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Streamings: 2019 promete briga de cachorros grandes

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Há algumas semanas, o CEO do Hulu, Randy Freer, disse que, em cerca de dez anos, não teremos mais as redes de TV ou canais premium como hoje. Segundo ele, o streaming vai acabar com a chamada “TV a cabo”. Será? Já ouvimos papo semelhante quando a TV chegou para, supostamente, acabar com o rádio. Disseram também que, a mesma TV abalaria o cinema (não foi o que aconteceu, nem de longe; até ajudou o cinema a se reinventar, tecnicamente). Por sua vez, os canais por assinatura iriam abalar os alicerces da TV aberta. Já sabemos que não.

Agora, um estudo recente de um instituto de estatísticas americano, o Ampere Analysis, diz que, neste novo ano, os serviços de streaming (como Netflix e Hulu, sobretudo) irão bater, em faturamento, o dos grandes estúdios de cinema. O que será um marco para as novas plataformas. A previsão é de que o streaming lucre cerca de US$ 46 bilhões, enquanto o mercado de cinema embolse US$ 40 bilhões.

O mesmo estudo da Ampere diz que, em 2017, o faturamento do streaming já havia batido do cinema, nos Estados Unidos (isso num ano em que as bilheterias americanas batem recordes no faturamento, antes mesmo de fechar a conta de 2018). Os números finais de 2018, no Reino Unido, já indicam o streaming na frente. Já na China, o segundo maior mercado de cinema atualmente, isso deve acontecer em 2019.

O estudo baseia seus cálculos no fato de que osingressos de cinema estão muito caros em determinados países (tire pelo Brasil, onde eles aumentaram agora no fim do ano: uma família de pais e dois filhos gasta cerca de R$ 200, numa simples ida ao cinema, embutidos aí gastos com guloseimas e estacionamento). Na soma geral, é muito mais barato pagar uma ou até duas mensalidades, assinando streaming (que exibem filmes exclusivos, como “Roma”, do Netflix, que mal passou nos cinemas). Ou seja, já está valendo mais do que pagar TV a cabo. E, no Brasil, nem temos serviços que barateiam a ida ao cinema, como o MoviePass americano, por exemplo, pelo qual você paga um valor mensal equivalente a três, quatro ingressos, e pode ver vários títulos naquele período.

Enquanto as famílias escolhem muito bem a qual filme irão assistir no mês (sim, acaba virando um programa mensal ou de férias), a Netflix se prepara para travar uma batalha dura contra aquele que poderá vir a ser o seu maior rival: os estúdios Disney. Donos do maior faturamento anual nos cinemas (por conta de serem donos de marcas como Marvel, Pixar, fora seus próprios produtos), a Disney entrará com tudo no mercado do streaming em 2019. A briga começou com Disney“roubando” alguns dos maiores executivos da Netflix e tirando, aos poucos, itens de seu catálogo, desta.

O streaming da casa do Mickey, se chamará Disney+ e já acena com um canal com material exclusivo de produções da Marvel (o que levou a Netflix a cancelar, ao longo de 2018, três das cinco séries com personagens Marvel, incluindo o ótimo Demolidor; as outras estão com os dias contados). Fora o seu imenso e altamente popular catálogo com desenhos clássicos, filmes idem e todo o tipo de produções para o público infanto-juvenil, sobretudo. Mas, não só. Já que há também o catálogo da ABC, seu braço televisivo, com produções para o público adulto e séries de sucesso mundial.

A briga nos EUA será de cachorro grande, como se diz, uma vez que marcas fortes, como YouTube, HBO e Apple vão jogar pesado em 2019.

Por isso, Hulu já anunciou que vai expandir seus negócios mundialmente, enquanto que marcas locais, como a GloboPlay, no Brasil, vão aumentar substancialmente seu catálogo e a produção de material próprio, para competir de igual para igual com a concorrência de fora. Como trunfo, GloboPlay tem a seu dispor todo o catálogo da Globo (série, novelas, shows etc) e promete investir forte em séries internacionais e produções próprias, que serão exibidas primeiro, na plataforma, para, só depois, chegar em seus outros canais de distribuição.

Com isso, não é preciso pesquisa, para prever que, sim, o modelo de TV paga, como nós conhecemos, está seriamente abalado. O cinema sempre dará seu jeitinho (nada como ver uma superprodução na tela grande). Contudo, cada vez mais, o modo como consumimos entretenimento vai mudar.