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Diga-me com quem andas...

Miguel Paiva -
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Macaque in the trees
(Foto: Miguel Paiva)

Quem ensina é a própria Bíblia, tão cara aos atuais donos do poder. Se você quer saber sobre a pessoa veja quem são seus amigos e quem ela frequenta que você vai acabar descobrindo. É interessante, mas pode ser uma armadilha reveladora.

O ser humano gosta de andar em grupos e em grupos de semelhantes. Gosta de estar com seus pares. Normal, o problema é quando isso revela uma tendência, uma ideologia, um comportamento. Muitos, nesses grupos de pares, não se incomodam com tal revelação. Até gostam. Eles são assim, que sejam assim reconhecidos, então. Outros grupos mais vulneráveis, sujeitos ao julgamento popular têm que tomar um certo cuidado.

No caso do atual governo é difícil achar alguém que mereça o julgamento de competente ou bem intencionado. Muitos admiram o Moro ou o Guedes. Moro tem uma nuvem de mistério sobre si e acho que um dia vamos descobrir sua verdadeira faceta ou mesmo sua real limitação. Guedes é um Chicago Boy, trabalhou para o governo Pinochet, é da escola neoliberal que , essa sim, junta no seu grupo só pessoas afins. Eles dizem com quem andam e são orgulhosos disso. Já encontrei pessoas que não votaram ou votariam no Bolsonaro mas, depositam esperanças no Guedes e no Moro.

No Guedes é o que mais me espanta porque em geral não entendemos de Economia do jeito que eles divulgam mas sabemos que números existem para serem usados e manipulados ao bel prazer. Economia ligada ao desenvolvimento social, aos anseios populares é outra coisa. Não vejo Guedes tecendo políticas que favoreçam diretamente o povo carente brasileiro. Eles acreditam no livre mercado e que esse, se desenvolvendo, vai trazer benefícios para todos, mas, é claro, mantendo-se a coisa do jeito que é. Nós pra cá e vocês pra lá. Redistribuição de renda, nem pensar. É coisa do diabo. De novo o "diga-me com quem andas". Pregam um neoliberalismo hard core e mesmo os liberais bem intencionados ficam envergonhados.

O Moro prega onde a população mais sofre, na falta de segurança. Ele passa a impressão de que vai resolver, como um bom xerife, as mazelas que enfrentamos quando saímos nas ruas. Violência não se combate com mais violência. Parece também que até o próprio Moro vai ter problemas com Bolsonaro e a turma que anda com ele. Eles já estão demonstrando esse desconforto. Nomeiam e recuam, mandam exonerar porque fulano quer ou sicrano não gostou. Cada vez mais o "diga-me com quem andas" vai ilustrando esse governo.

Falando dos outros ministros ou assessores indicados pelo Alexandre Frota ou Olavo de Carvalho, mesmo com diferenças, são da mesma turma. Andam juntos. Eles gostam de louvar a deus, bater continência, preservar a família contra a degradação e por aí vai. Perdoem a ironia involuntária. Competência, nem pensar. Parece que vivemos até hoje num bordel apocalíptico e perverso onde o diabo fuma maconha e o povo faz sexo nas ruas.

Para uma turma que não tem muita capacidade de abstrair, de fazer uma análise mais profunda da História e do que acontece no mundo, essas sandices funcionam. Dão medo. É como o Sermão do Apocalipse que eu tinha medo de ouvir quando era criança. Agora tenho medo de ouvir outras coisas, talvez na mesma linha mas não mais acreditando no poder divino e sim no poder destruidor e sem critério do ser humano.

Prefiro nessas horas o grande filósofo e humorista Groucho Marx que dizia não frequentar clubes que o aceitavam como sócio. Sou desta turma.