofa Sueli Carneiro dá uma aula sobre exclusões veladas no documentário
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Investigação histórica sobre o mito da democracia racial e sobre hipócritas estratégias para se maquiar a exclusão de cor, “A última abolição” já seria uma atração fundamental, nestes tempos de intolerância institucionalizada, só por sua estrutura dialética - aberta a autocríticas, plural nos focos de debate. Mas, ao lado de sua solidez ética, há uma delicadeza estética na criação de seu discurso cinematográfico, devidamente arejado na montagem de Natara Ney, no modo como depoimentos mais combativos se combinam com declarações de análise mais fria sobre o faz de conta da igualdade de raças no Brasil.

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A filósofa Sueli Carneiro dá uma aula sobre exclusões veladas no documentário (Foto: Divulgação)

Na direção, Alice Gomes constrói uma narrativa em forma de almanaque, no qual vinhetas, ilustrações, fotos e imagens de arquivo pontuam postulações ou indagações sobre fatos, falácias e esquemas de fake news em torno da violência contra as populações negras no Brasil, a partir da brutalidade da escravidão. Fotografadas por Marcela Bourseau com enquadramentos que valorizam a textura dos espaços onde cada entrevista é realizada, autoridades teóricas das mais prestigiados universidades e grupos de estudo do país passam em revista dinâmicas de opressão. Dinâmicas que foram aceitas para a construção de um pacto social hoje decadente. Feito sob a supervisão artística de Jeferson De, realizador do necessário “Bróder” (2010), o longa de Alice aponta para as fissuras da lógica de aparências em nossa sociedade, sobretudo nas falas da filósofa Sueli Carneiro, do Geledés – Instituto da Mulher Negra.

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A ÚLTIMA ABOLIÇÃO: *** (Bom)

Cotações: o Péssimo; * Ruim; ** Regular; *** Bom; **** Muito Bom