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Dados do Banco Central desmentem Paulo Guedes

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Na fatídica reunião (?) ministerial de 22 de abril, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse ao presidente Jair Bolsonaro que havia constatado, em giro internacional feito dias antes, que o apetite dos investidores estrangeiros pelo Brasil era grande e o país iria surpreender positivamente com o desempenho na saída da pandemia da Covid-19. Os dados divulgados nesta 3ª feira pelo Banco Central sobre as contas externas do país em abril, não comprovam a narrativa do “Posto Ipiranga”.

Em 2020, (tirando a Argentina e a Venezuela, cujas moedas saíram do campo de acompanhamento do índice da Bloomberg) o Brasil é o país que apresenta, até 22 de maio, a maior desvalorização da moeda (28%) ante o dólar (que subiu 5,3% contra a média ponderada das 20 moedas integrantes do índice). Na apresentação feita ontem (25.05) pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, a líderes do varejo brasileiro, o real desvalorizou mais que o rand da África do Sul (-20,8%) e o peso mexicano (-17,85). A título de comparação, a vizinha Colômbia teve sua moeda desvalorizada 12,8% no período.

A perda de valor do real ante o dólar é um fator adicional à crise da Covid-19 para alterar os dados do Balanço de Pagamentos. Depois da conta de lucros e dividendos, o caso mais extremo do comportamento do BP, que registrou em abril superávit de US$ 3,840 bilhões em transações correntes (balança comercial + serviços + rendas), recorde da série apurada pelo BC, com aumento de quase US$ 3 bilhões ante o superávit de US$ 368 milhões de março, veio justamente da conta de serviços. Em especial do item viagens internacionais.

A conta de serviços reduziu seu déficit de US$ 1,779 bilhão em março para US$ 1,208 bilhão em abril (2,348 bilhões em abril de 2019). Uma das principais diferenças foi a queda de US$ 921 milhões nas despesas líquidas de viagens internacionais (US$ 1,021 bilhão negativo em abril de 2019), com déficit de apenas US$ 90 milhões em abril (após déficit de US$ 227 milhões em março, já com o impacto da Covid-19). Segundo dados do BC a situação se manteve em maio. Até 21.05, o déficit da conta de viagens foi de US$ 79 milhões.

A alta do dólar (fechou abril em R$ 5,427) e a mudança no fluxo financeiro internacional devido ao trauma na economia e nos centros financeiros, geraram violenta redução na remessa de lucros e dividendos. Sobretudo nas chamadas operações intercompanhias (matriz do exterior e filiais no Brasil). Ante a contração de liquidez mundial e o menor volume de dólar por lucros gerados em reais, as multinacionais remeteram só US$ 4 milhões em abril (menor valor para o mês em décadas). Em abril de 2019 as remessas alcançaram US$ 2,250 bilhões e tinham sido de US$ 809 milhões em março. Deixaram o dinheiro aqui para suprir capital de giro. Até 21 de maio, o comportamento de cautela se manteve, e as remessas somavam US$ 3 milhões.

Sangria de investimentos

Mas as contas de investimento direto estrangeiro no Brasil e de brasileiros no exterior sofreram violenta sangria. O saldo de US$ 234 milhões em investimentos diretos estrangeiros no país (IDP) em abril de 2020 foi o menor valor para o mês em 25 anos. Uma queda brutal ante os R$ 5,107 bilhões de abril de 2019 e mais anda frente aos US$ 7,621 bilhões de IDP de março de 2020. Na linha do otimismo de Paulo Guedes, na reunião de 22 de abril, o BC esperava ingresso de US$ 1,5 bilhão.

Vale lembrar que, em março as filiais fizeram ‘investimentos’ de US$ 5,336 bilhões nas filiais brasileiras, para lhes dar colchão de liquidez para enfrentar a crise de liquidez com a semi paralisação do consumo. Pelos dados do BC até 21 de maio, o fluxo melhorou este mês, seguindo a recuperação do real, com ingresso de US$ 1,226 bilhão.

Em abril o fluxo de US$ 324 milhões em IDP foi composto por ingressos líquidos de US$ 320 milhões em participação no capital e por amortizações líquidas de US$ 86 milhões em operações intercompanhia. As empresas repatriaram investimentos no valor de US$ 834 milhões. Nos 12 meses encerrados em abril de 2020, o IDP totalizou US$73,2 bilhões, equivalente a 4,31% do PIB (US$78,1 bilhões, ou 4,48% do PIB em março). É o menor volume em 12 meses desde novembro de 2018. O déficit em transações correntes em 12 meses, de US$ 44,375 bilhões, foi coberto com folga pelo IDP.

Um dado interessante mostra como as empresas e investidores brasileiros trouxeram capitais do exterior (onde os juros caíram à faixa de zero) para o país, onde os juros estavam no piso de 3,75% ao ano. Segundo os regressos líquidos ao país totalizaram US$ 4,8 bilhões. Em abril de 2019 houve saída líquida de US$ 2,6 bilhões.

Mas o dado de abril que contrariou mais claramente a exposição ufanista de Paulo Guedes diz respeito à saída líquida de investimento em portfólio no mercado doméstico: US$ 7,3 bilhões, com saídas líquidas de US$ 4,9 bilhões em títulos de dívida e de US$ 2,4 bilhões em ações e fundos de investimento.

No 1º quadrimestre de 2020 houve saídas líquidas de US$ 31,4 bilhões em instrumentos de portfólio negociados no mercado doméstico, contra ingressos líquidos de US$10,0 bilhões no mesmo período de 2019. Nos 12 meses encerrados em abril de 2020, a saída líquida de investimento em portfólio no mercado doméstico chegou a US$ 49,0 bilhões.

Pelos dados do Banco Central, a sangria continuou em maio, em dose menor: até o dia 21 houve fuga de US$ 2,778 bilhões em capitais, sendo US$ 1,810 bilhão em ações e fundos de investimento e US$ 968 milhões em títulos da dívida pública.

O novo perfil da PF

Na coluna Coisas da Política que escrevi no dia 26 de abril, logo após a renúncia de Sérgio Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública, por não concordar com a intenção (frustrada, inicialmente com o veto do ministro Alexandre Moraes, do STF) para a posse de Alexandre Ramagem como Diretor-Geral da Política Federal, após a demissão de Maurício Valeixo (à revelia de Moro e do próprio delegado), perguntava “Qual o modelo do FBI pra nossa PF?”.

Sob o comando Rolando de Souza, escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro para comandar a Polícia Federal em 4 de maio, foram trocadas cinco das 27 superintendências estaduais (e do DF). A do Rio de Janeiro, que era alvo da atenção presidencial, foi trocada ontem, com a nomeação do delegado Tacio Muzzi Carvalho e Carneiro, oficialmente indicado por Rolando de Souza.

Nesta terça-feira, 26 de maio, a nova PF mostrou ao que veio, com apreensões das operações Favorito e Favorita, no Palácio Laranjeiras e na casa do governador Wilson Witzel (que virou inimigo político de Bolsonaro) e no escritório de advocacia de sua mulher, Helena, suspeita de ter fechado contrato com fornecedores de equipamentos (não entregues) ao combate da Covid-19.

Pelo visto, o novo perfil da PF desejado pelo presidente, que queria “Trocar a nossa segurança no Rio de Janeiro para “não f#&*@$ a minha família e os meus amigos”, é a da velha prática na política e no mandonismo brasileiro:

“Aos amigos, tudo; aos inimigos, a Lei”, (mesmo que forçada).

Senador defende Auxílio Emergencial até dezembro

O Senador Jean Paul Prates (PT-RN) defende que o governo estenda até 31 de dezembro de 2020 o programa de Auxílio Emergencial de R$ 600 aos brasileiros que ficaram sem renda com a crise econômica gerada pela Covid-19.

Sua proposta leva em conta pesquisa do DataSenado, que ouviu 1.200 pessoas sobre o Covid-19. Para 60% dos entrevistados, o número de contaminados é maior do que os dados oficiais; 28% acham que é menor.

Mas com relação aos impactos econômicos, mais da metade considera que a crise ainda vai se agravar, enquanto 32% acreditam que estamos vivendo o pior momento. E 9 entre 10 pessoas ouvidas defendem a extensão do auxílio.

Para o Senador, como o Estado de Calamidade Pública foi declarado pelo Executivo e aprovado no Congresso, até 31 de dezembro de 2020, período em que a União está autorizada a furar o teto de gastos para enfrentar a pandemia, o correto é a extensão do Auxílio enquanto durar a Calamidade Pública.

Menos trânsito, menos mortes

Os dados são da Associação Brasileira de Empresas e Diretores do Setor Funerário (ABREDIF) em levantamento junto a cartórios de registro civil de todo o Brasil. Nos primeiros quatro meses de 2019, quando o trânsito, uma das maiores causas de morte de brasileiros, seguia a mil nas ruas e estradas do país, morreram 389.073 pessoas.

Este ano, mesmo com a pandemia, os dados até fins de abril registram 397.999 óbitos. O aumento de 8.926 óbitos indica praticamente estabilidade em relação ao aumento da população motorizada. Oficialmente, conforme exames comprovados, até 30 de abril 5.912 brasileiros foram vitimados pela Covid-19.

Mas, como se sabe que a atualização das causas mortis demora mais de uma semana em alguns municípios, e em 9 de maio o saldo de mortos pelo Covid já chegava a 10.627, pode-se concluir que o isolamento, concebido em março pela equipe do ex-ministro da Saúde, Henrique Mandetta, evitou o pior. A superposição de casos de traumas na rede hospitalar (pública e privada) levaria ao colapso total que está chegando agora, no fim de maio.