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Covid-19 derruba emprego nos EUA e no Brasil

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O impacto do Covid-19 foi devastador no mercado de trabalho dos Estados Unidos e do Brasil, os dois países que lideram os casos comprovados da pandemia no mundo. Com uma população de 329 milhões de habitantes, dos quais 1,707 milhões foram infectados, com 100,4 mil mortes até ontem, os Estados Unidos registraram, com os 2,1 milhões de novos pedidos de auxílio-desemprego na semana passada, um total de 40 milhões de desempregados desde o começo da pandemia, em março.

No Brasil, com 211 milhões de habitantes, 412 mil casos registrados e 26 mil mortes até a 5ª feira, 28 de maio, os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) e do IBGE mostraram a devastação no emprego e nas atividades por conta própria até abril. De acordo com o Caged, em abril houve perda de 860.503 vagas com carteira assinada. Como em março (o país declarou a pandemia na 2ª metade do mês) foram fechados 240.702 postos regulares, em 45 dias, a Covid-19 cortou 1.201.205 vagas.

Mas a devastação no mercado de trabalho foi ainda maior, segundo os dados da PNAD do IBGE, referente ao trimestre fevereiro-março-abril. Com apenas 45 dias de pandemia, houve redução de 4,9 milhões de pessoas (-5,2%) na população ocupada, que caiu para 89,2 milhões de pessoas. A população fora da força de trabalho teve crescimento recorde de 7,9% (mais 5,2 milhões de pessoas) em relação ao trimestre anterior e de 9,2% (mais 6,0 milhões) sobre igual período de 2019. Foi o maior contingente desde o início das pesquisas da PNAD do IBGE, em 2012.

A população subutilizada em sua capacidade laboral (28,7 milhões de pessoas) foi recorde da série, crescendo 8,7% (2,3 milhões pessoas a mais) frente ao trimestre anterior (26,4 milhões de pessoas). A taxa composta de subutilização (25,6%) foi recorde da série, crescendo 2,5 p.p. em relação ao trimestre anterior (23,2%).

O total da participação da população ocupada no total da força de trabalho (173 milhões, um aumento de 1,180 milhão de pessoas ou 0,7%) foi reduzida a 51,6% da força de trabalho. Este é o menor nível de ocupação desde 2016.

No mesmo período, a mão de obra desocupada aumentou 1,934 milhão, fazendo a taxa de desemprego dar um alto de 7,5% sobre a população desocupada no trimestre anterior, com a taxa de desempregados (12,811 milhões) em relação ao total da população na força de trabalho (102,1 milhões) atingindo 12,6%, um aumento de 1,4 pontos percentuais sobre os 11,2% do trimestre findo em janeiro.

Setor privado concentra demissões

Como em todas as crises, o emprego no setor público se manteve. Neste caso, houve até criação de 379 mil vagas no setor público no trimestre, sendo 284 mil para militares em todas as instâncias (federal, estadual e municipal) e a contratação de 83 mil empregados sem carteira na administração pública.

Já no setor privado, foi uma razia. Foram demitidos 1,504 milhão com carteira assinada e outros 1,547 milhão de trabalhadores sem carteira assinada (que foram engrossar as filas do Auxílio Emergencial de R$ 600). Dos 4,9 milhões de pessoas que saíram da população ocupada, 1,2 milhão veio do comércio, 885 mil saíram da construção e 727 mil, dos serviços domésticos.

Com a tática do isolamento para evitar contágio, os empregados domésticos foram duramente atingidos: 736 mil perderam as atividades, dos quais 568 mil trabalhavam como diaristas ou sem carteira assinada. Mesmo com a necessidade de cuidadores na pandemia, as famílias ainda demitiram mais 80 mil auxiliares domésticos, numa combinação da falta de recursos com a intenção de reduzir riscos de contágio.

Pior sorte tiveram os trabalhadores por conta própria. O contingente engordou com a transformação de 283 mil trabalhadores com CNPJ (certamente de origem em trabalhadores que perderam emprego regular), que passaram a somar 5,520 milhões. Mas nada menos que 1,479 milhão de trabalhadores por conta própria e sem CNPJ perderam seus pontos. Com isso, o contingente que operava por conta própria sem CNPJ encolheu para 17,859 milhões.

O impacto no pessoal que trabalhava com carteira assinada produziu uma redução de quase 2 milhões de contribuintes do INSS (57,447 milhões no trimestre encerrado em abril, contra 59,381 milhões no trimestre novembro-dezembro-janeiro), que tinham carteira assinada, numa tendência que tende a anular a redução do rombo na reforma da Previdência de 2019.

O número de subocupados por insuficiência de horas trabalhadas (6,1 milhões) recuou 7,6% frente ao trimestre anterior (501 mil pessoas a menos) e 12,8% frente a igual período de 2019, quando havia no Brasil 7,0 milhões de pessoas subocupadas.

A deterioração no mercado de trabalho provocou uma forte redução do poder de compra da massa salarial (salário nominal X total de pessoas ocupadas). Segundo o IBGE, a massa salarial encolheu para (R$ 211,6 bilhões), numa queda de 3,3% frente ao trimestre anterior (R$ 218,9 bilhões). Com menos poder de compra, o consumo das famílias, que já estava retraído, pode demorar mais a se recuperar, assinala o Departamento Econômico do Bradesco.