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A calamidade nas favelas é desde suas origens 

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Complementando a afirmação de que “na favela, o decreto de calamidade pública sempre esteve assinado”, do colega Walmyr Junior, morador da Maré e também colunista do JB, escrevo este artigo para comparar a situação do Estado do Rio de Janeiro com a realidade das nossas favelas.  No Rio de Janeiro, se concentra a maior população moradora de favela do Brasil. Segundo IBGE (2011), são 1.393.314 pessoas nas 763 favelas do Rio, ou seja, 22,03% dos 6.323.037 moradores do Rio. Posso afirmar, com toda certeza, que esse número é bem maior, levando em conta que a pesquisa foi feita há quatro anos e nem todos moradores foram consultados. 

Logo, esse decreto de calamidade pública, assinado há uma semana pelo Governador em exercício, em nada nos assusta. Ele já está assinado há mais de 100 anos na favela. As áreas de saúde, segurança, educação e mobilidade que agora sofrem com a crise, originada pela má gestão do governo, faz parte da história da favela desde sua formação, em 1897. O morador da favela convive com a calamidade assinada em seu dia a dia, os problemas da favela são velhos e nenhum governo de partido A ou B se prontificou a mudar tal situação.

Agora, R$ 3 bilhões são emprestados ao Governo do Rio, um montante de dinheiro que não será utilizado para pagamento de aposentados, nem para o fim da greve na UERJ e nem para os hospitais. E mais uma vez, nada para as favelas. Todo esse dinheiro servirá para olimpíadas. Evento esse que maquia a verdadeira realidade de uma cidade que está longe de ser a cidade olímpica. Uma cidade que não tem o que comemorar. Não existe festa em uma cidade que não paga seus aposentados, que está com jovens fora das salas de aula, por conta da greve dos professores, que está com universidade pública em greve há mais de 100 dias, que está com hospitais precários.

Mais uma vez, a inversão de prioridades vai prejudicar a população mais pobre e vai priorizar um evento que os pobres vão pagar com os cortes e nem mesmo vão poder participar. 

Davison Coutinho, morador da Rocinha desde o nascimento. Bacharel em desenho industrial pela PUC-Rio, Mestre em Design pela PUC-Rio, membro da comissão de moradores da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, professor, escritor, designer e liderança comunitária na Comunidade.