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Tropas de Choque bloqueiam entrada de quem desce na estação São Cristóvão

Bombas de gás, spray e tiros de borracha foram usados contra os ativistas, que estavam pacíficos  

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Quem desceu na estação São Cristóvão do MetrôRio e/ou tentou entrar no estádio Maracanã neste domingo (16) para assistir a partida entre Itália e México, da Copa das Confederações, viu grande dificuldade para seguir, além de muita confusão. Policiais militares da Tropa de Choque ocuparam e bloquearam o viaduto Oduvaldo Cozzi, que dá acesso ao Maracanã, e usaram spray de pimenta, bombas de gás e tiros de bala de borracha para enfrentar os ativistas. Cerca de 3 mil pessoas fizeram um “ato de repúdio ao aumento abusivo do custo de vida”. Para fugir do tumulto, e tentar manter o tom pacífico do protesto, manifestantes se reagruparam no portão principal da Quinta da Boa Vista.

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Apesar de se manterem pacíficos e gritarem "Sem violência", os manifestantes insistiram em chegar até a porta do estádio, o que incitou a reação da polícia, que lutou violentamente contra os presentes, transformado o cenário em uma guerra. Palavras também contra o governador Sergio Cabral e o prefeito Eduardo Paes foram gritadas pelo grupo. A letra da música Que País é Este, do Legião Urbana, também foi cantarolada por eles.

No confronto, o fotógrafo Luiz Roberto Lima, das agências Estado e O Globo, foi atingido por uma bomba de gás lacrimogêneo. Ele foi socorrido por companheiros da imprensa e por um policial da Força Nacional, que atuava no local. Ainda conforme informado na transmissão do jogo entre México e Itália da Bandnews FM, a equipe de reportagem da rádio, teria sido agredida pelos PMs localizados nos arredores do Maracanã. 

Imprensa também é "bloqueada"

Por volta das 18h, ao tentar ouvir a rádio Bandnews de São Paulo, escutava-se a seguinte gravação "Olá, se você está no Brasil, para acompanhar a partida da Copa das Confederações, clique no botão cadeia verde amarela. Se você nos ouve por dispositivos móveis, ou fora do Brasil, aguarde o retorno da programação normal. Esse bloqueio ocorre por determinação da Fifa". Já na filial do Rio, a rádio estava muda, ao contrária da mesma em Brasília e em outras localidades do país.

E, de acordo com dezenas de pessoas conectadas nas redes sociais, a CBN também teve o seu áudio cortado durante a transmissão dos jogos e na cobertura do protesto no Rio, só retornando a sua programação quando se inciou a disputa entre Espanha e Uruguai, na Arena Pernambuco.

Novo confronto na Quinta da Boa Vista

Segundo a PM, o objetivo da tentativa de "dispersão" dos ativistas - com violentos sprays de pimenta, bombas de gás e tiros de borracha - foi liberar as vias que dão acesso ao metrô e às pistas, para que a torcida presente no estádio conseguisse sair tranquilamente do Maracanã após o jogo. No entanto, depois que terminou a competição, em que a Itália saiu vitoriosa, manifestantes continuaram sendo confrontados pelo Batalhão de Choque, desta vez na Quinta da Boa Vista. 

Internautas e integrantes do movimento Geração Invencível, depois de se reorganizarem na Quinta da Boa Vista, perto das 19h,  enviaram mensagens para as páginas das redes sociais que apoiam o protesto se queixando de que estariam sendo encurralados dentro do parque pela Polícia Militar do Rio de Janeiro.

O grupo afirmou que a polícia cercou manifestantes na Quinta da Boa Vista, atirando gás lacrimogêneo e atingindo famílias que estavam no local a lazer, que não fazia parte do protesto. "A Tropa de Choque trancou os manifestantes e famílias que estavam de lazer dentro da Quinta da Boa Vista! Rasgaram a constituição que garante ao cidadão o direito de ir e vir! Advogados de plantão, manifestem-se!", critica o Geração Invencível

Antes de supostamente ser bloqueada pela Fifa, a rádio CBN, descreveu o cenário do local. Segundo o repórter do veículo, havia muitas crianças e famílias, além do Batalhão de Choque que insistia em acompanhar os manifestantes com "muitas bombas de gás", spray de pimenta e tiros de bala de borracha, além de "cachorros".

"Contexto" dos atos é "de insantisfação da sociedade", diz OAB

Para o presidente nacional Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcus Vinícius Furtado, "as manifestações contra o aumento de passagens de ônibus em algumas capitais do país devem ser analisadas dentro de um contexto mais profundo de insatisfação da sociedade diante de um Estado que não justifica seus atos e, portanto, não respeita os cidadãos".

A Ordem dos Advogados do Brasil entende que as manifestações de protesto, realizadas de forma pacífica, expressam o mais alto sentido de liberdade de nossa Constituição, e repudia, de pronto, qualquer iniciativa das autoridades em criminalizá-las. Da mesma forma, condena atos de vandalismo contra o patrimônio, seja ele público ou privado.

Ainda segundo o presidente, "os protestos liderados pelos jovens servem de alerta aos governantes que, ao invés de buscar o diálogo, recorrem ao uso de força excessiva da Polícia Militar", acusa.

O espaço virtual ocupa de forma legítima o espaço público num momento em que a tolerância devia se por acima da violência, de acordo com Marcus. "O Brasil deve ser a pátria da liberdade, onde todos possuem direito de expressar livremente suas convicções. Não podemos aceitar o estado policial que responde com bombas, e não com diálogo, as legítimas reivindicações da sociedade".

Em nota, a OAB diz ainda que "chama as autoridades à razão para que possamos nos unir pela construção de uma sociedade plural e democrática. Prudência e tolerância fazem bem à democracia e respeita a Constituição", conclui.

Protestos prosseguem

Na última semana, capitais do Brasil, principalmente Rio de Janeiro e São Paulo, contaram com diversos protestos por conta do aumento das tarifas de ônibus e diversas irregularidades ocorridas em consequência da Copa das Confederações e os demais grandes eventos que o País recebe nos próximos meses e anos.

Na estreia da Copa das Confederações, neste sábado (16), em Brasília, também houve protesto no estádio Mané Garrincha. Além disso, 23 cidades já programaram diversas manifestações para a semana que se inicia. Por esse motivo, no Rio, a Polícia Militar reforçou o policiamento nos três jogos da Copa das Confederações realizados no Estádio do Maracanã. O esquema entrou em vigor às 16h, para o jogo deste domingo, entre México e Itália.

Trezentos e cinquenta homens do Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (Gepe), do Batalhão de Choque (BPChoque) e do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) se dedicaram à segurança interna do estádio e outros 650 patrulharam o seu entorno com apoio do Regimento de Polícia Montada e do Batalhão de Ações com Cães (BAC), com 52 viaturas e apoio de dois helicópteros do Grupamento Aéreo.

A Secretaria Extraordinária de Segurança para os Grandes Eventos do governo federal informou que cerca de 9 mil agentes das forças de segurança atuarão no Rio de Janeiro durante os jogos da Copa das Confederações.

*Com informações do Portal Terra e da Agência Brasil.