Acho que já comentei aqui, que, geralmente, passo ao largo dos lançamentos mais badalados da Netflix (acabo assistindo alguns depois), porque estes, invariavelmente, decepcionam. Justamente por todo o hype em torno. Muitas vezes, são apenas ok. Não justificam o estardalhaço. Por isso, adoro peneirar os títulos mais obscuros ou menos comentados.
Foi assim que descobri o sensacional “Merlí” (que acabou sendo badalado depois, por suas próprias qualidades) e, mais recentemente, a série “Atypical”. Nesta, fui com cautela. Afinal, ela trata de autismo, um tema espinhoso de se explorar. Já que o autismo não é igual para todos os que estão dentro de seu espectro. É complexo. Não dá para brincar com o tema. Nem, tampouco, só explorar o lado dramático.
“Atypical” trata do assunto de forma leve (a criadora da série, Robia Rashid, se inspirou em seu irmão autista), sem jamais fazer troça do protagonista da série, o esperto e sensível Sam (Keir Gilchrist), um rapaz de 18 anos que adora biologia, sobretudo saber sobre pinguins. Como está numa idade-chave para as mudanças da vida, acompanhamos a sua primeira relação amorosa, a vontade de ser independente, a questão sobre qual carreira/faculdade seguir (ele trabalha numa loja de eletrônicos) e, sobretudo, de sua interação com a família.
E aí é que está a chave do sucesso: não só a sua família é muito bem delineada, como os personagens são bem escritos e interpretados. Os pais são feitos por atores conhecidos (Michael Rapaport e Jennifer Jason Leigh, esta, é também uma das produtoras); e, sua irmã, pela novata e talentosa Brigette Lundy-Paine, que faz um tipo meio Joãozinho, atleta, mas muito meiga e autêntica. Sem eles como apoio, tudo em volta poderia desandar.
Torci para que “Atypical” tivesse uma segunda temporada. Felizmente, teve. E, não fica nada a dever para a primeira. Agora, é torcer para uma terceira. Para, quem sabe, um bom arremate.
E fica a mensagem de que, no fundo, nenhum de nós é “normal”. O conceito é difuso.
Por outro lado, acaba de entrar no catálogo da Netflix mais uma de suas produções, “Maniac”, estrelada por Emma Stone e Jonah Hill. É levemente baseada em série norueguesa de mesmo nome, que também está no catálogo.
A trama envolve dois estranhos (Stone e Hill) que topam fazer parte de teste para um novo produto farmacêutico. Por isso, cada episódio é uma espécie de “viagem” proporcionada pelos efeitos colaterais do produto. O resultado, é uma série de situações surreais e bizarras. Nem sempre sabemos se o que está acontecendo é real ou o resultado de algum tipo de delírio causado pelas drogas. Interessante.
O diretor e roteirista, desta versão americana, é Cary Joji Fukunaga (“True detective”, HBO), que acabou de ser anunciado como o diretor do novo James Bond. Ele já avisou que, “Maniac” terá apenas dez episódios. E fim de papo.
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Rugidos
A série de época “Harlots” teve a sua terceira temporada garantida pelo Hulu. No Brasil, é exibida num dos canais Fox Premium.
Chama-se “ReMastered”, a série documental da Netflix, que vai enfocar a vida de artistas como Bob Marley, Johnny Cash e Sam Cooke, entre outros. Estreia 12 de outubro na plataforma, com um novo episódio liberado mensalmente.
“They´ll love me when I´m dead”, documentário sobre as atribuladas filmagens do último filme de Orson Welles, “The other side of the wind”, será lançado na Netflix, em 2 de novembro. Junto com o inacabado filme do Welles.