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Ele é o Negro Gato

Aos 80 anos, compositor de sucesso na voz de Roberto Carlos lança seu primeiro álbum

Markão Oliveira/divulgação -
Da esquerda para a direita, Callado, Melvin, Benjão e André acompanharam Getúlio Côrtes na gravação e tocam hoje com ele no Teatro Rival
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O apelido já foi dedicado a Luiz Melodia; a composição, atribuída a Roberto e Erasmo. Fã do Rei, o cantor do Estácio a regravou com sucesso, mas o fato é que o compositor de “Negro Gato” e de outras canções gravadas também por artistas que vão de Reginaldo Rossi a Marisa Monte, passando por Fagner, atravessou mais de meio século sem gravar um disco dele.

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Da esquerda para a direita, Callado, Melvin, Benjão e André acompanharam Getúlio Côrtes na gravação e tocam hoje com ele no Teatro Rival (Foto: Markão Oliveira/divulgação)

É o repertório de “As histórias de Getúlio Côrtes”, lançado neste ano pelo selo Discobertas / SuperDiscos, que o cantor e compositor de 80 anos vindo da Jovem Guarda apresenta hoje no Teatro Rival, acompanhado por músicos bem mais jovens que gravaram o álbum com ele, além de convidados especiais.

Na faixa dos 40 anos, Marcelo Callado (bateria), Gustavo Benjão (guitarra), Melvin Ribeiro (baixo) e o multi-instrumentista André Paixão, também produtor do disco, se juntam a Helvécio Parente (piano, sintetizador e órgão) para acompanhar Getúlio Côrtes no palco, onde, em faixas específicas, recebem os cantores Gerson King Combo (irmão de Getúlio), Luellem de Castro e Roberto Frejat (também com sua guitarra), além dos sopros de Max Sette (trompete), Mônica Ávila (saxofone) e Kátia Preta (trombone).

Com os metais, Gerson participa de um set puxado para o soul, enquanto Frejat é esperado para “Negro gato”, que dividiu com o autor, em outubro passado, no Circo Voador, em um tributo a Luiz Melodia, que havia morrido dois meses antes.

A amizade entre os instrumentistas e Getúlio Côrtes vem da década passada, quando alguns deles participavam da banda Os Tremendões, formada por músicos dos anos 1990 que tocavam repertório da dupla Roberto e Erasmo. O organista Lafayette, figura carimbada em gravações da Jovem Guarda, foi incorporado ao grupo, que passou a receber convidados especiais da época – entre eles, Getúlio.

“Desde então, fiquei com aquela ideia na cabeça, de um cara tão importante nunca ter lançado um disco. Quando perguntei, ele me disse ‘nunca me chamaram para fazer um disco’”, lembra André Paixão, também conhecido como Nervoso, ex-baterista de bandas como Beach Lizards e Acabou La Tequila, mas que se reveza entre órgão e guitarra no álbum, do qual foi produtor. Em conversas com o jornalista e pesquisador Marcelo Fróes, ele descobriu que ambos tinham um sonho em comum de fazer um disco do compositor. A ideia virou compromisso em abril do ano passado, quando eles se encontraram em um show beneficente para custear um tratamento de hemodiálise de Lafayette, que sofre de insuficiência renal.

“Entre novembro e dezembro, começamos a trabalhar na pré-produção e curadoria das músicas. Pus ele para ouvir coisas mais novas, como Pixies e Weezer, porque não queria um disco de Jovem Guarda. Fizemos questão de arranjos novos”, conta André. Não por acaso, o baterista Marcelo Callado já havia participado de projeto semelhante, fazendo parte de uma banda “de moleques” no álbum “Cê” (2006), de Caetano Veloso.

Além de “Negro Gato”, há outras músicas gravadas por Roberto Carlos, como “Atitudes”, “O tempo vai apagar” e “Motivos de força maior”, mas o álbum também traz redescobertas como “Eu preciso ser feliz”, gravada originalmente pelo obscuro cantor Zé Roberto.

Feita para um gato que miava, atrapalhando seu sono, em 1962, “Negro Gato” só foi gravada dois anos depois, quase por acaso, quando Getúlio era roadie da banda Renato e Seus Blue Caps. “Faltava uma música para completar o disco, ‘Viva a juventude’, em 1964. Aí, o Renato [Barros, cantor e guitarrista] me pediu ela. Os outros caras da banda não queriam gravar, porque achavam que fugia do estilo, mas ele fechou questão. O Roberto, que estava gravando no mesmo estúdio, ouviu e adorou”, lembra Getúlio Côrtes.

“Então, ele me prometeu gravar de um jeito mais rock e acabou ainda gravando outra música minha [‘O gênio’]”, comemora ele que, em 1966, acabou se tornando o único compositor a ter duas canções de sua autoria incluídas em um mesmo disco de Roberto Carlos que não fossem em parceria com ele, como Erasmo.

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SERVIÇO

AS HISTÓRIAS DE GETÚLIO CÔRTES - Teatro Rival (Rua Álvaro Alvim, 33/37, subsolo, Cinelândia. Tel.: 2240-9796). Hoje, às 19h30, com abertura da casa às 18h. Ingressos: R$ 60 (Setor A), R$ 50 (Setor B) e R$ 35 (primeiros 100 pagantes). 

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cultura