MOSCOU - No pequeno país criado há 27 anos, pouco mais de 4 milhões de habitantes são comandados por uma carismática mulher: a presidenta Kolinda Grabar-Kitarovic, que ganhou fama mundial torcendo por sua seleção. Outra, bem mais discreta, também tem poder, mas dentro da seleção: a supervisora Iva Olivari.
Apaixonada pelo esporte, Kolinda, sempre sorridente e simpática, prefere as arquibancadas aos camarotes. E nada de usar roupa social, nos estádios. Ela veste o excêntrico uniforme quadriculado da seleção croata. Já Iva, que deixou uma promissora carreira no tênis após uma lesão, não abre mão dos terninhos e uniforme da comissão técnica. Quase sempre exibe fisionomia mais fechada.
O que acontece dentro do campo é decidido pelo técnico Zlatko Dalic, mas todo o resto passa por Iva Olivari, 49 anos, a quem alguns jogadores mais novos chamam carinhosamente de “Tia Iva”, e o restante dos funcionários de chefa.
“Eu não fui discriminada, embora, claro, ouvi coisas do tipo: ‘Ela não deveria estar ali, seria melhor se fosse um homem, não sabe nada de futebol’. Mas para mim tanto faz estes comentários”, disse Iva.
A supervisora da seleção croata é encarregada de toda a parte administrativa, a comunicação com os adversários e clubes, entre outras tarefas. A Copa da Rússia é a primeira de sua carreira como supervisora da equipe. No mundo machista do futebol, ela pede mais espaço para as mulheres. Ela é parte essencial da federação croata, que agora é dirigida pelo ex-atacante e herói do terceiro lugar conquistado em 1998 Davor Suker, e na qual, destaca orgulhosa, trabalham mais mulheres que homens.
“Gostaria de ver mais mulheres dentro e fora dos gramados. Podemos fazer muitas coisas. Não é preciso jogar para estarmos representadas no futebol. Podemos trabalhar na administração, direção de jogadores, transferências...”, enumera Iva.
Kolinda certamente concorda com sua compatriota. Nos estádios, ela se comporta como qualquer torcedor. Na partida contra a Rússia, pelas quartas de final, Kolinda foi identificada nas arquibancadas e levada para a tribuna de honra da Fifa, onde estava o presidente da entidade, Gianni Infantino, e outras autoridades. E comemorou quando a seleção croata passou à frente da Rússia por alguns minutos no placar durante a prorrogação.
O vídeo de sua comemoração viralizou na Internet. Além de vibrar com as mãos ao alto, ela aparece comemorando um gol no estilo “toca aqui”, batendo mão com mão com o presidente da federação croata de futebol, Davor Suker. Seriedade só mesmo na hora de dar a camisa 9 de Kramaric para o presidente americano Donald Trump. Mas com um belo sorriso.
Primeira presidente mulher da Croácia, Kolinda ganhou as redes sociais por atitudes que vão além do futebol: por não usar dinheiro público para sua ida à Rússia e utilizar voos comerciais, pagos do próprio bolso. E ela fez questão de descontar de seu salário os dias que tirou de folga.
Iva e Kolinda já deram bons exemplos de que futebol é lugar de mulher, sim. E que a Croácia faz muito bem em abrir espaços para qualquer mulher competente preencher cargos antes dedicados aos homens. As duas estarão no estádio Lujinic, em Moscou, domingo, com o mesmo otimismo de sempre, apostando no sucesso da seleção croata para escreverem, juntas, uma nova história em seu país. “Acho que nossa hora chegou e vamos fazer coisas incríveis”, avaliou Iva. Que ninguém duvide da força dessas mulheres croatas.