ASSINE
search button

Rafaela, a menina de ouro da favela

Compartilhar

Nesse inicio dos jogos olímpicos no Rio de Janeiro, tivemos a alegria de contemplar o primeiro ouro da delegação Brasileira: Rafaela Silva conquistou a medalha de ouro no judô!!! Sinônimo de luta e resistência, a jovem judoca deixa um legado histórico que nos permite mergulhar na história de muitas outras Rafaelas que foram engolidas pelos inúmeros processos sistêmicos que vivemos. 

Rafaela conseguiu ganhar a medalha de ouro no maior evento esportivo do mundo, que na sua realização nas terras cariocas, apontam para a tamanha contradição do povo que aqui mora. Rafaela carrega nesse ouro toda a responsabilidade de um povo que a olimpíada tentou invisibilizar, representa um povo que é excluído dos jogos olímpicos, representa um povo que não está ali nas arquibancadas, não teve acesso aos jogos e constantemente tem seus direitos violados. 

Sabemos que historicamente a galera da favela enxerga o esporte como uma possibilidade de mudança de vida. É no esporte que vemos a possibilidade de um futuro para milhares de crianças negras e faveladas. 

Rafaela leva muita esperança, motivação e força de vontade pra milhares de adolescentes, crianças e mulheres que sempre encontraram dificuldades para conseguirem tudo na vida. Ela torna-se uma figura representativa que burlou um sistema capitalista, patriarcal, patronal, machista, racista e LGBTfóbico. 

A força da mulher negra, lésbica e da favela da Cidade de Deus é o exemplo da demonstração da nossa resistência, da superação dos obstáculos que o dia a dia põe em nossa caminhada. 

Foi uma favelada que conseguiu conquistar o ouro Olímpico!! Me deixa extremamente feliz ver mais uma de nós superando as estatísticas, rompendo barreiras, derrubando muros e construindo pontes! 

Encerro por aqui, citando o texto do internauta Rafael Bevilaqua no site de relacionamentos fecebook: 

“Hoje, Rafaela, vão querer te usar como exemplo de que tudo é possível, basta querer. Mas você sabe, melhor que eu, de que é o exemplo do quanto desperdiçamos de potência humana. Só você, Rafa, pode nos contar quantos amigos mortos e perdidos ficaram no caminho.

Hoje, Rafaela vai ser celebrada por gente que tem medo de passar perto de onde ela nasceu. Vai ser exaltada por gente que comemora violência policial contra preto e pobre. Vai alimentar o orgulho de quem faz piada racista e machista. Vai regozijar o ego de quem sente vergonha de ser brasileiro.

Mas sabemos, minha xará, esse ouro não é dessas pessoas. O ouro é do morro, é da favela, das vítimas de preconceito, dos assassinados, dos sem voz, é de Zumbi, é da Cidade de Deus”

* Walmyr Júnior é morador de Marcílio Dias, no conjunto de favelas da Maré, é professor, membro do MNU e do Coletivo Enegrecer. Atua como Conselheiro Nacional de Juventude (Conjuve). Integra a Pastoral Universitária da PUC-Rio. Representou a sociedade civil no encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ.