Há poucos dias, circulou por todo o mundo a imagem de um menino sírio de 3 anos, encontrado morto em uma praia na Turquia. A imagem chocou a todos e mostra os efeitos de uma guerra, onde quem sofre são os inocentes. Pior ainda é assistir o mundo de braços cruzados enquanto morrem milhares de refugiados. Ver aquela criança me fez pensar em minha filha, que é da mesma idade, e me fez agradecer por sua vida. Naquele momento, orei por paz à vida daquele anjo e de todos que sofrem com a guerra.
Por outro lado, esta semana morreu uma outra criança, esta tinha apenas 13 anos, negra, moradora da favela de Manguinhos e foi vitima de uma bala perdida em uma operação policial. Porém, a morte de Cristian Andrade não chamou atenção da sociedade como deveria. Seria hipocrisia de uma sociedade que se diz comovida com a morte de uma criança imigrante, mas não se solidariza com a morte de uma criança da favela? Ou a morte na favela já está tão naturalizada que passou a ser comum?
A Anistia Internacional classificou o episódio como resultado dessa "lógica de guerra" que faz tantas vitimas. A PM estava no local para prender os suspeitos de assassinar o policial Clayton Dias. E nessa lógica, morreu um policial e morreu uma criança e nada se resolve. Assim, continuam morrendo crianças e jovens, negras e moradoras de favelas e periferias e também policiais que são também de origem de áreas pobres.
Que Deus receba esses dois anjos com muita luz e paz. As duas crianças não mereciam esse triste fim.
Espero que os tristes acontecimentos sirvam para que sejam tomadas as providências para a paz, seja na Síria, seja nas favelas, seja em qualquer lugar.
* Davison Coutinho, morador da Rocinha desde o nascimento. Bacharel em desenho industrial pela PUC-Rio, Mestrando em Design pela PUC-Rio, membro da comissão de moradores da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, professor, escritor, designer e liderança comunitária na Comunidade.