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Traços do exílio: MNBA lança exposição de gravuras de Lasar Segall, Fayga Ostrower e Axl Leskoschek

Divulgação -
MNBA lança exposição de gravuras de Lasar Segall, Fayga Ostrower e Axl Leskoschek
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Figuras fundamentais do gravurismo produzido no Brasil na segunda metade do século passado, Fayga Ostrower, Axl Leskoschek e Lasar Segall fugiram do nazismo e se radicaram no Brasil, influenciando as gerações que vieram a seguir. O Museu Nacional de Belas Artes e inaugura hoje, a partir das 12h, a mostra “Três gravuristas e o exílio no Brasil” que apresenta 32 obras originais dos três mestres revelando como esse ciclo de partida da terra natal, migração e exílio marcaram o estilo dos artistas e influenciaram as gerações seguintes. “Se você acolhe e dá condições para alguém se desenvolver, essa pessoa contribui para sua nova pátria e ainda deixa um legado”, observa a jornalista Kristina Michaelles, diretora da Casa Stefan Zweig, em Petrópolis, cujo acervo de documentos, cartas, fotos e filmes complementa a exposição, que fica em cartaz até janeiro de 2019 e segue para o museu da sidade serrana num formato um pouco diferente do atual.

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MNBA lança exposição de gravuras de Lasar Segall, Fayga Ostrower e Axl Leskoschek (Foto: Kurt Klagsbrunn)

Fayga, Lescochek e Segall trouxeram novas técnicas, novos olhares e novas formas de pensar a arte e seu processo de criação, sendo que Leskoschek foi mentor da jovem Fayga que também levou adiante a missão de estimular novas vocações.

Militante de esquerda, o austríaco Axl Leskoschek (1889-1975), precisou sair da Áustria tão logo se filiou ao partido comunista de seu país. Adotou o Rio como sua cidade, foi professor na Fundação Getúlio Vargas e teve um ateliê famoso na Glória tendo formado uma geração de expoentes da gravura, como a própria Fayga. Os visitantes podem assistir o documentário “Miniaturas brasileiras”, com cenas do cotidiano que encontrou em sua nova pátria.

Polonesa de origem, Fayga Ostrower (1920-2001) viveu com a família na Alemanha até a fuga cinematográfica na qual era preciso atravessar florestas durante a noite até chegarem à Bélgica e, de lá, para o Brasil, em 1934. Dedicou-se durante meio século à arte e passou do figurativo ao abstrato em suas gravuras. Dedicou-se também à pintura, gravações e ilustrações. A obra de Paul Cezanne exerceu grande fascínio sobre a artista, que contribuiu na adoção do estilo abstrato, causando reação dos críticos e colegas. Além do seu legado artístico, foi uma pensadora que refletiu sobre arte e estética em vários livros, artigos e ensaios e presidiu a Associação Brasileira da Artes Plásticas entre 1963 e 1966.

Ainda nos anos 1960, lecionou no Spellman College, em Atlanta (EUA); na Slade School da Universidade de Londres e, posteriormente, como professora de pós-graduação, em várias universidades brasileiras. Foi quando desenvolveu também cursos para operários e centros comunitários, num importante trabalho de disseminação das artes plásticas. Entre os anos de 1954 e 1970, desenvolveu atividades docentes na disciplina de Composição e Análise Crítica no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Anna Bella Geiger e Lygia Pape foram alguns dos alunos de Fayga que se destacaram em suas carreiras.

O judeu lituano Lasar Segall (1891-1957) veio ao Brasil pela primeira vez em 1912, pois sua irmã casara-se com um integrante de um clã judaico radicada em São Paulo, a família Klabin. No ano seguinte, realizou sua primeira individual nas cidades de São Paulo e Campinas, sendo um dos primeiros artistas modernistas a expor no Brasil. Em 1920, viveu alguns anos no país mas acabou regressando à Europa. Com a radicalização das manifestações antissemitas de extrema direita no Velho Mundo, mudou-se de vez para a capital paulista em 1923. Já era artista conhecido. Seu trabalho reflete as escolas impressionista, expressionista e do modernismo. Em declarações públicas, costumava definir sua arte como o “milagre da luz e da cor”.

Segall foi um dos primeiros artistas modernistas a expor no Brasil e seus temas mais significativos foram representações pictóricas do sofrimento humano marcados por guerras e perseguições. Em suas gravuras, o autor do famoso Navio de Emigrantes evoca temas judaicos e a sua aldeia nativa, além do cotidiano do país que o acolheu.

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Fayga Ostrower fugiu da Alemanha e chegou no Brasil em 1934. Em meio século de produção, passou do figurativo ao abstrato em suas gravuras (Foto: Divulgação)

A exposição chega ao público num momento oportuno por provocar uma atitude reflexiva sobre uma temática cada dia mais atual – o sofrimento do exílio, o acolhimento, a riqueza que reside no olhar de uma outra cultura.

Criada em julho de 2012 pelo jornalista Alberto Dines, falecido em maio, a Casa Stefan Zweig funciona no imóvel que foi a última residência do escritor austríaco, de cidadania inglesa, no Brasil. Além de abrigar seu acervo pessoal, o museu que leva seu nome é um memorial do exílio destinado a divulgar as obras de artistas, intelectuais e cientistas que se refugiaram no Brasil no período entre 1933 e 1945 – o auge da perseguição nazista - que contribuíram para a cultura, as artes e a ciência do país.

Stefan Zweig e sua segunda mulher, Lotte, moraram durante cinco meses na casa de número 34 da Rua Gonçalves Dias – autor do célebre poema “Canção do exílio” - até consumarem o seu pacto de morte, em 22 de fevereiro de 1942. O gesto do escritor bem-sucedido de dar fim à vida simbolizou seu desilusão em relação a mundo em guerra e sem esperança. Mesmo vivendo pouco tempo no imóvel, Zweig trabalhou incessantemente: completou sua autobiografia “O mundo que eu vi”, escreveu o conto “Uma partida de xadrez”, retocou algumas obras inacabadas como “Clarissa”, além de elaborar o esboço de “Montaigne”.

Depois da Argentina, o Brasil foi o país que mais acolheu refugiados. Mesmo sem estatísticas oficiais, estima-se que algo em torno de 19 mil pessoas deixaram suas pátrias durante os anos mais cruéis da Segunda Guerra Mundial.

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SERVIÇO

Exposição Três gravuristas e o exílio no Brasil: Fayga Ostrower, Axl Leskoschek, Lasar Segall

Museu Nacional de Belas Artes (Av. Rio Branco, 199. Tel: 3299-0600)

De 9/10 a 3/2

Ter. a sex., das 10h às 18h; sáb., dom. e feriados, das 13h às 18h.

R$ 8 e R$ 4. Ingresso-família (para até 4 membros de uma família) a R$ 8.

Venda de ingressos e entrada até 30 min antes do fechamento do Museu.