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CCBB expõe até janeiro a meteórica carreira de Basquiat, na maior mostra já montada na América Latina

José Peres -
Suportes diferentes e referências à anatomia marcaram o trabalho de Jean-Michel Basquiat
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Com mais de 80 obras, o CCBB abre hoje, no Rio, a maior exposição já montada na América Latina sobre Jean-Michel Basquiat (1960-1988), um dos mais emblemáticos artistas plásticos dos anos 1980 nos Estados Unidos. Os espaços da mostra dividem não apenas fases, mas referências do pintor, destacadas pelo holandês Pieter Tjabbes, curador da mostra

Ele se assume como um dos que subestimaram a arte de Basquiat em sua meteórica ascensão. “Estive com ele duas vezes e deixei de trazer suas obras à Bienal de São Paulo. Acho que, como historiador da arte, preciso de algum tempo para avaliar a inserção das obras na história, mas creio que me redimi agora”, afirma. “Meu maior erro foi não ter comprado nada dele”, brinca Tjabbes, com um fundo de verdade. Os trabalhos de Basquiat não só se valorizaram logo, como seguem subindo de cotação – no ano passado, ele teve uma tela vendida por US$ 110 milhões, a obra de arte americana mais cara da história.

A valorização dos trabalhos de Basquiat não se explica por sua morte precoce, por overdose, aos 27 anos. “Ele deixou uns 1,5 mil trabalhos prontos”, explica o curador. “É que foi quase tudo vendido mesmo”. O sucesso repentino atraiu críticas negativas, devido ao fato de o nova-iorquino, filho de caribenhos, não usar recursos como a perspectiva.

Macaque in the trees
O curador Pieter Tjabbes mostra a obra que considera mais emblemática do (Foto: João Pequeno)

Passados 30 anos, o curador aponta as características como parte de sua expressão e aprendizado informal, muito influenciado por música e TV – jazz e desenhos animados, além de anatomia, inspirado pelo livro médico “Gray’s anatomy”, escrito no século XIX.

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Quadros em parceria com Andy Warhol, como "O ovo", ocupam uma sala (Foto: João Pequeno)

“Minha obra preferida é esta”, diz Tjabbes sobre uma acrílica de 1983, em bastão sobre tela com suportes de madeira, com a inscrição Bracco di Ferro. “Ela reúne todas as principais marcas da obra do Basquiat: a palavra riscada associada à imagem, o preenchimento superficial do quadro, sem profundidade, a anatomia e um suporte diferente”, enumera.

Depois de passar por São Paulo, Brasília e Belo Horizonte, a exposição chega ao Rio com quadros que não estiveram nas cidades anteriores, como o “Coelho vermelho”, de 1982. A diferença ocorre devido à dificuldade encontrada, já que quase toda a obra de Basquiat está em acervos privados, de colecionadores que os alugam para exposições – a do CCBB é composta por obras da família Mugrabi. “Fiquei dois anos negociando”, afirma Tjabbes, ressaltando a concorrência por exposições do artista, montadas recentemente em grandes centros, como Milão, Londres e Nova York.

Amigo e colaborador de Basquiat, Andy Warhol é uma de suas influências expostas, inclusive em uma sala com trabalhos conjuntos da dupla. A outra é Leonardo Da Vinci, pelo mesmo critério, de interesse na interdisciplinaridade. A exposição encerra com quadros e montagens homenageando o jazz e denunciando situações de racismo vividas pelo artista e por amigos dele.

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SERVIÇO

JEAN-MICHEL BASQUIAT

CCBB (R. Primeiro de Março, 66 - Candelária; Tel.: 3808-2020). De quarta a segunda-feira, das 9h às 21h. Até 7/1. Entrada franca.