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Polêmica abre turnê de Roger Waters

Ex-líder do Pink Floyd critica Bolsonaro, divide plateia e está sendo ameaçado de boicote nos próximos concertos

Reprodução -
A projeção da hashtag #EleNão durante a execução da canção "Eclipse" foi o estopim da polêmica na plateia
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Ativista declarado dos direitos humanos e crítico ferrenho do fascismo, o cantor e baixista britânico Roger Waters abriu sua temporada de shows da turnê “Us + Them” no Brasil sob o signo da polêmica. O ex-líder do Pink Floyd incluiu crítica ao direta ao presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), cujo nome foi incluído num telão que denunciava a escalada do autoritarismo no mundo. O nome do brasileiro figurava ao lado dos de políticos diversos, como os presidentes Donald Trump (EUA) e Vladimir Putin (Rússia). E esta não foi a única citação política durante o show assistido por 45 mil pessoas no Alianz Park. O telão do espetáculo também projetou a hashtag #EleNao.

Macaque in the trees
A projeção da hashtag #EleNão durante a execução da canção "Eclipse" foi o estopim da polêmica na plateia (Foto: Reprodução)

As reações da plateia foram totalmente distintas. Podia se ouvir coros de apoio ao gesto do músico e vaias e gritos de “fora PT” por cerca de cinco minutos. Waters precisou interromper o show duas vezes para justificar sua postura com uma fala neutra. “Eu sabia que isso ia acontecer, porque, em São Paulo e na América do Sul, vocês têm a fama de terem muito amor no coração”, disse.

Depois, emendou: “Vocês têm uma eleição importante em três semanas. Vão ter de decidir quem querem como próximo presidente. Sei que não é da minha conta, mas sou contra o ressurgimento do fascismo por todo o mundo. E como um defensor dos direitos humanos, isso inclui o direito de protestar pacificamente sob a lei. Eu preferiria não viver sob as regras de alguém que acredita que a ditadura militar é uma coisa boa. Eu me lembro dos dias ruins na América do Sul e das ditaduras, e foi feio”, discursou o autor de clássicos do rock como “Another brick in the wall” e outras que denunciam o autoritarismo.

Waters tinha apenas cinco meses de vida quando seu pai, o soldado inglês Eric Fletcher Waters, foi morto durante a Segunda Guerra Mundial. Essa história dramática sempre povoou sua obra como compositor.

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O nome do presidenciável foi associado aos de outros políticos controversos (Foto: ROBSON MORELLI/ESTADÃO CONTEÚDO)

Um dia após o primeiro show de Waters na capital paulista – a turnê inclui um segundo show na cidade mais concertos em Brasília (13/10), Salvador (17/10), Belo Horizonte (21/10), Rio (24/10), Curitiba (27/10) e Porto Alegre (30/10) - milhares de brasileiros estão entrando na página do Facebook do artista para criticar as citações políticas do espetáculo. Eleitores de Bolsonaro exigiam que o britânico pedisse desculpas ao candidato. Eleitores contrários ao ex-capitão também postaram na página para se solidarizar com Waters. Além de dirigir críticas à Cuba e Venezuela, os adeptos de Bolsonaro estão propondo um boicote às próximas apresentações do artista no país.

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O presidente americano Donald Trump é criticado em projeções durante o show da turnê "Us + Them" (Foto: Kate Izor/Divulgação)

Com repertório predominante de canções do Pink Floyd, o show teve muitas outras referências geopolíticas, como uma tela em que chamava Donald Trump de “porco”. Na abertura do hit “Another brick in the wall”, 12 pessoas apareciam no palco encapuçadas, como se fossem reféns do Estado Islâmico. Estavam imóveis no palco, dando a impressão de que seriam decapitadas. Quando chega a parte do coro, elas tiraram os capuzes. Eram todas crianças. Uma imagem forte. O público só se uniu mesmo no final, em “Comfortably numb”.

ROBSON MORELLI/ESTADÃO CONTEÚDO - O nome do presidenciável foi associado aos de outros políticos controversos
Kate Izor/Divulgação - O presidente americano Donald Trump é criticado em projeções durante o show da turnê "Us + Them"