O balanço trimestral do Bradesco, 2º maior banco privado do país, revelou nesta quinta-feira (30) o que o Santander (3º privado) tentou disfarçar dia 27. A inadimplência tende a evoluir muito no 2º e 3º trimestres. Para tal, o Bradesco mais que dobrou as novas provisões para devedores duvidosos (R$ 2,4 bilhões em dezembro para R$ 2,7 bilhões), com aumento geral de 90% nas PDDs que somaram R$ 6,982 bilhões. As provisões totais cobrem 8,5% da carteira de crédito.
Em função desses movimentos e da queda de 6,2% na receita de prestação de serviços, o lucro líquido recorrente encolheu 43,5% no trimestre, para R$ 3,753 bilhões. Pior foi a queda brutal do ROAE (retorno sobre o patrimônio líquido médio), de 19,9%, em dezembro de 2019, para 11,7% em março (em março de 2019 era de 20,2%). Este é o pior resultado neste século. No auge da crise causada pela recessão de 2016-17, o menor ROAE foi em dezembro de 2017, com 17,9%.
Em menos de um mês de retração da economia causada pela pandemia do Covid-19 e com apenas uma quinzena na prorrogação dos empréstimos e de uso das linhas de crédito para reforço do capital de giro e sustentação da folha de pagamentos, o banco processou mais de 1 milhão de operações, no valor de R$ 1,4 bilhão e concedeu 7 mil empréstimos para proteção da folha, que garantiu empregos de mais de 100 mil pessoas até 31 de março.
Por sinal, o IBGE revelou hoje o primeiro salto do desemprego na pesquisa PNAD até março, que passou de 11% em dezembro para 11,2% em fevereiro e 12,2% em março, quando a fila de desempregados chegou a 12,85 milhões de pessoas. Como a maior parte dos trabalhadores tinha até 10 de abril para receber o salário, o IBGE ainda não captou a onda de demissões deste mês.
Operações de crédito sem retorno crescem 90%
Entretanto, neste curto espaço de tempo de restrição no funcionamento das atividades de comércio, serviços e indústria, as operações de crédito acima de 90 dias que não deram retorno (non performing loan, na linguagem internacional de balanços) aumentaram 90%, de R$ 3,672 bilhões em dezembro (quando representavam 0,8% da carteira) para R$ 6,982 bilhões (passando a 1,5% do total).
A situação fica mais complexa quando as baixas de operações em atraso (recuperação de créditos) também caíram, no período: de R$ 4,670 bilhões para R$ 4,250 bilhões.
Banco explica provisões e inadimplência
Em mensagem aos acionistas, o Bradesco explica: “O nosso nível de provisionamento, que é baseado em modelos estatísticos que capturam informações históricas e prospectivas, e na experiência da Administração, continua refletindo nossa expectativa de perdas em diferentes cenários econômicos (positivo, esperado e adverso)”. Diante da crise do Covid-19 e do tamanho do impacto na economia brasileira e (nos resultados), o banco atualizou as perspectivas econômicas.
“As reduções do lucro líquido nos períodos estão relacionadas, principalmente, às maiores despesas com PDD, que foram impactadas, neste trimestre, pelo reforço de provisão, no valor de R$ 2,7 bilhões, em consequência do cenário econômico adverso que poderá resultar no aumento do nível de inadimplência, como reflexo da falência de empresas, aumento no índice de desemprego, bem como a degradação do valor das garantias. Este valor somado a parcela pré-existente de R$ 2,4 bilhões, totaliza uma provisão complementar para cenário econômico adverso de R$ 5,1 bilhões”.
As operações da carteira expandida somavam R$ 655 bilhões em março, com aumento de 5,1% no trimestre e a inadimplência geral saltou de 3,3% em dezembro para 4,2% em 31 de março. As pessoas jurídicas lideravam os créditos, com 63,5% de participação e saldo de R$ 415,8 bilhões, um aumento de 6.6% no trimestre. No período, as grandes empresas, que oferecem mais garantias e operam linhas em dólar (cujo passivo aumentou com a alta de mais de 25% no câmbio), lideraram 45,3% das operações, com expansão de 7,6% para R$ 296,7 bilhões. A inadimplência no segmento saltou 50%, de 0,8% em dezembro para 1,2% em março.
O maior salto nos atrasos foi na carteira de micros, pequenas e médias empresas (R$ 119,1 bilhões, ou 18,1% do total, com aumento de 4,4% no trimestre). O índice de operações com mais de 90 dias de atraso tinha descido a 3,7% em setembro de 2019, subiu para 4,2% em dezembro e a 4,5% em março.
No caso das pessoas físicas, que representam 16,8% dos empréstimos (R$ 239,2 bilhões, apenas + 2,6% no período), as operações de crédito consignado, com predomínio dos aposentados do INSS, lideram a carteira (10%), seguido do crédito imobiliário, com 7% e o cartão de crédito, com 6%), as operações com mais de 90 dias de atraso saltaram de 4,4% em dezembro para 4,8% em março.
Agravamento com Covid
No relatório, o Bradesco chama a atenção para o fato de que “a partir da segunda quinzena de março, o agravamento da crise do Covid-19 colocou pressão adicional sobre os índices de inadimplência e entendemos que essa situação deverá se agravar para o sistema financeiro em geral nos trimestres subsequentes”.
De fato, as operações em atraso na faixa de 15 a 90 dias (a partir de quando os bancos têm de se preparar para fazer provisões de capital) evoluíram fortemente. De acordo com as explicações do Relatório de Análise Financeira, que acompanha o balanço, as operações totais em atraso saltaram de 3,5% em setembro para 3,6% em dezembro e 4,2% em março.
Nas Pessoas físicas a escalada foi de 4,8% em setembro e dezembro para 5,6%. Nas grandes empresas o salto foi de 1,1% em setembro, desceu para 0,7% em dezembro e voltou a subir para 1,1% em março.
Mas nada se comparou à deterioração da situação das PMES: o índice vinha em declínio, com 4,5% em março de 2019, 4,0% em julho, até o mínimo de 3,5% em setembro. Em dezembro a taxa de atraso aumentou para 4,2% e agora bateu em 48%.
Templo é dinheiro e dá votos
Inacreditável essa interferência do presidente Jair Bolsonaro junto à Receita Federal do Brasil para tentar aliviar a multa de R$ 144 milhões à Igreja Internacional da Graça de Deus, do pastor R.R. Soares, aquele que aluga horários na Band e na Rede TV para fazer suas para pregações diárias. Os débitos já estão incluídos na Dívida Ativa da União. R.R. Soares, que é primo de Edir Macedo, fundador da IURD e dono da Rede Record, teve recursos negados no Carf (o tribunal de recursos da Receita Federal), onde estariam em litígio quase R$ 600 milhões em débitos das igrejas.
Além do empenho para emplacar o Diretor-Geral da Polícia Federal (para saber em primeira mão ações contra amigos parentes e adversários políticos, intenção barrada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre Moraes, Bolsonaro há muito corteja as igrejas evangélicas, sabidamente fortes e coesos currais eleitorais em apoio à sua eleição e dos filhos.
Esta semana, ele recebeu o filho do pastor da IIRD, o deputado federal Davi Soares (DEM-SP), supostamente para esclarecer os pleitos da igreja. Quando, no ano passado, o então Secretário da Receita, Marcos Cintra Cavalcanti, fazendo eco a uma intenção do ministro da Economia, Paulo Guedes, de simplificar o emaranhado da tributação no país, com um imposto sobre meios de pagamento, que abarcaria até a movimentação arrecadada pelas igrejas, Bolsonaro cedeu à pressão de Macedo e demais pastores e quis reafirmar a isenção tributária das igrejas, que não estão imunes a prestar contas de suas transações.
Com a palavra Paulo Guedes e o STF.